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Lula apresenta 15 ações no TSE contra filhos e aliados de Bolsonaro

Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) - Ricardo Stuckert e Isac Nóbrega/PR
Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) Imagem: Ricardo Stuckert e Isac Nóbrega/PR
Beatriz Gomes e Weudson Ribeiro

Do UOL, em São Paulo e colaboração para o UOL, em Brasília

24/08/2022 18h45Atualizada em 26/08/2022 23h40

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentou 15 ações ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), os filhos e aliados do chefe do Executivo por "desinformação na internet".

No total, as ações da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) pedem a retirada de mais de 200 publicações de redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram, Kwai, Gettr, YouTube, TikTok, Telegram e sites.

Segundo Cristiano Zani Martins e Eugênio Aragão, advogados do ex-presidente Lula, as ações são contra "atores envolvidos na disseminação das desinformações", entre eles: o chefe do Executivo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filhos de Jair Bolsonaro; os parlamentares Carla Zambelli (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Carlos Jordy (PL-RJ) e Coronel Tadeu (PL-SP).

O ministro das Comunicações, Fábio Faria; jornalistas como Milton Neves, Silvio Navarro e Kim Paim; e influenciadores digitais também são os alvos das ações.

"O conjunto das fake news apresentadas à Justiça Eleitoral revela que há um grande movimento coordenado de grupos e apoiadores do candidato à reeleição Jair Bolsonaro para disseminação de notícias falsas, com o claro intuito de influenciar as eleições deste ano", começaram Zanin e Aragão.

Os advogados ainda destacaram o número de redes sociais usadas para disseminar as desinformações alegadas pela defesa.

"Um ponto de relevância é a variedade de redes sociais utilizadas para compartilhar as desinformações, de modo a alcançar o maior número de eleitores e eleitoras e, assim, influenciar negativamente o processo eleitoral. (...) As graves mentiras podem confundir o eleitorado brasileiro e, consequentemente, influenciar o resultado do pleito eleitoral."

Confira abaixo o conteúdo de cada uma das ações enviadas ao TSE pela defesa de Lula:

  1. "Vídeos cortados em que Lula toma água em uma garrafa e induzem que o petista estaria se alcoolizando em discursos da campanha;
  2. Descontextualização da fala do ex-presidente em ato no Vale do Anhangabaú induzindo a ideia de que ele teria defendido a violência doméstica fora do Brasil;
  3. Manipulação de vídeo com entrevista de Lula ao El País em outubro de 2020. O vídeo conta com 8 segundos de 1h30min de entrevista e tem a frase descontextualizada de que Lula disse que não vai 'enganar o povo mais uma vez';
  4. Alteração de vídeo que dá a entender que o presidenciável teria 'agradecido ao coronavírus';
  5. Frases retiradas de contextos no qual indicam falsamente que Lula tiraria o 13º e as férias trabalhistas;
  6. Notícias falsas de que o candidato terminaria com o emprego dos trabalhadores de aplicativos;
  7. Fake news de que o candidato revogaria o Pix;
  8. Fake news de que o candidato exterminaria o agronegócio caso vença no pleito deste ano;
  9. Veiculação da desinformação sobre um suposto título de eleitor, em que, no QR CODE, constariam as expressões 'LULA' e 'PT', sugerindo possível favorecimento do candidato;
  10. Desinformação de que o ex-diretor do Datafolha Mauro Paulino, em uma fala gravada em áudio, confirmaria a existência de manipulação de pesquisas de intenção de voto para fazer crer que há uma ampla vantagem ao candidato Lula e que existiria um plano para fraudar as urnas eletrônicas, a fim de garantir a vitória do candidato do Partido dos Trabalhadores;
  11. Vídeo satírico publicado no Youtube utilizado para disseminar a desinformação de que o interlocutor seria um dos advogados do Partido dos Trabalhadores tecendo comentários que desacreditam o sistema eleitoral brasileiro, em uma suposta reunião interna com apoiadores, desinformação também impugnada no conjunto de ações;
  12. Compartilhamento de áudio falsamente atribuído ao ex-ministro Aldo Rebelo, como se ele houvesse afirmado que o PT e Lula seriam responsáveis pelo aumento dos combustíveis no Brasil;
  13. Disseminação de fake news de que os eventos de campanha do candidato Lula estariam esvaziados, ou seja, de que contariam com pouco apoio popular, com o claro intuito de enganar a população a respeito da realidade;
  14. Fake news repetindo a desinformação amplamente disseminada no pleito de 2018, o 'kit gay';
  15. Fake news com tentativa de vincular o candidato a Adélio Bispo, pelo compartilhamento de imagem do ex-presidente Lula com um senhor, afirmando que seria irmão do autor do atentado contra Jair Bolsonaro em 2018."

O que dizem os citados?

Ao UOL, Milton Neves afirmou que "há tempos que venho falando e até 'aconselhando' o Lula para não falar com ódio, com o rosto crispado e com voz acabando. São posts coerentes em relação a isso que eles estão falando porque a palavra ódio que eu tenho falado sempre, inclusive, está aqui (confira os tuítes): 'Lula está virtualmente eleito, mas não para de vociferar bobagens com uma voz cada vez pior, sempre falando com ódio e delírio e com rosto de perturbado'. Isso é a minha opinião e pronto, entendeu?"

"[Há postagens minhas] de 2 ou 3 meses antes. E agora é isso a palavra ódio. Eu não tenho nada contra ele, eu não preciso de político nenhum, meu negócio é microfone Futebol Clube e não tem conversa. Agora eu tenho opinião, eu acho que ele não pode falar com tanto ódio, líder das pesquisas, virtualmente eleito e ficar vociferando com aquela cara feia e sem voz, assim o homem não aguenta. Que ele vença a eleição e que viva 4 anos governando o país, pronto. Verifique nos posts enviados que eu desejo SAÚDE para ele."

À reportagem, Milton também esclareceu que o tuíte anexado na ação do PT (veja abaixo) foi realmente publicado por ele com a legenda escrita pelo próprio jornalista: "Meu Deus! Essa é a 'alternativa ao ódio'?". No entanto, explica, o vídeo presente no tuíte comentado por ele não foi postado pelo colunista, mas por outra pessoa na rede social.

Confira abaixo os tuítes citados por Milton em resposta à reportagem:

Sergei Cobra Arbex, advogado de Milton Neves, reforçou que o jornalista "apenas exerceu seu direito de livre manifestação ao se referir ao ódio como algo negativo na vida do país, sem disseminar desinformação. Não tem qualquer envolvimento político na eleição, sendo o seu partido, o microfone".

À reportagem, Kim Paim afirmou que "todas as informações que utiliza são públicas e veiculadas na imprensa".

O deputado Carlos Jordy disse que desconhece a ação, mas afirmou que o PT quer "calar" seus opositores. "Não é à toa que Lula fala em regular as redes sociais. Não sei qual é a postagem que querem censurar: se é a que eu falo sobre a delação premiada homologada pelo STF que falava sobre a relação do PT com PCC ou a que mostro a verdade sobre um evento em que os petistas diziam estar lotado, mas as autoridades mostraram estar vazio. Eles são patéticos!".

Em nota, a deputada Carla Zambelli diz que "Lula quer silenciar questionamentos e o livro debate". Segundo ela, o vídeo compartilhado "trata de um tema que tomou conta das redes sociais e o conteúdo não faz qualquer ataque ao sistema eleitoral. O questionamento foi feito às 'Agências de Checagem' que desmentiram uma 'fake-news' sobre transferência de votos via QR CODE, mas não informaram se o código era verdadeiro ou falso. O ex-presidiário está com medo de perguntas?".

A assessoria de Bia Kicis afirmou inicialmente que a deputada não iria se manifestar. Depois, confirmou que ela publicou conteúdos associados aos itens 1, 2, 3, 4, 8 e 13. "São frases ditas e repercutidas amplamente, inclusive pela imprensa, portanto não se trata de fake news", argumentou a assessoria em nota.

O texto também levanta suspeitas contra um dos advogados de Lula, Eugênio Aragão, pois Bia Kicis já entrou com uma representação contra ele quando Aragão era subprocurador eleitoral.

A deputada diz ainda suspeitar que a ação tem o objetivo de pregar nos alvos "a pecha de divulgadores de fake news" e prejudicar seu mandato.

Silvio Navarro afirmou desconhecer a ação.

A reportagem tenta contato com todos os outros citados na reportagem. A nota será atualizada em caso de retorno.