Filho cresceu sem pai com 'mãe destruída', diz viúva de Anderson Gomes

No depoimento que Ágatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, assassinado junto com Marielle Franco, prestou no júri dos réus confessos do crime, o MP (Ministério Público) exibiu uma imagem que exemplificava o maior sonho dele.

Era o vídeo que Ágatha gravou com um celular para mostrar a reação dele ao descobrir que ela estava grávida. "Não lembro de outro dia que tenha visto o Anderson assim, tão feliz", disse a viúva, muito emocionada.

O maior sonho de Anderson era ser pai. Em 2016, o casal teve o pequeno Arthur, portador de uma síndrome associada à onfalocete, uma doença de má formação do intestino. A gravidez inteira foi de risco, mas Anderson se mostrava esperançoso de ver o filho bem.

"Eu tive meu momento de ficar chorando e o Arthur perto de mim só. Ele perdeu o convívio com os familiares do Anderson. Perdeu a pessoa que dizia que tudo ia dar certo, a pessoa que queria ser pai. Era a pessoa que falava que estava orgulhoso do filho", afirmou a viúva.

Na manhã do dia que foi assassinado, Anderson tinha feito a última etapa de um processo seletivo para trabalhar como mecânico de aeronáutica em uma grande companhia aérea.

Enquanto não conseguia esse emprego, trabalhava como motorista, do PSOL, da Marielle e de aplicativo, para complementar a renda de casa.

"A gente dividia tudo mesmo, não só o financeiro, mas as obrigações", afirmou. Sem o marido, Ágatha ficou sobrecarregada para cuidar do filho, que necessita de cuidados especiais.

"O Arthur estava vivendo com uma mãe que estava destruída, ele não andava, não falava. Ele tem um atraso de desenvolvimento de modo geral. Mas o Anderson não teve a oportunidade de estar com o Arthur num momento de pai e filho mais tranquilo."

No dia a dia, a viúva cita que sente a falta de Anderson descobrindo as evoluções do filho: "A primeira vez que o Arthur andou, a primeira vez que falou mamãe, a primeira vez que foi para a escola nova, que fez um coleguinha. Sempre vai ter uma primeira vez. Sempre vai ter."

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