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OPINIÃO

Pareceu propaganda de seguro, mas foi só o último dia do horário eleitoral

Orlando Brito/Divulgação
Imagem: Orlando Brito/Divulgação

Matheus Pichonelli

Colunista do UOL

12/11/2020 15h55

No último dia da propaganda eleitoral gratuita antes do primeiro turno, nesta quinta-feira (12), os candidatos a prefeito de São Paulo adotaram tom emotivo entre o adeus e o até breve aos eleitores.

Joice Hasselmann (PSL), que começou a campanha a um milhão, com vídeos acelerados e referências a cultura pop e memes do Twitter, encerrou sua participação dizendo, calma e sem gritaria, que em São Paulo, mais do que pedir votos, encontrou fé, amor, esperança, liberdade, etc. É como se a candidata, marcada pelo tom agressivo contra adversários, sobretudo à esquerda, tivesse encontrado na Radial Leste a sua estrada de Damasco. E se converteu. De fato, pelas projeções da pesquisa, ela encontrou muita coisa durante as andanças. Menos voto.

Já sem a fantasia de Kill Bill, Joice dessa vez não atacou ninguém e prometeu não decepcionar os eleitores que por acaso, por ventura, veja bem, se quiserem e não for atrapalhar, votarem nela no domingo (15): "Pense em você, pense em sua família. Obrigado".

Não, não era propaganda de seguro.

Quem também tentou mostrar otimismo foi Arthur do Val (Patriota). O dono do canal Mamãe Falei, do YouTube, tentou deixar na cena final uma pulga atrás da orelha dos eleitores que acreditam em pesquisa. Melhor acreditar no integrante do MBL. Ele mostrou seu engajamento nas redes e o sucesso de campanhas online de arrecadação para dizer que os sinais estão aí, só não vê quem não quer. "Você acredita em pesquisa ou nos seus olhos?", questionou, antes de dizer: "Acredite em mim".

Quem esperava alguma bomba de última hora ficou na mão. Terceiro colocado no Datafolha, Celso Russomanno (Republicanos), candidato que liderava a corrida até outro dia, voltou a usar imagens de cães para prometer uma gestão pet friendly. Não era referência subliminar, ao que parece, a latidos ou mordidas. Jair Bolsonaro, dessa vez, ficou de fora.

Russomanno prometeu em sua última peça ajudar motoristas de aplicativo, numa tentativa de desfazer a má imagem da última eleição, quando disse que a atividade era ilegal. Ao fim, soltou seu bordão de apresentador: se for bom para todas as partes e blablabla, votem nele.

Márcio França (PSB) levou ao ar uma propaganda que começou em tons lúgubres e foi ganhando cores aos poucos. Como no refrão de um antigo sucesso, lembrou que não estava sendo fácil, ao fazer uma análise da situação do país, e da cidade, em meio à pandemia, mas prometeu não deixar nenhum paulistano passar fome. Disse também que a obra mais importante da cidade era você, eleitor.

Esperto, forrou as imagens que fecharam a campanha com o número da sua legenda, que apareciam em camisas de futebol, no grafite da rua, na vela de uma aniversariante e até nas peças de brinquedo tipo Lego. Se alguém quiser votar o ex-governador não corre mais o risco de esquecer o número a caminho da cabine (acontece muito, acredite).

Bruno Covas (PSDB), líder das pesquisas, também lançou em todos os cantos da tela a referência ao seu número de legenda. Sem grandes invenções, apostou num "fala povo" básico no encerramento, com meio mundo dizendo para as câmeras como o candidato é bonito, gentil, cheiroso, carismático, etc. Meio mundo, claro, menos João Doria (PSDB), que deixou a prefeitura para ele antes de se candidatar a governador.

O prefeito também pediu "apoio da sua família" e disse que havia muito ainda a fazer pela cidade. Um pé no segundo turno ele já tem. Há chances, embora isso seja ainda improvável, de que coloque os dois de vez já no domingo.

Na dúvida, deu uma prévia do que pode vir por aí ao insistir na tecla da experiência x inexperiência ao falar de sua passagem pela prefeitura. Ele fez ainda um apelo aos eleitores para não abrirem mão do direito de votar — uma preocupação da campanha é a possível alta de abstenções em tempos de coronavírus.

Sem decolar até agora, Jilmar Tatto (PT) também tentou mostrar otimismo na despedida. Disse que seu partido estava pronto para voltar e caminhar do lado do povo. Levou ao ar imagens do ex-presidente Lula e do ex-prefeito Fernando Haddad, com quem dizia estar em companhia rumo ao segundo turno. O tom triunfal contrasta com a realidade apontada pelas pesquisas.

Segundo os levantamentos mais recentes, é mais provável que Lula e Haddad se engajem em outra campanha do campo progressista nos próximos dias.

Serão provavelmente reforços na lista de personalidades que Guilherme Boulos (PSOL) e Luiza Erundina (PSOL), a única vice em destaque da propaganda, encaixaram nos poucos segundos a que tinham direito, entre elas Sonia Braga, Wagner Moura, Chico Buarque e Caetano Veloso. Caso avance, vai dar tempo até de cantar e sambar com os apoiadores. Até lá, a aposta ainda é nas redes, onde acaba de lançar um game chamado Super Boulos, o personagem que "precisa da sua ajuda para virar o jogo em São Paulo".

Dá para zerar o jogo até domingo.