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Em pergunta sobre centrão, Bolsonaro diz que Bonner quer que seja ditador

Do UOL, em São Paulo

22/08/2022 21h57Atualizada em 23/08/2022 00h06

Em entrevista ao Jornal Nacional na noite de hoje (22), o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, disse que William Bonner o estava "estimulando a ser ditador" ao questionar sua aliança com o centrão. A resposta deixou o âncora do telejornal surpreso e o jornalista quis saber o motivo da afirmação.

"O centrão são mais ou menos 300 deputados. Se eu deixar de lado, vou governar com quem? Você está me estimulando a ser um ditador. São 513 deputados. 300 são de partidos de centro, pejorativamente chamado de centrão. O lado de lá, os 200 que sobram, pessoal do PT, PC do B, PSOL, Rede, não dá para conversar com eles, até não teriam número suficiente para aprovar nem sequer um projeto de lei comum", disse Bolsonaro.

Os partidos de centro fazem parte, grande parte da base do governo, para que nós possamos avançar em reformas, como temos avançado em muita coisa"
Jair Bolsonaro

Veja o diálogo

- Bonner: A questão que o senhor disse que eu estou estimulando o senhor a ser ditador?

- Bolsonaro: Está estimulando, sim.

- Bonner: Por favor, candidato, não, longe de mim.

- Bolsonaro: Se eu for governar sem o centrão…

- Bonner: Não, eu estimulei nada, é que a questão é a seguinte: em 2018, o senhor chegou a dizer, até com propriedade, que governos anteriores tinham feito alianças com o centrão, mas o senhor disse criticamente que esses governos anteriores tinham feito nomeações com interesse político-partidário e que isso tinha tudo para dar errado. O senhor chegou até a concluir assim: "Por isso eu não integro o centrão". Mas, recentemente, há dias, o senhor, com muita naturalidade, disse assim: "Eu sempre fui do centrão. Eu vim do centrão".

Aí eu… eu tenho que perguntar ao candidato, em nome da clareza para os eleitores: em qual dessas duas afirmações o eleitor deve acreditar? O senhor sempre foi do centrão ou o senhor, como disse em 2018, diz: "Eu nunca fui do centrão por esse motivo"?
William Bonner

- Bolsonaro: No meu tempo não era centrão. Não existia centrão.

A declaração ocorreu no contexto em que Bonner havia perguntado para o presidente sobre sua mudança de postura em relação a 2018, quando Bolsonaro e aliados criticavam o bloco. Naquele ano, o general Augusto Heleno, hoje ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, chegou a fazer uma paródia musical atacando o centrão.

"Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão", cantou o general durante a convenção que oficializou a candidatura de Bolsonaro.

A mudança causa estranheza porque na eleição passada o Brasil vivia sob repercussão da Operação Lava Jato e o discurso contra a corrupção. O então deputado e candidato a presidente prometeu um governo sem "toma lá dá cá".

Ou seja, as nomeações para cargos seriam técnicas, e não políticas, e o governo não cederia a pressões para se aliar a políticos em troca de apoio em pautas de interesse do governo nas votações no Congresso Nacional.

Conforme o governo Bolsonaro avançou, cresceu a relação com os parlamentares que eram criticados durante a campanha, até que uma aliança foi firmada.

Na hora de escolher um partido para concorrer em 2022, o presidente optou pelo PL. O partido é governador por Valdemar Costa Neto. Ele foi condenado em 2012 durante o mensalão.

Além de seu relacionamento com o PL, Bolsonaro também tem aliados no PP. O presidente licenciado do partido é o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que esteve na lista da Lava Jato.

A união entre Bolsonaro e Ciro Nogueira mostra as voltas que os integrantes do governo federal deram. Se Bolsonaro atacava o centrão, o atual ministro já fez elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e chamou o atual presidente fascista.

As diferenças foram esquecidas quando Bolsonaro precisou de sustentação no Congresso Nacional. Outra engrenagem nesta composição é o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Ele conduziu diversas votações de interesse do presidente, como a que aumentou o Auxílio Brasil e a que permitiu reduzir o ICMS e baratear a gasolina.

A contrapartida de Lira é ser um dos controladores daquilo que ficou conhecido como "orçamento secreto". Verbas são destinadas a parlamentares sem a transparência exigida com o dinheiro público.

A relação que o candidato a reeleição mantém com o centrão levou um youtuber de direita Wilker Leão a chamar Bolsonaro de "tchutchuca do centrão". A declaração ocorreu na saída do Palácio do Alvorada e Bolsonaro tentou arrancar o celular das mãos do rapaz que gravava a cena.

Mesmo com a aliança com partido com o centrão e a filiação ao PL, o presidente busca a reeleição afirmando que fez um governo sem concessões políticas e que montou um ministério de nomes técnicos.