Policiais e guardas LGBTI+ lançam candidaturas em partidos de esquerda
Na contramão da onda bolsonarista que impulsiona candidaturas de policiais, um grupo de profissionais de segurança pública quer tirar a homofobia dessas corporações do armário. Agentes LGBTI+ (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, intersexuais e demais identidades de gênero) buscaram partidos de esquerda para disputar a eleição.
O grupo propõe políticas de combate à homofobia, de valorização dos direitos humanos e se opõe ao governo Jair Bolsonaro (sem partido). Os candidatos integram a Renosp LGBTI+ (Rede Nacional de Operações de Segurança Pública LGBTI+), criada para unir policiais e guardas municipais que lutam contra a homofobia em suas corporações.
Hoje a rede conta com 122 membros e apoia quatro candidaturas a vereador: o guarda municipal Rodrigo Figueiredo (PDT) e o sargento da Marinha Michel Uchiha (PSB) tentam se eleger no Rio de Janeiro; o policial rodoviário federal Fabrício Rosa (PSOL) disputa o pleito em Goiânia; e o soldado da Polícia Militar Leandro Prior (PT) está à frente de uma candidatura coletiva em São Paulo.
Presidente da Renosp LGBTI+, o delegado da Polícia Civil do Distrito Federal Anderson Cavichioli destaca que a entidade não tem alinhamento partidário, mas vê um simbolismo importante na eleição dos companheiros.
"Eles trazem uma visão de segurança muito mais inclusiva e republicana. É inegável a importância dessas candidaturas. Além de ocuparem um espaço político que pessoas LGBTI nunca ocuparam no Brasil, passa a incluir na segurança pública esse olhar sobre a diversidade", afirma.
Cotidiano de preconceito
O UOL conversou com três dos quatro candidatos que integram a rede. Todos relatam um cotidiano de preconceito e perseguição em suas instituições.
Essa realidade levou à institucionalização da Renosp LGBTI+. Isso ocorreu em 2018, quando Leandro Prior foi alvo de ameaças de morte por colegas após ser fotografado beijando um amigo no metrô de SP.
O guarda municipal Rodrigo Figueiredo diz que sua decisão de se candidatar ocorreu, em parte, por já ter sofrido esse tipo de retaliação e não ter encontrado guarida na Câmara dos Vereadores do Rio.
"Fui perseguido dentro da Guarda Municipal, pedi ajuda na Câmara dos Vereadores e não tive retorno", diz. "A maioria dos meus problemas [relacionados à homofobia] foi com a alta gestão. Com os colegas sempre foram pontuais e acabaram resolvidos."
Em setembro, o UOL mostrou que Michel Uchiha também enfrenta um processo administrativo após ter questionado em suas redes sociais repasse de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), para a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Oposição a Bolsonaro
Outra pauta presente em todas as candidaturas dos profissionais de segurança que militam no movimento LGBTI+ é a forte oposição ao governo Bolsonaro e às políticas desenvolvidas por seus aliados.
Dois dos três candidatos —Prior e Fabrício— estão no rol de 579 servidores alvos de relatórios de inteligência elaborados pelo Ministério da Justiça contra policiais antifascistas, como foi revelado pelo UOL.
Prior encabeça a bancada antifascista —composta com dois amigos que também militam no movimento LGBTI+. Ele diz que o enfrentamento ao bolsonarismo é pauta central da campanha.
"A bandeira central mesmo é lutar contra todas as pautas bolsonaristas ou de aliados desse governo na cidade de São Paulo", resume.
Ao contrário dos colegas bolsonaristas que tentam um lugar na política, eles afirmam que sua base de apoio vem de fora das corporações, através da militância no movimento LGBTI+ e em outras pautas ligadas aos direitos humanos.
Reconciliação entre segurança e direitos humanos
Candidato em Goiânia, Fabrício Rosa destaca a necessidade de que haja resistência ao que considera um risco de cooptação das instituições de segurança pública pelo bolsonarismo. Segundo ele, a esquerda precisa de autocrítica sobre o fato de não ter lutado por reformas nas polícias durante os governos do PT.
"Sempre existiram policiais e militares que lutam pela legalidade democrática. A Comissão Nacional da Verdade dá conta de que mais de 6.500 foram perseguidos durante o regime ditatorial de 1964", lembra. "Por mais que pareça que a polícia é uma pedra monolítica, ela não é. Ainda que nesse momento nós sejamos minoria."
Em termos de propostas concretas para a segurança pública, eles defendem mudanças na formação dos agentes —no caso dos municípios, voltadas para as guardas municipais. Prior diz que é preciso investir na educação para direitos humanos nas corporações.
"Acredito que o problema é que nossos trabalhadores [da segurança pública] não se enxergam como garantidores e promotores dos direitos humanos. Nosso problema está diretamente ligado à educação desses servidores, que saem intoxicados e cheios de vícios, prontos para uma guerra. Precisamos de instrutores que não sejam bolsonaristas, terraplanistas e não vejam Paulo Freire como um petralha comunista", ironiza.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.