Bolsonaro usa estética da campanha no cartão do auxílio e amplia entrega
Resumo da notícia
- Entre julho e agosto, governo enviou 6,1 milhões de cartões do Auxílio Brasil; antes, programa não tinha cartão
- Número é maior que o de cartões do Bolsa Família emitidos pelo governo Bolsonaro em quase três anos
- Cartão teria fundo neutro, mas ganhou estampa da bandeira do Brasil, usada por Bolsonaro também na campanha
O pintor desempregado Aurino Vieira ficou surpreso quando o carteiro bateu na porta de sua casa, no Capão Redondo, periferia de São Paulo. "Ele falou que tinha chegado dinheiro para mim. Até assustei", disse. Dentro de um envelope, havia um cartão de débito, estampado com a bandeira nacional e o logo do Auxílio Brasil, programa de transferência de renda do governo de Jair Bolsonaro (PL). Era 17 de agosto, segundo dia da campanha eleitoral de 2022.
A entrega faz parte da primeira leva de cartões do Auxílio Brasil. Lançado em novembro de 2021 para substituir o Bolsa Família, o programa não tinha cartão próprio — o acesso ao benefício se dava via app, direto na Caixa Econômica Federal ou usando cartões da época do Bolsa Família.
Foi apenas em julho deste ano — já dentro do calendário eleitoral — que os novos cartões começaram a ser entregues. Em menos de dois meses, até 19 de agosto, 6,1 milhões de unidades foram postadas nos Correios. Muitas ainda estão em rota de entrega e devem chegar nas próximas semanas. Mais 500 mil estão em produção.
É mais do que o número de cartões do Bolsa Família emitidos nos quase três anos em que o programa ficou sob gestão do governo Bolsonaro: 5,5 milhões.
O Ministério da Cidadania, responsável pelo Auxílio Brasil, foi procurado pela reportagem por email e telefone desde 24 de agosto, mas não se manifestou.
"Quebrou um galhão. Eu estava dependendo dos meus irmãos para pagar as contas e comer", diz Vieira, de 56 anos. No início de 2021, um AVC (Acidente Vascular Cerebral) paralisou parcialmente o lado direito do seu corpo. Hoje, caminha com auxílio de uma bengala e não pode mais manejar pincéis e latas de tinta.
Eleitor de Bolsonaro em 2018, Vieira pretende repetir o voto em outubro: "A gente tem que ajudar quem ajuda a gente". "Eles [políticos] nunca fazem as coisas sem ter um porquê. Igualmente eu quero o dinheiro dele [Bolsonaro], ele quer alguma coisa de mim: o voto", fala, pragmático.
PEC Eleitoral
Com o novo cartão, é possível sacar dinheiro nos caixas eletrônicos e até fazer compras no débito — novidades em relação ao do Bolsa Família.
A legislação veda a criação ou alteração substancial do escopo de programas sociais em ano de eleições. Mas, neste ano, o Auxílio Brasil escapa à regra. Em julho, o Congresso Nacional aprovou um "estado de emergência" devido à alta dos combustíveis e autorizou uma série de novos programas sociais. Entre eles, o auxílio caminhoneiro e a expansão do auxílio gás e do próprio Auxílio Brasil.
Apelidada de PEC Eleitoral, a medida deu um drible na legislação eleitoral e permitiu que o Auxílio Brasil mudasse de cara. Além do envio inédito dos cartões, o valor mínimo do benefício subiu de R$ 400 para R$ 600 mensais, de agosto a dezembro. Já o número de famílias atendidas bateu o recorde de 20,2 milhões — eram 14,5 milhões no lançamento do programa.
O pacote de auxílios — que, segundo estrategistas de campanha, tem potencial para alavancar a adesão a Bolsonaro junto à fatia mais pobre do eleitorado — foi aprovado com o apoio da oposição, inclusive do PT, principal adversário do presidente na eleição.
"Por que essas mudanças no Auxílio Brasil só agora às vésperas da eleição? É um estelionato eleitoral, uma forma de abuso de poder político, ainda que por expedientes lícitos", avalia o advogado Cassio Prudente Vieira Leite, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral.
O próprio visual do cartão do Auxílio Brasil é estratégico. O primeiro desenho previa que o nome do programa fosse estampado sob um fundo verde neutro — semelhante ao Bolsa Família, cujo nome vinha grafado sob um fundo amarelo. Uma leva inicial de 20 mil unidades, em modo de teste, chegou a ser distribuída. Bolsonaro, inclusive, já posou para fotos com esse modelo inicial do cartão.
Mas a versão aprovada para distribuição em massa ganhou a bandeira do Brasil, principal símbolo usado pela campanha de Bolsonaro.
Nesta semana, o ministro Alexandre de Moraes, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), barrou peça publicitária do governo federal sobre os 200 anos da Independência do Brasil, que tinha como slogan "futuro verde e amarelo". Ontem, voltou atrás e liberou a campanha com ressalvas: "a propaganda institucional não permite a finalidade de promoção pessoal, com a utilização de nome, símbolos ou imagens que remetam a autoridade ou servidores públicos".
Nas redes sociais, Bolsonaro rebateu o ministro: "Como nós, muitos querem um futuro verde e amarelo, que não representa esse ou aquele candidato, mas a nossa identidade como brasileiros".
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