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Guilherme Boulos se consolida como a grande novidade, analisa Josias

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/11/2020 18h17Atualizada em 29/11/2020 22h26

A eleição municipal em São Paulo consolidou Guilherme Boulos, candidato do PSOL, como um nome importante do campo político nacional. Esta é a avaliação de Josias de Souza, colunista do UOL, que considera a afirmação do candidato psolista mesmo com a derrota para Bruno Covas (PSDB) no pleito de hoje (29).

Com 100% das urnas apuradas, Bruno Covas venceu com 59,4% dos votos válidos contra 40,6% de Guilherme Boulos (PSOL).

"São Paulo traz a grande novidade dessa eleição, dessa temporada eleitoral de 2020. Em termos individuais, o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, foi a grande novidade da temporada. Não importa o resultado que aconteça em São Paulo, vencendo ou perdendo, o Guilherme Boulos se consolida como uma grande novidade, abriu-se finalmente uma frincha, uma rachadura, naquela eterna hegemonia do PT", analisou.

Josias enxerga em Boulos as mesmas características vistas no surgimento do Partido dos Trabalhadores e da aparição de Luiz Inácio Lula da Silva como voz contra o fim do governo militar no fim da década de 1970 e início dos anos 1980.

"O Boulos e o PSOL são, por assim dizer, forças políticas virgens, lembram muito o Lula e o petismo naquela fase sindical, antes da degeneração que foi experimentada pelo PT depois de passar pelo poder municipal, em várias cidades, poder estadual e finalmente no poder federal, nos dois mandatos do Lula e o primeiro mandato e meio da Dilma Rousseff", analisou.

Josias entende que as eleições municipais de 2020 reforçam que o PT vive um descrédito com o eleitor em geral e que Boulos e o PSOL podem aproveitar isso.

"O PT se deteriorou de tal forma que vai sendo aniquilado aos poucos, ou vai perdendo a hegemonia aos poucos, mas não havia uma alternativa, e o Guilherme Boulos representa, ou mostra pelo menos, que há vida fora dessa hegemonia petista", afirmou.

Cenário das eleições de 2022

O jornalista e colunista do UOL usou a união de partidos de esquerda em torno de Boulos na eleição municipal, mas acha improvável essa frente de esquerda se repetir no pleito de 2022, quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pretende disputar a reeleição.

"Formou inclusive uma frente ou um embrião de uma frente de esquerda em torno do Guilherme Boulos que juntou aí o próprio Lula, o Ciro Gomes, a Marina Silva. Isso vai se repetir em 2022? É improvável. Por que esses partidos uma hora vão ter que definir as suas candidaturas e há aí uma constelação de egos, e é improvável que o Ciro Gomes, por exemplo, ou que o próprio Lula, ou alguém que o Lula indique, é improvável que essa legendas abram mão de indicar os seus próprios candidatos", analisou.

Josias ainda falou sobre o futuro de PSOL e como o partido pode aproveitar o vácuo de liderança no campo progressista.

"De qualquer maneira ficou evidenciado que o PSOL, se souber aproveitar o que está acontecendo em São Paulo, pode embrionariamente se consolidar como uma alternativa à esquerda, com todos os problemas e com todas as virtudes. As virtudes são decorrentes dessa virgindade, dessa pureza, ou pseudo pureza, porque não foi poder em nenhum lugar. E defeito é justamente a aura, ou espectro de radicalismo, que o partido carrega, o próprio Boulos vem do movimento social, movimento de morador de rua, que é tradicionalmente identificado com alternativa de luta radicais, ações que chamem a atenção, mas até nisso ele ampliou o espectro convencional do PSOL", finalizou.

Carla Araújo, também colunista do UOL, usou a vitória de Edmilson Rodrigues (PSOL) para ressaltar o crescimento do partido.

"A gente ainda não falou do PSOL em Belém, é uma capital importante, e eles venceram. O Boulos deu uma declaração de que ele ganharia no 48 do segundo tempo", afirmou Carla, que também analisou o cenário para 2022.

"A participação do presidente na eleição cabe várias análises. Ele apontou o dedo para os candidatos, e eles foram perdendo. O pessoal tem uma resistência para fazer projeções para 2022. Mais do que a esquerda se mobilizando, com o PSOL emergindo como uma força importante, acho que deveria ficar um alerta para o presidente Bolsonaro e para a direita de que há mudanças. Não dá mais para fazer a política da rede social, precisa sair mais da bolha. A bolha do Bolsonaro e dos seus candidatos não foi bem-sucedida."

Para Tales Faria, o psolista derrotado por Covas pode fazer até o Partido dos Trabalhadores aceitar tê-lo como cabeça de chapa em 2022, seja para governador ou presidente.

"Talvez o Lula, que tem mais clarividência e gosta do Boulos, acha que ele é uma nova liderança, faça com que o PT se dobre ao Boulos, mas acho muito difícil", analisou.