Derrota no Recife frustra sonho do PT e consolida legado de Eduardo Campos
A derrota de Marília Arraes (PT) neste domingo (29) no segundo turno do Recife marca uma derrocada do partido de esquerda nas grandes capitais do país, que desde 2012 (quando elegeu Fernando Haddad em São Paulo) não conquista o Executivo das maiores capitais brasileiras.
Em 2016, o partido só fez o prefeito de Rio Branco entre as capitais. Neste ano, não elegeu nenhum de seus candidatos no primeiro turno entre as 26 capitais nem no segundo, apesar estar na disputa em Vitória e no Recife.
A capital pernambucana era a principal aposta do PT por conta do peso político que representaria retomar o poder na cidade que governou de 2001 a 2012. A prova disso é a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometia estar na posse de Marília, caso fosse eleita.
Para a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda Priscila Lapa, a perda da eleição na capital pernambucana tem um peso grande para o PT.
"A derrota de Marília significa, de forma mais expressiva, uma grande perda para o partido, que jogou todas as fichas e esperanças na candidatura de Marília Arraes. A derrota de Marília significa a perda de um fio de esperança do partido", diz.
Ela lembra que, em 2016, o partido definiu que era necessário renovar o partido após o fracasso na eleição municipal. Mas isso não teve efeito prático. "A dificuldade que teve naquele ano mostrou que precisava de oxigenação das lideranças. Oxigenou, mudou, trouxe gente menos identificada com esse perfil tradicional do partido. Mas isso não foi suficiente para vencer a eleição. Claro que isso sozinho não decide, mas é um fator que chama a atenção", afirma.
Para Lapa, a situação de Pernambuco é um reflexo do cenário nacional. "O partido tem muita dificuldade de se firmar novamente nas médias e grandes cidades, firmar-se como uma força política expressiva e ser a resposta ao movimento conservador, bolsonarista, que ascendeu ao poder em 2018. É como se outras forças de esquerda fossem ganhando fôlego, e o PT vai perdendo esse espaço", explica.
Marília Arraes cresce além do partido
Sobre Marília, ela diz que ela não sai derrotada. "Ela ganhou visibilidade. Ela agora vai ter o nome especulado como uma candidata viável [para o governo] em 2022, mas é outra coisa você ser testado na urna e ver o tamanho do seu capital eleitoral", diz.
Um recado que as urnas deram ainda no primeiro turno, diz Lapa, é que o eleitor recifense segue rejeitando projetos mais à direita. "O eleitorado recifense, pernambucano, claramente dá sinais de que rejeita projetos políticos mais à direita. Isso não significa que qualquer candidato à direita não possa vencer as vencer as eleições de 2022, mas ele terá grande dificuldade", finaliza.
Eduardismo vencedor
A vitória de João Campos (PSB) vai ampliar o ciclo de poder do PSB no Recife e dá um novo gás ao eduardismo que domina Pernambuco desde 2006.
O PSB governa Recife desde 2013, quando Geraldo Julio venceu a eleição no ano anterior —e foi reeleito em 2016. A entrada do partido na Prefeitura do Recife marcou o final de uma aliança que o partido tinha desde 2000 com o PT, que mantinha o prefeito à época, João da Costa.
O prefeito à época, por sinal, teve a candidatura à reeleição barrada pelo partido, que lançou Humberto Costa (PT) na esperança de atrair novamente o PSB para a chapa. O PSB não só negou como Humberto acabou sendo derrotado ainda no primeiro turno naquela eleição de 2012.
A vitória do PSB no Recife marcou de vez a consolidação de Eduardo Campos como uma espécie de "líder supremo" da política no estado. A morte de Eduardo em 2014 fez o partido ir perdendo fôlego no estado, mas a vitória de seu filho na capital reacende o legado.
Na eleição deste ano, o PSB mostrou a força do eduardismo. Apesar de amargar perdas, fez 53 prefeitos contra 69 em 2016, o número ainda é o maior do estado. O PT, por exemplo, fez apenas cinco.
"Com João Campos, o eduardismo se recicla, ganha um novo fôlego para 2022 tentar se manter o governo", diz Lapa.
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