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Em debate agressivo, Paes e Crivella evocam Bíblia, Witzel e prisão futura

27.nov.2020 - Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos) em debate na TV Globo - Reprodução
27.nov.2020 - Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos) em debate na TV Globo Imagem: Reprodução

Igor Mello, Felipe Oliveira e Pedro Ungheria

Do UOL, no Rio, e colaboração para o UOL, em São Paulo

28/11/2020 01h15

O último debate entre Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos) na disputa pela Prefeitura do Rio foi marcado por trocas de ofensas, acusações de corrupção e uma série de direitos de resposta. Para se atacarem, os adversários evocaram passagens bíblicas e os três últimos governadores do Rio —Sergio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Wilson Witzel.

Em diversas oportunidades, a jornalista Ana Paula Araújo, escolhida pela TV Globo para mediar o debate, alertou os candidatos para que parassem os ataques e discutissem propostas. Em vários momentos, Crivella fez menção ao "não roubarás", um dos dez mandamentos bíblicos, ao se referir ao rival. Já Paes seguiu chamando o concorrente de "pai da mentira" —forma como o diabo é nomeado na Bíblia— e de "rei da incompetência".

Na casa da Rede Globo, Crivella não repetiu seus constantes ataques à emissora —à qual atribui o rótulo de "inimiga jurada" de seu governo. Em entrevista à CNN durante a campanha do 2º turno, o atual prefeito disparou contra a emissora 11 vezes, boa parte delas com a expressão "Globolixo".

Crivella e Paes preveem futuras prisões

Já na primeira intervenção do debate, Crivella —atual prefeito da cidade, que tenta a reeleição— ignorou uma pergunta do ex-prefeito Paes sobre população de rua e afirmou diversas vezes que o ex-prefeito seria preso por corrupção, por conta de menções em delações de executivos de empreiteiras no âmbito da Operação Lava Jato.

"O Eduardo Paes vai ser preso e digo isso com coração partido, porque ele cometeu os mesmos erros que Cabral e Pezão", afirmou Crivella.

Na réplica, Paes revidou e fez menção a escândalos de corrupção na gestão de adversário, como o QG da Propina —investigação do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que teve o próprio Crivella como alvo de um mandado de busca e apreensão— e os Guardiões do Crivella.

"Vocês vão perceber o desespero do candidato. Ele vai usar esse tom a noite inteira e eu quero tratar de propostas para a cidade. E ele morre de medo de ser preso quando aquele Rafael Alves, do QG da Propina, começar a falar", ironizou Paes, fazendo referência ao empresário apontado pelo MP-RJ como operador de Crivella.

Segundo a investigação, a prefeitura priorizava o pagamento a empresas em troca de propina —Crivella nega a existência do suposto esquema.

Já nesse momento, ambos os candidatos tiveram pedidos de direito de resposta atendidos pela produção da TV Globo. Primeiro a receber o tempo extra, Paes repetiu a tática executada no debate da Band e procurou associar Crivella a Wilson Witzel (PSC), governador afastado do Rio e adversário do ex-prefeito nas eleições de 2018.

Diante das declarações de Paes, Crivella também recebeu direito de resposta. Ele afirmou que o democrata é mencionado em "dezenas de delações" e que "não tem como escapar da prisão". O atual prefeito ainda destacou que Paes tem um desconhecido como vice: Nilton Caldeira, cacique local do PL, tem uma trajetória política de pouco destaque.

A troca de acusações seguiu no primeiro bloco, com Crivella insistindo no tema da corrupção e Paes acusando o rival de fugir do debate de propostas sobre a cidade.

Carnaval vira motivo de acusações

Outro tema que polarizou o debate foi o papel da prefeitura em relação ao Carnaval.

Enquanto Paes sempre procurou se associar à festa, desfilando em escolas de samba e frequentemente se reunindo com personalidades do samba, Crivella desde o início do governo evitou participar da festa, rompendo a tradição de entregar a chave da cidade ao Rei Momo.

Crivella perguntou se Paes "teria coragem" de voltar a dar recursos públicos para o Carnaval, definido por ele como "festa privada".

Paes rebateu dizendo que Crivella busca colocar a população contra o Carnaval. "Espero que não seja por intolerância religiosa", sugeriu, em referência ao fato do adversário ser bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus.

Crivella então reagiu afirmando que Paes usava o Carnaval para promoção pessoal. Na resposta, disse que o ex-prefeito ia para a Marquês de Sapucaí com "chapeuzinho de Zé Pelintra", tratando com um tom depreciativo a figura da entidade da umbanda, religião de matriz africana.

"O Eduardo dava 70 milhões [de reais] para o Carnaval porque ele queria desfilar no Carnaval, ia com chapeuzinho de Zé Pelintra, saía na capa do jornal, queria autopromoção. Por isso ele pegava o dinheiro das pessoas para se promover. Eduardo, quer se promover, ponha o seu dinheiro, não o das pessoas", disse.

Crivella associa PSOL a Paes

O segundo bloco começou com novo confronto duro entre ambos. Crivella acusou Paes de se aliar com o PSOL para implantar "ideologia de gênero" —notícia falsa criada por militantes católicos ultraconservadores e disseminada no Brasil por lideranças e políticos evangélicos— nas escolas.

Acusações falsas contra o PSOL fizeram com que Crivella fosse alvo de denúncia do Ministério Público Eleitoral nesta sexta (27).

Paes disse que o PSOL e outros partidos se uniram não em seu apoio, mas contra Crivella.

"O PSOL não está me apoiando, o PSOL, como vários partidos à direita e à esquerda, estão fazendo um voto crítico contra o Crivella. Ele é tão ruim que tem uma página no Facebook que chama Eu odeio Eduardo Paes, algo assim, que já declarou voto em mim. Todos querem que o pior prefeito da história saia correndo", disparou.

Crivella respondeu, dizendo que o adversário havia fugido dessa discussão e adiado a votação do Plano Municipal de Educação do Rio em sua gestão. "Ele covardemente não enfrentou o assunto. Porque ele fez do Rio de Janeiro a capital mundial do turismo gay. Ora Eduardo, por favor seja pelo menos honesto neste tema", desafiou.

Em uma pergunta sobre educação, Paes destacou o número de alunos estudando em tempo integral atingido em sua gestão e acusou o atual prefeito de paralisar o programa.

Crivella respondeu lembrando da repressão violenta por parte da Guarda Municipal e da Polícia Militar a uma greve de profissionais de educação durante o governo Paes, em 2014. "Na época do Eduardo teve greve, a guarda municipal espancou professor", citou.

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