Ao lado de Crivella, bolsonaristas difundem ataques e fake news contra Paes
Após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ordenar que seus aliados entrassem de cabeça na campanha de Marcelo Crivella (Republicanos), políticos, candidatos e militantes bolsonaristas vêm fazendo um movimento coordenado de desconstrução contra Eduardo Paes (DEM) no Facebook. Páginas, perfis e grupos ligados ao grupo político de Bolsonaro vêm difundindo ataques e fake news contra o ex-prefeito, líder nas pesquisas no Rio.
Entre 9 e 21 de outubro, 3.399 publicações em páginas, grupos públicos e perfis verificados no Facebook citaram Paes, segundo dados do CrowdTangle (ferramenta de monitoramento de redes sociais). Foram mais de 1 milhão de interações (compartilhamentos, curtidas e comentários) e 4,2 milhões de visualizações em vídeos. Os posts de bolsonaristas —entre eles políticos e candidatos ligados ao clã Bolsonaro— correspondem a mais de 73% das interações e 80% das visualizações.
A última pesquisa Datafolha mostra Paes com 28% das intenções de votos, seguido na segunda posição por Crivella (13%), Martha Rocha (PDT) (13%) e Benedita da Silva (10%) empatados na margem de erro de três pontos.
Rede bolsonarista reproduz fakenews contra Paes
O dia 11 deste mês marcou a intensificação dos ataques. Até então, essa rede —mais de 600 páginas, grupos e perfis bolsonaristas mapeados pelo UOL no Facebook— vinha fazendo pouco mais de 20 posts por dia sobre Paes. A partir dessa data, a média subiu para mais de 80 publicações.
Uma das notícias falsas que citavam Paes —marcada como peça de desinformação pela ferramenta de checagem de fatos do Facebook— foi publicada mais de cem vezes nos 12 dias analisados.
No mesmo dia 11, Crivella fez uma transmissão ao vivo ao lado de Oswaldo Eustáquio, blogueiro bolsonarista apontado como integrante de uma rede de desinformação e alvo do inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) que apura atos antidemocráticos.
Também participou da live o deputado estadual Anderson Moraes (PSL-RJ), que emprega em seu gabinete uma das responsáveis por 13 páginas ligadas ao chamado "gabinete do ódio" —rede de páginas operada por assessores do Palácio do Planalto e de parlamentares ligados à família Bolsonaro para atacar rivais— e que foram excluídas após investigação do Facebook em julho.
Nesta mesma semana, Jair Bolsonaro procurou aliados no Rio e ordenou que se engajassem na campanha de Crivella —o que não ocorria até então. A conversa foi confirmada pelo deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) em uma outra live com Crivella neste mês.
O UOL perguntou a Marcelo Crivella se sua campanha participou de algum tipo de articulação com bolsonaristas para ataques contra adversários nas redes sociais. A assessoria de imprensa de Crivella respondeu apenas que "nem temos ciência destas postagens".
Deputado bolsonarista posta vídeo adulterado
Um dos primeiros conteúdos contra Paes a ganhar tração nas redes bolsonaristas foi um vídeo publicado por Anderson Moraes —um dos políticos mais próximos do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos).
O vídeo reproduz escuta telefônica entre Paes e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adulterada de forma a criar a narrativa de que o ex-prefeito ofendeu os evangélicos —principal eleitorado de Crivella.
O áudio foi interceptado pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato dias depois da condução coercitiva contra Lula, em março de 2016. A versão divulgada por Moraes inverte a ordem de declarações.
Na conversa original, Lula define os membros da Lava Jato como "um bando de filhos da puta", e Paes concorda: "é foda, é foda". Em seguida, Lula diz que os membros da PF e do MPF "se sentem enviados de Deus", e Paes acrescenta: "Os caras do Ministério Público são crentes, né?".
A edição divulgada pelo parlamentar inverte a ordem desses dois trechos, dando a entender que Paes e Lula direcionaram as ofensas aos evangélicos.
Em outro trecho, a edição corta parte das declarações de Paes sobre executivos de empreiteiras que negociavam delações premiadas, dando a entender que ele dizia ficar "com medo de receber" recursos ilícitos de construtoras.
Questionado pelo UOL, Anderson Moraes disse ter recebido o vídeo em um grupo de WhatsApp e postado em suas redes sociais.
"É uma ligação telefônica conhecida por todo país, não criei fala alguma, apenas repostei o vídeo que recebi em um grupo. Mas vão dizer que o Eduardo não falou com o Lula? Inclusive o Eduardo disse que Maricá é uma merda e todo mundo repercutiu e fez matéria disso", disse Moraes.
Outro político ligado a Moraes também tem feito ataques sistemáticos contra Paes. O empresário Alexandre Zibenberg, militante de extrema direita que tenta se eleger vereador no Rio pelo Patriota, tem feito postagens diárias fazendo acusações de corrupção contra Paes —parte delas sem apresentar evidências.
Zibenberg se apresenta como fundador do movimento Política BR, canal bolsonarista nas redes sociais. Uma de suas principais auxiliares é Ana Luiza de Oliveira Palheiros, que foi assessora parlamentar de Anderson Moraes na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) até setembro.
O engajamento das publicações de seu perfil pessoal no Facebook é ampliado através de compartilhamentos de ao menos outras três páginas de direita, que sempre replicam o conteúdo dele de maneira sequencial, com intervalo de alguns segundos entre as publicações.
No começo deste mês, a rádio CBN revelou que eleitores estavam sendo incluídos em grupos de WhatsApp para a divulgação da candidatura de Zibenberg sem terem se cadastrado ou autorizado isso.
Anderson Moraes disse não ter ingerência sobre o que Zibenberg posta em suas páginas. "Mas gostaria de vê-lo eleito vereador", completou.
O UOL procurou Zibenberg enviando mensagens para o e-mail e para o número de celular cadastrados pelo candidato na Justiça Eleitoral, mas não obteve retorno.
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