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Após eleição ser adiada, candidatos de Macapá fazem ato contra novas datas

Candidatos em Macapá assinaram petição pedindo outras datas - Divulgação/Ascom Dr. Furlan (Cidadania)
Candidatos em Macapá assinaram petição pedindo outras datas Imagem: Divulgação/Ascom Dr. Furlan (Cidadania)

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

14/11/2020 13h22

Nove dos dez candidatos que concorrem à prefeitura de Macapá se posicionaram, na manhã de hoje, contra as novas datas sugeridas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amapá para realização do primeiro e segundo turno da eleição, previstos agora para 13 e 27 de dezembro, respectivamente.

O novo período se deu após o adiamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na quinta-feira (11), a pedido do TRE, em razão do apagão energético que atinge a capital e outras 12 cidades desde 3 de novembro.

Estiveram reunidos hoje João Capiberibe (PSB), Dr. Furlan (Cidadania), Pastor Guaracy (PSL), Patrícia Ferraz (PODE), Haroldo Iran (PTC), Professor Marcos (PT) e Lorena Quintas (PCdoB), vice na chapa de Paulo Lemos (PSOL), que está em isolamento domiciliar em razão da covid-19.

Cirilo Fernandes (PRTB) e Gianfranco Gusmão (PSTU) não compareceram, mas subscreveram a carta. Já Josiel Alcolumbre (DEM) também não foi ao evento e não teria assinado o posicionamento, segundo os candidatos. O documento deverá ser entregue na tarde de hoje ao TRE do Amapá.

Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que coordenou a mesa com os candidatos, Josiel recebeu o convite. O parlamentar, contudo, não informou se recusou ou apenas faltou ao evento.

"Todos foram convidados, inclusive a petição está aberta para caso ele queira participar", disse o parlamentar.

Nas redes sociais, Josiel disse que "Randolfe mentiu". Ele também confirmou que irá assinar a petição com os demais adversários.

"Randolfe mentiu. Não fui convidado para coletiva dada pelos demais candidatos questionando as datas da eleição. Em nenhum momento fui comunicado. Já passou da hora da campanha ser pautada pelo debate honesto, com verdades e propostas para nossa população. Mas assino embaixo do pedido para que as eleições aconteçam antes", escreveu.

Candidatos querem primeiro turno em novembro

No ato, os candidatos assinaram uma carta e pediram o primeiro turno para 29 de novembro e um eventual segundo turno para 13 de dezembro. Eles também reivindicaram a continuidade da propaganda eleitoral no rádio, TV e redes sociais, mas sem a campanha de rua.

Na sessão de ontem, porém, o TRE do Amapá informou que existe uma impossibilidade técnica de apuração dos votos se houver o primeiro turno em Macapá em paralelo com o segundo turno no restante do país.

O TRE ainda informou que a sugestão de nova data ainda será avalizada pelo TSE, que também emitirá uma resolução sobre as regras da campanha do calendário eleitoral.

"Existiu a inviabilidade técnica de apurar o segundo turno do Brasil inteiro e do primeiro turno somente de Macapá. Essas são as datas mais seguras que levam em consideração os sistemas de informática", explicou ontem o presidente do TRE do Amapá, Rommel Araújo.

O que dizem os candidatos

Dos presentes, a primeira a falar foi a candidata Patrícia Ferraz, do Podemos. Ela disse que o TSE já havia sinalizado que Macapá teria condições de ter eleições em 15 de novembro e chamou o adiamento de "golpe", mas não citou nomes.

"É inadmissível um segundo turno entre Natal e Ano Novo. Temos a pandemia, apagão e mais um adiamento. Sabemos qual o único motivo de adiar as eleições somente na capital. Será se os outros municípios estão em condições? Sabemos quem está por trás deste golpe e não podemos permitir. O presidente do TSE já disse em outra oportunidade que teríamos condições de realizar a eleição", criticou.

A vice de Paulo Lemos (PSOL), a candidata Lorena Quintas (PCdoB), avaliou que a campanha será afetada pela falta de recursos entre os concorrentes com menos dinheiro disponível para investir ao longo de mais 30 dias.

"Não temos condições de atravessar dezembro em campanha. Estamos há mais de dois meses nisso. A nossa campanha não é milionária. Somos privados de recursos e protelar por mais 30 dias é um ataque à democracia. Essa carta precisa ser avaliada pelo TRE", comentou.

O candidato do PTC, Haroldo Iran, que é policial rodoviário federal, analisou que a eleição não poderia ser adiada sob o pretexto de falta de segurança porque existia a possibilidade de reforçar o pleito com homens da Força Nacional.

"É inadmissível adiar a eleição por 30 dias. Por qual motivo? Deveriam ter acionado a Força Nacional para garantir as eleições. Por que só aqui aconteceu isso? Será se tem alguma coisa escondida? Ninguém aguenta mais", apontou.

Professor Marcos Roberto, do PT, considerou que o adiamento era necessário, mas reclamou do tempo a mais sugerido pelo TRE do Amapá.

"O adiamento é necessário, entretanto, a sugestão de 13 e 27 de dezembro, por tudo que a gente vem passando em 2020, com pandemia e agora apagão, o povo é quem sofre com tudo isso, principalmente os mais carentes. O adiamento deve ser razoável", afirmou.

Do Cidadania, Dr. Furlan declarou que a data do segundo turno próximo do Natal e Réveillon pode causar um grande número de abstenção nas urnas e reclamou de um período curto para transição do prefeito eleito.

"O adiamento foi proposto por nós, agora levar par o Natal e Ano Novo, quando as pessoas estarão de férias e se programando para sair da cidade, além de o clima ser outro, é uma irresponsabilidade. Quero dizer também que o vencedor das eleições terá apenas três dias para a transição. É um absurdo", frisou.

O Pastor Guaracy, do PTC, salientou que o adiamento para 13 de 27 de dezembro é "casuísmo", mas não citou nomes sobre quem seria o eventual beneficiado. Ele também criticou novas datas apenas em Macapá.

"Aqui, temos a representação massiva de candidatos da direita e da esquerda, mas entendemos que é para o bem comum do povo. Isso [adiamento] é puro casuísmo ou distorção da verdade daquilo que é justo e legal trazer uma eleição para o fim do mês [de dezembro]. É um absurdo o que está acontecendo nesta cidade. O Amapá não é composto apenas por Macapá", acentuou.

Já o candidato do PSB, João Capiberibe, comentou que era para o presidente do TRE do Amapá chamar os candidatos para decidirem juntos por uma nova data.

"O presidente do TRE disse que não tinha tempo para nos receber. A ideia era de que pudesse receber a todos. Isso criou uma situação que não poderia existir, que é uma manifestação pública de nove candidatos discordando do condutor da eleição, que é o TRE", afirmou.

Adiamento

O adiamento foi confirmado na quinta-feira por decisão do plenário do TSE. Um dia antes, o presidente do colegiado, ministro Luís Roberto Barroso, havia decidido por novas datas.

Barroso atendeu ao pedido feito pela Justiça Eleitoral do Amapá para suspender o pleito sob alegação de falta de segurança provocada pelos efeitos da falta de luz nos últimos dias - atualmente a cidade tem um sistema de rodízio de energia.

O adiamento vale somente para Macapá e abrange o primeiro turno, que deveria ocorrer no próximo domingo (15), e o segundo, que seria realizado em 29 de novembro.

No restante do estado, a votação está mantida porque o Tribunal Regional Eleitoral garantiu que há aparato policial para garantir a segurança da votação em meio ao apagão.

A Justiça Eleitoral do estado disse que foi informada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Exército e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) que algumas ações de vandalismo estão sendo coordenadas por membros de facções criminosas.

O documento diz ainda que parte da população está sendo incitada, por meio de grupos do WhatsApp, a queimar pneus em via pública e a depredar o patrimônio público.