Caso Anic: Da cadeia, assassino confesso orientou filha a esconder prova

O técnico de informática Lourival Correa Netto Fadiga, assassino confesso do assassinato da advogada Anic de Almeida Peixoto Herdy, 55, orientou a própria filha a esconder uma possível evidência do crime, quando já estava preso no sistema penitenciário do Rio de Janeiro.

O que aconteceu

Lourival orientou filha a esconder um rastreador que estava instalado no carro usado por ele para pegar Anic. Ele está preso pelo crime desde 19 de março, no entanto, em 27 de março ele trocou mensagens com Maria Luiza Vieira Fadiga. A informação é da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Técnico estava com medo de que o rastreador o implicasse no crime — na época, ele ainda não havia confessado. Na mensagem com a filha, o técnico a orientou a avisar ao advogado sobre o rastreador, mas com o alerta de que a peça "pode se voltar contra mim".

O réu voltou a trocar mensagens com a filha em 28 de março e os dois falaram sobre pendências financeiras da família. Maria Luíza e seu irmão, Henrique Vieira Fadiga, chegaram a ser presos no âmbito das investigações em abril, mas foram soltos em outubro.

Rastreadores não ajudaram no inquérito da PCRJ para a elucidação do crime. Conforme a polícia, o histórico do aparelho não possuía os dados relativos ao trajeto feito pelo técnico naquele dia.

A Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro informou que não teve acesso à denúncia. "A secretaria vai abrir uma investigação preliminar sobre o relato".

Réu confesso

Anic Peixoto Herdy foi morta por estrangulamento causado por uma abraçadeira, também conhecida como enforca-gato. Ela sofreu asfixia e depois foi enterrada. O corpo dela foi encontrado concretado no muro de uma obra em Teresópolis, no Rio, em setembro. A polícia foi levada até o local por Lourival Fatica, assassino confesso.

Em seu primeiro depoimento, Lourival alegou à polícia que matou Anic com um soco no pescoço. Ele diz que o soco causou um sangramento intenso e que usou o enforca-gato, que estava em uma caixa de ferramentas no carro, para estancar o sangue.

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A defesa de Lourival Fatica diz que ele reafirmou o uso da abraçadeira durante a reprodução simulada da morte de Anic. "O encontro de sangue no lençol com a marca do hotel arrecadado no local da ocultação do corpo confirma integralmente a versão do acusado quanto ao modo de execução do crime de homicídio", afirmou a advogada Flávia Fróes em nota.

Relembre o caso

Anic de Almeida Peixoto Herdy, 55, desapareceu em 29 de fevereiro
Anic de Almeida Peixoto Herdy, 55, desapareceu em 29 de fevereiro Imagem: Reprodução/TV Globo

Anic era casada com o professor Benjamin Cordeiro Herdy, 78, há 20 anos. Ele é dono de uma fortuna herdada do pai, que fundou o complexo educacional que deu origem à universidade Unigranrio, no Rio de Janeiro.

Lourival era funcionário do marido de Anic e se passava por policial federal. Ele se aproximou da família há três anos e ganhou a confiança de todos, principalmente de Benjamin.

Réu diz que matou e escondeu o corpo de Anic no mesmo dia, em 29 de fevereiro. Imagens mostram Anic sozinha em um shopping de Petrópolis horas antes do crime. Ela deixou o local para se encontrar com Lourival em um motel, onde foi morta com um soco na traqueia. Segundo a advogada Flávia Froes, que defende Lourival, ele enrolou o corpo em um lençol e o carregou até o carro.

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Suspeito diz que morte foi planejada e encomendada por marido. Lourival diz que ele e Benjamin Cordeiro Herdy forjaram um sequestro para encobrir o homicídio. "Era um pano de fundo para enganar a todos, inclusive a própria filha [de Anic e Benjamin, que relatou o sumiço], mas não foi o plano perfeito porque ela desconfiou e gravou uma conversa entre Lorival e o pai", afirmou Flávia Froes à Record.

A motivação do crime seria uma questão familiar, segundo Flávia, que não quis detalhar o assunto. A defesa diz que vai apresentar provas à polícia.

A defesa de Benjamin Cordeiro Herdy diz que a confissão de Lourival é "um ato de desespero e crueldade" e que ele tenta desestabilizar Benjamin e a filha Lara, que serão ouvidos pela polícia em breve. "Lamentavelmente, essa empreitada conta com o apoio da defesa, que deveria se limitar ao aspecto técnico. Talvez acreditando que o exercício do inafastável direito de defesa lhe confere imunidade absoluta, Lourival, por intermédio dos seus procuradores, há muito pratica reiterados abusos e excessos, incluindo-se, a toda evidência, a falsa imputação pública de crime a Benjamim", afirmou o advogado João Vitor Ramos em nota.

Lourival não conseguiu um acordo de delação premiada, mas decidiu fazer a confissão para beneficiar os filhos Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga, que também foram presos por envolvimento no crime, e Rebeca Azevedo Santos, apontada como sua ex-namorada. "Essa colaboração se deve ao fato da verdade ser a única forma de libertar os três inocentes no processo, os dois filhos e Rebeca, que estão enredados inocentemente em um crime de sequestro", afirmou Flávia.

Como está a investigação da polícia

A polícia acredita que Lourival armou um sequestro para pegar dinheiro da família. Segundo a investigação, ele recebeu todo o dinheiro e chegou a comprar um carro avaliado em R$ 500 mil no nome da filha, Maria Luiza Vieira Fadiga, uma compra rastreada pela polícia.

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Após a prisão, ele afirmou que a morte e o falso sequestro foram armados por Benjamin. A polícia encontrou no celular de Benjamin mensagens de uma pessoa se passando por Anic. No texto, o criminoso dizia que não havia nenhum sequestro e que ela estaria fugindo com o amante.

Para realizar o crime, Lourival teria contado com a ajuda de filhos e da companheira, segundo as investigações. Dezenas de ligações entre os suspeitos foram identificadas no dia do crime. Todos foram denunciados pelo Ministério Público: os filhos Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga, além da companheira Rebecca Azevedo dos Santos e do próprio Lourival.

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