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MP Eleitoral apura vídeos de Arthur do Val e ex-chefe da GCM na Cracolândia

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

16/09/2020 18h29Atualizada em 21/09/2020 14h31

O Ministério Público Eleitoral em São Paulo instaurou uma notícia de fato (investigação preliminar) contra os pré-candidatos Arthur do Val, o "Mamãe Falei", e comandante Braga, ambos do Patriota, para apurar se vídeos gravados por ambos durante ações realizadas pela Guarda Civil Metropolitana na Cracolândia —região de venda e consumo de drogas no centro de São Paulo— violam a lei eleitoral. Do Val concorre à prefeitura e Braga à Câmara de Vereadores na capital paulista.

A investigação foi instaurada de ofício pelo promotor de Justiça Fábio Bechara, da 1ª zona eleitoral, com base em denúncias recebidas pelo MP, que iniciou a coleta de informações.

Arthur do Val é ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre). Ele se tornou conhecido a partir de 2015 com os vídeos publicados em seu canal do YouTube e foi eleito deputado estadual em 2018 pelo DEM. Expulso do partido de Rodrigo Maia, abrigou-se no Patriota, assim como parte da cúpula do MBL em São Paulo.

Carlos Alexandre Braga é inspetor supervisor da GCM (Guarda Civil Metropolitana), licenciado do cargo desde 15 de agosto para disputar as eleições. Ele também já foi comandante da GCM.

Vídeos criticam ações da prefeitura e de padre

Do Val e Braga publicaram dois vídeos, um em 4 de setembro e outro hoje, em suas redes sociais. Segundo eles, a prefeitura não deve fazer ações sociais na região, pois isso atrairia o tráfico de drogas.

Os pré-candidatos Arthur do Val (esq.) e comandante Braga (dir.), na Cracolândia - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Os pré-candidatos Arthur do Val (esq.) e comandante Braga (dir.), na Cracolândia
Imagem: Reprodução/Facebook

Hoje, Do Val criticou novamente a prefeitura pela ação social na região e acusa o padre Júlio Lancelotti: "Isso aqui, ó [aponta para os banheiros públicos instalados], essas palhaçadas, padre Júlio Lancelotti, esses caras, eles fomentam o tráfico".

No vídeo publicado hoje, ambos se posicionam atrás das tropas da GCM, gravando a ação policial em posição privilegiada, na mesma perspectiva dos guardas. No vídeo, eles não usam nenhum material de proteção pessoal, como capacete ou escudo.

Padre diz estar sendo ameaçado

O padre Júlio, que afirma estar sendo ameaçado em virtude de sua atuação em defesa dos moradores de rua, participou hoje da cerimônia em que o prefeito Bruno Covas (candidato a reeleição) mudou o nome do Hospital Bela Vista para Hospital Bela Vista Santa Dulce dos Pobres. A unidade de saúde será a referência para atendimento de moradores de rua. Em entrevista, Covas chamou o trabalho do padre Júlio de "incômodo necessário".

Desde a semana passada, o padre Júlio vem apontando o uso eleitoral da região por Do Val e Braga. Segundo ele, as gravações feitas pelos políticos começam de manhã e continuam pela região ao longo do dia para "provocar situação de confronto e captar as imagens".

O padre Júlio Lancelotti é coordenador da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo e diz estar sendo ameaçado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O padre Júlio Lancelotti é coordenador da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo
Imagem: Arquivo pessoal

Desde o dia 4, houve três confrontos entre frequentadores da Cracolândia, a GCM e a Polícia Militar. Segundo a prefeitura, a intervenção do último dia 10, por exemplo, ocorreu após ações de zeladoria realizadas pela prefeitura.

O que dizem os investigados?

Para o pré-candidato Arthur do Val, a investigação iniciada pelo MP Eleitoral "não tem materialidade".

Segundo ele, as operações da GCM na Cracolândia "não tem data e hora para acontecer" e, nos últimos 35 dias, o "fluxo virou" (os usuários atacaram a polícia) 16 vezes.

"O início da confusão se deu por conta das pessoas da Cracolândia, não da polícia", afirmou o candidato.

O candidato afirmou que não conhecia as acusações contra o pré-candidato Comandante Braga, mas que é "a favor de que se investigue tudo que pareça suspeito".

A pré-campanha de Braga foi procurada e respondeu que não conhecia a acusação. Perguntas foram enviadas ao e-mail do candidato, mas não foram respondidas.

Questionada especificamente sobre o vídeo publicado hoje e se Braga comanda guardas em sua função atual, a prefeitura de São Paulo também ainda não se manifestou.

Outras denúncias contra Braga

Braga chegou a ocupar o cargo de comandante da GCM entre fevereiro de 2018 e março de 2019, quando pediu afastamento do cargo depois que se tornaram públicas uma ação penal por peculato e outra, cível, de improbidade administrativa, nas quais ele é réu na Justiça Federal de Assis. Na ação penal, Braga foi condenado neste ano em primeira instância. Ainda cabe recurso, então ele pode concorrer ao cargo.

Segundo a denúncia do MPF, os fatos ocorreram em 2007, em Paraguaçu Paulista. Braga presidia a Associação dos Guardas Municipais do Estado, que venceu uma licitação de R$ 222 mil para dar cursos para os guardas daquela cidade, mas os alunos assinavam lista de presença sem ter assistido qualquer aula. Ou seja, o que foi contratado não foi fornecido.

Por sua vez, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou ao UOL que uma sindicância administrativa contra Braga, aberta em virtude do processo federal, foi "sobrestada" (paralisada) "aguardando o trâmite do processo na Justiça Federal".

Antes de se licenciar do cargo, Braga exercia sua função de inspetor superintendente no Comando Operacional 4, da GCM, na zona oeste. O posto de inspetor superintendente é o mais alto da hierarquia da GCM, abaixo apenas do comandante.