Caso Gritzbach: mandante e olheiro do PCC estão sob proteção do CV no Rio

Emilio Carlos Gongorra Castilho, conhecido como Cigarreiro, apontado pela polícia como um dos mandantes do assassinato de Vinicius Gritzbach, e Kauê do Amaral Coelho, olheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital), estão escondidos no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, sob proteção do Comando Vermelho.

Informação consta no relatório da Polícia Civil de São Paulo, que concluiu na última sexta-feira (14) a investigação sobre a morte de Gritzbach, delator do PCC, executado a tiros de fuzil no aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro de 2024.

O que aconteceu

Facção criminosa garante toda estrutura aos dois foragidos. De acordo com a polícia, Cigarreiro mantém uma relação próxima com Doca, chefe do tráfico no Complexo da Penha, o que fortalece sua posição dentro do Comando Vermelho.

Reforma em esconderijo. Tiago da Silva Ramos, conhecido como Bob, é o engenheiro responsável por realizar uma reforma no esconderijo dos foragidos, com o objetivo de garantir a infraestrutura criminosa do grupo. Ele foi até o Complexo da Penha no início de janeiro deste ano. Bob é um engenheiro de confiança de Cigarreiro, já tendo realizado outras construções para o criminoso. Ele também era o responsável por uma obra onde Gritzbach foi mantido em cativeiro e passou pelo "tribunal do crime" em janeiro de 2022.

Barricadas de concreto. Segundo o relatório da Polícia Civil, para que as autoridades consigam chegar até os foragidos é necessário ultrapassar quatro barricadas de concreto instaladas dentro da comunidade na capital fluminense, o que reforça a proteção concedida pelo CV aos dois foragidos.

Cigarreiro e Kauê trocaram de esconderijo. Com o avanço das investigações, a polícia acredita que a dupla trocou de esconderijo. Apesar disso, as testemunhas confirmaram que o novo local está na mesma área da casa anterior, em uma região conhecida como "escadão". Cigarreiro mantém uma rede de colaboradores no Rio, todos envolvidos em atividades criminosas. A distribuição e logística do tráfico de drogas são operadas por dois homens, ambos subordinados ao mandante da morte de Gritzbach.

Cigarreiro costumava andar escoltado por PMs em São Paulo. Coluna de Josmar Jozino revelou que o mandante da morte de Vinícius Gritzbach frequentemente aparecia com uma escolta, quase sempre de policiais.

Três envolvidos no crime estão foragidos

Emílio Gongorra, o "Cigarreiro", Diego Amaral, o "Didi", considerados os mandantes do assassinato do delator do PCC, e Kauê Amaral, olheiro da facção criminosa
Emílio Gongorra, o "Cigarreiro", Diego Amaral, o "Didi", considerados os mandantes do assassinato do delator do PCC, e Kauê Amaral, olheiro da facção criminosa Imagem: Reprodução/Polícia Civil de São Paulo
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Operação para prender dupla precisaria de quase mil policiais. Apesar de saber que o olheiro do PCC e um dos mandantes do crime estão no Complexo da Penha, a operação para entrar na comunidade e prender foragidos precisaria de 600 a 900 policiais, segundo afirmou o promotor de Justiça do MPSP (Ministério Público de São Paulo) Rodrigo Merli, em coletiva de imprensa na segunda-feira (17).

Merli citou uma tentativa de prisão no final de 2024 por parte da Polícia Civil de São Paulo, sem sucesso. Ele destacou que além da quantidade de agentes, há também dificuldade por causa da chamada "ADPF das Favelas", ação que questiona a violência policial nas operações em comunidades do Rio.

Paradeiro de Diego Amaral, conhecido como Didi, também mandante do crime, é desconhecido. Ele é primo de Kauê e suspeito de integrar o PCC. Didi tem antecedentes criminais pela prática de estelionato e adulteração de sinal identificador de veículo.

MPSP pediu ao governo paulista que seja oferecida recompensa por informações de todos os foragidos. Rodrigo Merli lembrou que a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo apenas ofereceu recompensa de R$ 50 mil por Kauê Amaral. No entendimento da Promotoria, a SSP também deveria oferecer R$ 50 mil para quem tiver detalhes que possam levar as autoridades ao paradeiro de Emílio Gongorra e mais R$ 50 mil para quem oferecer pistas que resulte na prisão de Diego Amaral, o Didi, o segundo mandante do crime.

O meu apelo é para que se possível, com todo respeito ao secretário [Guilherme Derrite] que seja avaliado pela pasta a extensão deste valor para os outros foragidos, o Emílio e o Diego, vulgo Didi. Para que nós possamos quem sabe chegar a efetiva prisão desses três.
Rodrigo Merli, promotor do MPSP

Procurada pelo UOL, a pasta informou que não foi notificada oficialmente pelo Ministério Público de São Paulo.

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Gritzbach morreu por vingança do PCC e interesse econômico de PMs

Indiciados e denunciados por participação direta no crime
Indiciados e denunciados por participação direta no crime Imagem: Reprodução

O Ministério Público de São Paulo denunciou à Justiça os seis acusados de participarem do assassinato de Gritzbach. A pena dos envolvidos pode chegar a 100 anos de prisão. Três PMs, que já estão presos, e outras três pessoas, foragidas, são acusadas pelos homicídios de Vinicius Gritzbach. Os seis indiciados também foram denunciados pelo MP pelo assassinato do motorista de aplicativo Celso Araújo, que estava no aeroporto no dia do crime, e duas tentativas de homicídio contra duas pessoas feridas por estilhaços dos disparos.

Foram indiciados os dois mandantes, o olheiro, os executores e o motorista do veículo. São eles: Emílio Gongorra, o Cigarreiro, e Diego Amaral, o Didi, apontados pela polícia como os mandantes do crime. Os executores são Dênis Antônio Martins, cabo da PM e Ruan Rodrigues, soldado da PM. Fernando Genauro da Silva, tenente da Polícia Militar foi apontado como o motorista do carro que ajudou os executores a fugir e Kauê Amaral, o olheiro do PCC que estava orientou os executores no dia do crime.

MPSP trata a denúncia como sendo a primeira e cita que investigação continua. Para a Promotoria, o caso não está completamente encerrado, mas está parcialmente concluído. "O motivo do crime, para nós, ficou claro, é represália e interesse econômico. Represália por parte do núcleo PCC e interesse econômico por parte do núcleo de policiais militares", afirmou o promotor Rodrigo Merli. A motivação teria sido uma possível vingança pela morte do criminoso Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, ocorrida em dezembro de 2021.

PMs aceitaram "promessa de recompensa para a execução e participação no crime". Ainda conforme a denúncia do MPSP, eles agiram "como verdadeiros mercenários e matadores de aluguel".

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O órgão também pediu a conversão das prisões temporárias em preventivas. Os seis envolvidos foram denunciados por quatro qualificadoras agravantes: motivo torpe, meio cruel, emboscada e uso de arma de fogo de uso restrito. A Justiça ainda não se manifestou a respeito.

MP defende que pena seja proporcional ao dano causado para a sociedade. "Considerando que nós temos quatro qualificadoras agregadas ao tipo principal, duas vítimas fatais, duas vítimas sobreviventes, a pena pode chegar aos 100 anos de reclusão", explicou a promotora do Tribunal do Júri Vania Caceres Stefanoni. "Nós estamos falando de dois homicídios consumados, dois tentados no maior aeroporto da América Latina. Isso chocou tanto a sociedade em São Paulo quanto no país, quanto trouxe reflexos internacionais".

O UOL não conseguiu contato com a defesa dos envolvidos. O espaço fica aberto para manifestações.

O crime

Gritzbach foi morto em uma emboscada no aeroporto internacional de São Paulo no dia 8 de novembro de 2024. Dois homens encapuzados desceram de um Volkswagen Gol Preto e abriram fogo contra o homem, enquanto outro criminoso aguardava no volante para a fuga. Gritzbach respondia por homicídio e lavagem de dinheiro e havia colaborado em uma delação premiada pouco antes do crime. No ataque ao delator, uma outra pessoa morreu e duas ficaram feridas.

Gritzbach era corretor de imóveis. Segundo a polícia, o delator tinha uma família com poder aquisitivo satisfatório e era considerado "nerd" até os 18 anos. Após ser demitido da empresa em que trabalhava, no ano de 2018, ele conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta.

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Morte de Cara Preta. O empresário teria mandado matar Cara Preta porque recebeu da vítima R$ 40 milhões para investir em criptomoedas, desviou o dinheiro e o golpe foi descoberto. Quando se viu cobrado pelo traficante, decidiu mandar matá-lo. O empresário teria contratado Noé Alves Schaum para matar Cara Preta. Gritzbach sempre negou envolvimento no crime.

Vingança por morte de Cara Preta, ligado à cúpula do PCC. A acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, foi o que motivou a primeira sentença de morte contra Gritzbach, decretada pelo PCC. O crime foi em 27 de dezembro de 2021. Além de Cara Preta, o atirador matou Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, segurança do traficante. Conforme as investigações, Schaum foi capturado pelo PCC em janeiro de 2022, julgado pelo "tribunal do crime" e esquartejado.

Narcotraficante Emílio Carlos Gongorra Castilho, o Cigarreiro, em foto de arquivo da Polícia Civil
Narcotraficante Emílio Carlos Gongorra Castilho, o Cigarreiro, em foto de arquivo da Polícia Civil Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Cigarreiro, um velho conhecido da polícia paulista, mandou matar Gritzbach para vingar morte de Cara Preta. Cigarreiro é um traficante com ligações com o crime organizado do Rio de Janeiro e de São Paulo, segundo a polícia.

O suposto mandante intermediava negócios entre o CV e o PCC. Entre 2008 e 2010, quando o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho mantinham relação de negócios — que virou guerra em 2017 —, Cigarreiro era o homem que o PCC mandava ao Rio para estabelecer negócios entre as facções criminosas. A investigação da época mostrou os morros aonde ele ia, e tabelas de drogas e armas negociadas entre as duas facções por intermédio dele.

Gritzbach teria confidenciado aos amigos mais íntimos que Cigarreiro tinha ligações com o CV e que temia por sua integridade física. Em janeiro de 2022, ele sequestrou Gritzbach e o levou para um "tribunal do crime" do PCC no bairro do Tatuapé, zona leste paulistana.

1 comentário

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Marco Martins

Na verdade estão sob proteção do caquético ministro lewandowisk que dificulta o máximo ações da polícia nos morros.  Ele agora está mais preocupado com o projeto pena justa, que ele e o Lula estão tentando aprovar.  Um projeto pra melhorar as condições de vida dos criminosos!!!

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