Confundido com ladrão: 'Tive medo de morrer, tomei um tiro e perdi um rim'

Um mês após ser vítima de um tiro e uma perseguição, o universitário Igor Melo de Carvalho, 32, se recupera da perda do rim e dos danos psicológicos, que segundo ele, são os piores. Além de dar continuidade aos estudos, aos trabalhos e cuidar da família, tem mais um objetivo: lutar por justiça.

"Tentaram manchar a minha imagem"

No último domingo (23), Igor retornou ao antigo trabalho para rever os amigos. Assim que chegou, foi recebido com homenagens, samba e se chorou ao ver a cena.

"Foi emocionante receber aquele carinho, ser aplaudido, ver a comoção das pessoas. Tentaram transformar a minha imagem em ladrão de telefone, mas não conseguiram. Se eu tivesse morrido, até provarem que eu era inocente, não teria mais nem meus ossos", disse o estudante de publicidade e jornalismo, que também trabalha como inspetor na faculdade.

O crime aconteceu na madrugada de 24 de fevereiro. Após passar o dia inteiro trabalhando como garçom no espaço de samba Batuq, na Penha, Zona Norte do Rio, ele saiu por volta de 1h da madrugada e pegou uma moto por aplicativo. No meio do trajeto, os dois foram perseguidos por um veículo que, logo em seguida, começou a fazer disparos. Um deles, atingiu Igor.

Tive medo de morrer, fui perseguido. Tomei um tiro, pulei de um viaduto com o motociclista, corri uns 350 metros e tive que invadir duas casas para fugir daquele homem. Só então que consegui pedir ajuda. Perdi um rim, o fígado e o estômago foram atingidos, tive um sangramento muito forte, mas até que a alta foi bem rápida, mas a recuperação é que tem sido lenta. Minha cabeça não está boa, a questão psicológica é que está pegando. Tenho passado por maus momentos e estou fazendo acompanhamento psicológico, porque tentaram manchar minha imagem, minha história como pessoa, como pai, filho e isso é pior do que o tiro.
Igor Melo de Carvalho

Foto do dia da homenagem que Igor recebeu no bar
Foto do dia da homenagem que Igor recebeu no bar Imagem: Arquivo Pessoal

Igor e o piloto de aplicativo foram acusados de roubar o celular de um casal na Penha. O atirador é o PM da reserva Carlos Alberto de Jesus. Após ser socorrido, Igor descobriu que estava preso sob custódia e o motociclista chegou a ser preso injustamente por dois dias.

O reconhecimento foi feito por fotografias. Nove fotos, de nove homens com características físicas semelhantes, foram colocadas em um papel para que a mulher do PM reconhecesse quem roubou seu celular. Ela reconheceu Thiago como o piloto e Igor como quem puxou seu telefone.

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Ao UOL, a Polícia Civil disse que a prisão aconteceu por causa dos depoimentos do autor e de sua mulher. A investigação foi concluída, provou a inocência de Igor e do motociclista, e o inquérito foi encaminhado ao Ministério Público.

"A mulher afirmava que os dois eram assaltantes e que tinham subtraído seu telefone celular. A partir do relato dela, seu marido foi atrás dos dois e atirou. Imagens analisadas mostram que eles precisaram correr para escapar da situação. Ao tomar ciência dos fatos, a 22ª DP iniciou imediatamente a investigação. Todos os envolvidos voltaram a prestar depoimento e observaram-se inconsistências nos relatos do casal. A investigação revelou que ela, de fato, havia sido roubada por dois homens, que teriam características semelhantes às das vítimas. A mulher, contudo, passou informações erradas, produzindo efeito em processo penal. Por esse motivo, foi indiciada por falso testemunho majorado. Já o homem foi indiciado por duas tentativas de homicídio. A autoridade policial representou por sua prisão", diz a nota enviada à reportagem.

Luta por Justiça

Mesmo com limitações físicas, Igor está de volta para a rotina e vai começar em um novo trabalho nos próximos dias. Apaixonado por futebol, ele foi contratado por uma rádio para cobrir os clubes cariocas e viver do que sempre sonhou: jornalismo esportivo. Durante o tempo que ficou sem trabalhar, recebeu ajuda através de uma vaquinha para seu pós-operatório.

Com medo de morrer, ele conta que o tempo inteiro pensava na esposa, no filho de dois anos e em sua mãe, que já perdeu um filho e não aguentaria perder outro. Em busca de Justiça, Igor pretende processar o atirador e o estado, já que ele é um PM reformado.

Tive sequela física, psicológica e como perdi um órgão e perfurei outros, para conseguir evacuar, arrotar, é uma dificuldade grande. Ainda não estou conseguindo me locomover direito, sinto dores na cirurgia e fico mal em saber que esse homem está solto. É um alívio saber que vou ver meu filho crescer, mas não vou perdoar nunca o que fizeram comigo. Vou lutar por justiça até o último dia da minha vida.

9 comentários

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Fernanda Russo Filomeno

Ela que tinha que ser presa, que absurdo essa história! 

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Edson Luiz Joia da Mota

Por isso que justiça com as próprias mãos é algo errado. Facilmente ela se torna uma "injustiça".

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Otacilio Ferreira Lage

O UOL pelo menos tem um link para comunicar erro, mas a maioria dos sites não tem. Em, repórteres de uma rádio insistem em repetir PONTE SOBRE O RIO quando abordam notícias de trânsito na cidade ou de tráfego nas estradas. Haja redundância! 

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