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Candidatos a prefeito de SP declaram perda patrimonial na carreira política

Candidatos a prefeito de São Paulo em primeiro debate na Band - Kelly Fuzaro/Band
Candidatos a prefeito de São Paulo em primeiro debate na Band Imagem: Kelly Fuzaro/Band

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

09/10/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Sete dos 14 candidatos declararam perda patrimonial nos últimos anos
  • Outros quatro candidatos declararam aumento de bens
  • Prática pode signficar má administração ou ocultação de bens, diz especialista

Pelo menos sete candidatos que concorrem à Prefeitura de São Paulo neste ano declararam à Justiça Eleitoral redução de patrimônio ao longo da carreira política. Outros quatro candidatos tiveram aumento patrimonial, um deles diz que seus bens não se alteraram e em outros dois casos não é possível fazer a comparação.

As informações foram coletadas pelo UOL no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que disponibiliza os dados a partir de 2006.

A maioria dos candidatos que relata perda patrimonial tem longa carreira na política. As razões podem ser diversas, explica Ian Angeli, advogado especializado em contas eleitorais.

"O patrimônio pode sofrer grandes alterações em curto espaço de tempo em razão de divórcio ou compra de uma casa ou carro para os filhos, mas sempre tem que ser facilmente explicável", diz.

Sem explicações "na ponta da língua", afirma, é possível "gerar suspeitas", como má administração das próprias finanças ou mesmo ocultação de patrimônio.

Declararam perda de bens os candidatos Celso Russomanno (Republicanos), Bruno Covas (PSDB), Márcio França (PSB), Arthur do Val (Patriota), Andrea Matarazzo (PSD), Jilmar Tatto (PT) e Antônio Carlos (PCO).

Veja o que aconteceu com as finanças desses candidatos e o que diz cada um:

Russomanno

Além de receber salário por seu programa televisivo, o candidato se manteve em cargo público nas últimas décadas, como deputado federal entre 1995 e 2011 e de 2015 até o presente.

Russomanno viu seu patrimônio declarado crescer até 2012. Desde então, a soma de seus bens começou a cair. Ele declarou R$ 825 mil em 2006, R$ 1,1 milhão em 2010 e R$ 2,3 milhões em 2012, mais do que o dobro declarado na campanha anterior.

Além de trocar uma lancha por outra mais cara, se desfazer de um Chevrolet Ômega e comprar quatro carros, como um Mercedes Benz ano 1999 (R$ 50 mil), a grande novidade em 2012 foi a participação que passou a ter no Bar e Restaurante do Alemão, em Brasília, por R$ 1,1 milhão, valor equivalente a todo seu patrimônio na eleição de 2010.

Em 2014, quando se elegeu deputado federal, sua prestação de contas caiu para R$ 1,7 milhão após reduzir para R$ 407 mil sua participação no restaurante. Seu patrimônio voltou a subir na campanha para prefeito em 2016 (R$ 2 milhões), muito em razão do aumento de R$ 90 mil para R$ 225 mil em sua cota na empresa SYS Equipamentos de Tecnologia.

Em 2018, a soma de seus bens voltou ao patamar de R$ 1,7 milhão. Embora passasse a ter participação de R$ 385 mil na CCLL Empreendimentos e Participações, Russomanno deixou a SYS e se desfez de outros bens, como uma casa em Brasília avaliada em R$ 140 mil.

Em 2020, seu patrimônio encolheu R$ 24 mil, uma diferença correspondente à venda e redução de participações em empresas e menos dinheiro guardando em conta corrente.

Também chama a atenção o fato de não ter havido correção no valor dos imóveis declarados ao longo das campanhas. Suas casas em Campos do Jordão, em Itanhaém e na Aclimação têm o mesmo valor informado na primeira campanha registrada no TSE, em 2006.

Ele informa que seu apartamento na Aclimação (zona sul), por exemplo, estaria avaliado hoje em R$ 62 mil. Um apartamento com 45 metros quadrados e um quarto no mesmo prédio é encontrado à venda por R$ 450 mil.

O advogado explica que a prática não é ilegal porque o TSE "não estipula uma forma de valorização e desvalorização dos bens". "Com isso, é natural que os imóveis e automóveis sejam lançados pelo valor de compra", diz Angeli.

É complicado chamar de ilegal, mas certamente é antiético, manipula o entendimento do eleitor e macula o princípio da transparência que rege as eleições.
Ian Angeli, advogado especializado em contas eleitorais

Bruno Covas

O atual prefeito ocupa cargos públicos há mais de uma década. Ele foi deputado estadual (2007-2015), secretário estadual de Meio Ambiente (2011-2014), deputado federal (2015-2017), vice-prefeito (2017-2018) e prefeito (atual).

A primeira perda financeira de Covas se deu na eleição para deputado federal de 2014. Ele viu seu patrimônio despencar quase pela metade, de R$ 218 mil, na campanha de 2010, para R$ 126 mil.

Se em 2010 seu principal bem era um "crédito decorrente de empréstimo" de R$ 135 mil, quatro anos depois, seu patrimônio mais valioso era um Volkswagen Jetta de R$ 86 mil.

Outra perda foi declarada em 2016, quando se elegeu vice-prefeito. Entre economias, cotas em empresa e dinheiro no banco, tinha R$ 58 mil.

Esse valor quase dobrou. Agora o prefeito diz ter R$ 104,9 mil em bens, o principal deles um Audi Q3 avaliado em R$ 83,5 mil.

Ao UOL, sua campanha enviou nota informando que "não é uma questão de perda patrimonial por má administração de finanças pessoais".

"A diferença nas declarações pelo prefeito, economista e advogado, se dá pelo divórcio ocorrido no final de 2014, com a divisão de patrimônio do casal e, portanto, apontando a perda de parte do patrimônio", diz.

Jilmar Tatto

O candidato do PT foi o que mais perdeu dinheiro entre sua primeira eleição com dados no site do TSE e a última prestação de contas. Tinha R$ 1,6 milhão em 2006, chegou a ter R$ 1,8 milhão na eleição de 2010, perdeu R$ 500 mil em 2018 (R$ 1,3 milhão) e agora declarou R$ 126 mil.

Em 2006, seus principais bens eram um apartamento de R$ 750 mil e uma casa financiada de R$ 600 mil, além de um Passat Turbo de R$ 83 mil. Na campanha de 2010, seus investimentos foram diversificados em vários depósitos bancários. Seu apartamento estava avaliado em R$ 850 mil e sua casa em R$ 544 mil.

Em 2018, ele já não declarou a posse de casa ou apartamento. Ele teria um veículo avaliado em R$ 75 mil e depósitos bancários de R$ 53,9 mil. A novidade era a participação em uma empresa de nome não informado no valor de R$ 1,245 milhão.

Com R$ 1,247 milhão a menos na declaração de 2020, seu bem mais valioso é um Honda Civic de R$ 75 mil. A quota empresarial de dois anos atrás não consta na atual prestação.

"Não é adequado adjetivar o que configuraria essa alteração drástica de patrimônio sem justificativas, mas um dos principais elementos para a investigação de crimes financeiros é 'seguir o dinheiro'", diz o advogado, que analisou a situação sem saber de quem era a conta.

Ao UOL, Tatto explicou por meio de nota que, "com a maioridade dos filhos, o casal decidiu antecipar a partilha dos bens". "A partir do ano passado eles passaram a declarar seus bens separadamente impactando no valor patrimonial de Jilmar", diz.

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Márcio França

O patrimônio de Márcio França (PSB) chegou a R$ 618 mil em 2014, quando era vice-governador. Uma casa (R$ 157 mil) e um apartamento (R$ 200 mil) eram seus bens mais valiosos.

Na declaração de 2018, informou R$ 190 mil a menos. Já não constava a casa nem um carro avaliado em R$ 40,5 mil na eleição anterior, além de declarar menos dinheiro investido.

Em 2020, seu patrimônio declarado não passou de R$ 272,8 mil. O apartamento de R$ 200 mil não está na declaração, que tem em cotas empresariais de R$ 100 mil e R$ 85 mil em espécie os valores mais altos declarados.

França está na carreira política desde 1989, quando se elegeu vereador de São Vicente pela primeira vez. Depois foi prefeito da cidade (1997-2005), deputado federal (2007-2011), secretário estadual de Esporte, Lazer e Turismo (2011-2015), acumulou os cargos de secretário estadual de Desenvolvimento e vice-governador (2015-2018) e depois governou São Paulo (2018).

Procurado, França informou que "as duas propriedades declaradas no Imposto Renda foram transferidas para meus dois filhos", ambas no litoral paulista, uma em São Vicente e outra em Praia Grande.

"Sempre foi uma vontade da minha esposa, Lúcia, que cada filho tivesse um imóvel nosso de herança. Caio fez da casa seu escritório político. A Helena foi morar com o filho no apartamento que demos", diz em nota.

Arthur do Val

Agora postulante a prefeito, o deputado estadual declarou R$ 141 mil a menos de patrimônio em 2020 em comparação com sua primeira eleição, há apenas dois anos.

Parte dessa diferença se deve ao valor declarado de um apartamento. Em 2018, o imóvel era avaliado em R$ 404,4 mil, mas na declaração deste ano custaria R$ 370 mil.

O restante se deve a diferenças em investimentos bancários. Se na campanha passada ele tinha R$ 116 mil em conta corrente, desta vez a soma não passa de R$ 8.635.

Procurado, o candidato não respondeu até a publicação desta reportagem.

Andrea Matarazzo

Outro que diz ter perdido bens nos últimos anos é Andrea Matarazzo (PSD). A maior parte de seu patrimônio (R$ 1,34 milhão) se deve a uma cota na Matarazzo Participações e Comércio.

O restante sempre variou entre aplicações, investimentos e participação de baixo valor em outras empresas. Se em 2012 esse montante investido era de R$ 172 mil, em 2006 caiu para R$ 56,7 mil.

Além de sua parte no grupo Matarazzo, ele declarou R$ 131 mil em uma conta bancária. Ele disse não ter carro nem casa própria.

Matarazzo também ocupou cargos públicos nas últimas décadas. Ele foi ministro de Comunicações (1999-2000), embaixador (2001-2002), subprefeito (2005-2009), secretário de subprefeituras (2006-2008), secretário estadual de Cultura (2010-2012) e vereador (2013-2017).

Procurado, informou por meio de nota que "todo o patrimônio do candidato está declarado conforme prevê a lei".

Antonio Carlos (PCO)

Outro candidato que viu seu patrimônio cair foi o candidato do PCO, Antônio Carlos, que nunca ocupou cargo público. Seu patrimônio cresceu de 2006 para 2018, quando chegou a R$ 60 mil, soma de um apartamento (R$ 50 mil) e um carro (R$ 10 mil).

Neste ano, apenas o móvel foi declarado, ainda avaliado em R$ 50 mil. Procurado, não respondeu a reportagem.

Quem declarou aumento de bens?

Apenas quatro candidatos declararam evolução patrimonial ao longo das eleições disputadas: Levy Fidelix (PRTB), Orlando Silva (PCdoB), Vera Lúcia (PSTU) e Marina Helou (Rede).

Levy Fidelix

Fidelix declarou R$ 107 mil em 2006 e em 2008, mas chega a 2020 com patrimônio de R$ 954,5 mil. Jornalista e publicitário, o candidato a prefeito ainda não venceu nenhuma eleição.

Em 2006, seu bem mais valioso era um apartamento de R$ 80 mil. A partir de 2012, seu patrimônio começou a crescer rapidamente. Com R$ 410,7 mil, tinha R$ 90 mil em depósitos bancários e R$ 220 mil em "crédito decorrente de empréstimo". Na eleição seguinte, tinha R$ 649,6 mil, incluindo depósitos de R$ 140 mil.

Em 2016, com patrimônio de R$ 771,9 mil, tinha crédito de empréstimo (R$ 338 mil) como seu principal bem. Em 2018, ele declarou redução patrimonial (R$ 555,5 mil).

Na eleição deste ano, ele quase dobrou o patrimônio: seus R$ 954,5 mil declarados incluem R$ 287 mil em poupança, R$ 14,4 mil em obras de arte e R$ 67,3 mil em participações societárias.

Ao UOL, informou pela campanha que seus bens evoluíram "por conta da série de atividades que ele tem como consultor, empresário de comércio exterior, por ter emprestado recursos a juros e inflação".

Orlando Silva

Quando se candidatou a vereador, em 2012, Orlando Silva declarou R$ 473 mil, R$ 370 mil dos quais referentes a um terreno de 100 mil metros quadrados em Campinas.

Seu patrimônio permaneceu no mesmo patamar até 2018 (R$ 479 mil), mas cresceu 54% na declaração deste ano ao atingir R$ 738,3 mil. Além do terreno e aplicações financeiras, declarou imóvel avaliado em R$ 129,9 mil.

Procurado, o candidato respondeu que o valor avaliado deste novo imóvel "é a parte quitada até dezembro de 2019" de uma residência própria, no bairro da Saúde, zona sul. "O valor total da residência é de R$ 660 mil, comprado por intermédio de financiamento bancário devidamente declarado no Imposto de Renda."

Marina Helou

Esta é a terceira eleição disputada por Marina Helou, um dos quatro milionários da campanha. Tinha R$ 1,4 milhão em 2016, R$ 1,5 milhão em 2018 e R$ 2,2 milhões neste ano, alta de 46% em dois anos.

Em 2018, seu maior bem era a posse de 50% de um apartamento em Moema (R$ 1,250 milhão), propriedade que ela mantém na declaração deste ano, quando informa outros bens.

Ela registra aplicações em previdência privada (R$ 78 mil), um automóvel Honda (R$ 78 mil) e mais 50% de outro apartamento (R$ 750 mil), agora na Vila Madalena.

Em nota diz que "transparência é um valor para mim, tudo o que eu tenho está em meu nome e foi declarado".

"Porém na declaração de patrimônio de candidatos não existe um espaço, como no Imposto de Renda, onde colocamos nossas dívidas. Esse salto tem relação com uma casa própria, que eu e meu marido compramos para nossa família, com um empréstimo que vamos pagar nos próximos 30 anos."

Vera Lúcia

Segundo candidato com menos bens declarados, Vera Lúcia afirmou não ter "nenhum bem a declarar" nas seis eleições que disputou desde 2006.

Apenas na campanha de 2018 informou ter comprado um terreno na cidade Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe, avaliado em R$ 20 mil. Esse terreno continua como seu único bem, segundo declaração de 2020.

"Vera não tem outro patrimônio além do declarado. Trabalhadora, operária, pobre e negra, vem dos debaixo", afirma a campanha em nota. "Não aumentou o patrimônio desde 2018 porque não está na política para fazer carreira, mas para defender uma Revolução Socialista."

Boulos, Sabará e Joice

A evolução patrimonial de dois candidatos não pôde ser comparada. Enquanto Joice Hasselmann (PSL) não declarou seus bens corretamente ao TSE em 2018, quando se elegeu deputada federal, Filipe Sabará (Novo) disputa sua primeira eleição.

De acordo com a declaração entregue ao TSE, Sabará é o candidato mais rico em 2020. É dono de R$ 5,1 milhões. A maior parte corresponde aos 72% de participação na empresa Fibella Comércio de Cosméticos.

Joice, por sua vez, declarou R$ 186,9 mil em patrimônio neste ano: um terreno em Curitiba (R$ 70 mil), R$ 115 mil "em depósitos em contas diversas" e cota empresarial de R$ 1,9 mil.

Sobre a declaração de bens não informada à Justiça Eleitoral em 2018, sua assessoria informou que "o partido, ao fazer o registro da candidatura em 2018, se equivocou e não lançou o patrimônio da candidata, que estava devidamente informado no seu Imposto de Renda".

Além da ausência do documento no sistema oficial, que é obrigatório, valores divergentes de patrimônio naquele ano, que indicam R$ 1,050 milhão em bens, podem render processo na Justiça, levando à perda de mandato e até detenção em caso de condenação, como revelou o UOL.

Já Guilherme Boulos (PSOL) diz não ter tido evolução patrimonial entre esta eleição e a de 2018, quando tentou se eleger presidente. Seu único bem seria um Chevrolet Celta 2010 avaliado em R$ 15.416.

Questionada, sua assessoria afirma que "Boulos mora no Campo Limpo, periferia da zona sul, desde 2014, em uma casa que está registrada em nome de seu pai, Marcos Boulos, na medida em que os rendimentos de Guilherme eram insuficientes para aprovar o financiamento".