Datafolha Rio: rejeição de Marcelo Crivella entre evangélicos supera apoio
A má avaliação da gestão do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) se reflete mesmo entre o eleitorado evangélico, segmento religioso no qual Crivella sempre lastreou suas votações. Contrariando a tendência histórica de seu desempenho eleitoral, o prefeito hoje tem uma rejeição maior do que suas intenções de voto neste grupo.
De acordo com a última pesquisa do pesquisa Datafolha —divulgada nesta quinta-feira (8)—, 41% dos evangélicos entrevistados não votariam em Crivella no primeiro turno em nenhuma hipótese. Já 28% dos eleitores que professam esse credo religioso declaram voto no prefeito, que é bispo licenciado da Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus).
A rejeição de Crivella entre os evangélicos é a maior entre todos os candidatos, segundo o levantamento —o índice está numericamente à frente de Eduardo Paes (DEM), que tem 39% das menções nesse segmento religioso. A diferença entre os dois candidatos fica dentro da margem de erro da pesquisa, que é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
Em 2016, cenário de Crivella cerca de um mês antes do primeiro turno era radicalmente diferente: segundo o Datafolha, o prefeito tinha 53% das intenções de voto entre evangélicos pentecostais e 35% entre não pentecostais. Sua rejeição entre esses dois grupos religiosos era, respectivamente, de 7% e 11%.
A deterioração de sua base de apoio evangélica faz com que Crivella já se veja pressionado por adversários. O prefeito ainda lidera no segmento, mas vê Eduardo Paes marcar 19% das intenções de voto entre os fiéis, enquanto Martha Rocha (PDT) tem 10%.
Crivella muda estratégia e reforça discurso religioso
Crivella tem mostrado incômodo com a disputa inédita pelo quinhão evangélico em que sempre foi hegemônico. Durante transmissão ao vivo nas redes sociais ao lado de Rogéria Bolsonaro (Republicanos-RJ), na última segunda-feira (5), o prefeito acusou o PT de ter lançado a deputada federal Benedita da Silva, que também é evangélica, para dividir esse eleitorado e prejudicá-lo.
"O PT está fechado com o Eduardo Paes, por isso colocaram a Benedita, que é evangélica, para tirar votos do Crivella", afirmou ele ao lado de Rogéria, primeira mulher do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e mãe de seus três filhos políticos.
Crivella já havia buscado desgastar Benedita junto ao eleitorado evangélico no debate da Band, em 2 de outubro. O prefeito escolheu confrontar a petista e enfatizou que ela também era uma "irmã".
Após uma áspera discussão sobre o enfrentamento da pandemia no Rio, Crivella afirmou em sua tréplica: "Eu lamento muito nossa candidata Benedita tenha esquecido os princípios bíblicos, do não mentirás".
"Temos de ter estado laico e não confundir um púlpito com palanque político", reagiu em seguida a petista ao acusá-lo de instalar um tomógrafo no terreno de uma igreja Universal na Rocinha.
A situação delicada na corrida eleitoral tem feito com que Crivella mude a estratégia que havia sustentado nas duas últimas eleições que disputou e volte a se associar constantemente ao discurso de sacerdote —a começar pelo nome de sua coligação "Com Deus, pela família e pelo Rio".
Nas redes sociais, tem constantemente postado versículos e mensagens bíblicas. Já nos discursos tem citado com maior frequência temas relacionados a valores cristãos e conservadores —que agradam a esse eleitorado. Na live com Rogéria, terminou conduzindo uma oração.
Em 2014, quando disputou o governo do estado, e em 2016, quando se elegeu prefeito, Crivella fez o movimento oposto: procurou se desvincular da imagem de pastor evangélico, que aumentava sua rejeição, e enfatizou outros pontos de sua biografia, como a formação em engenharia.
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