Lábia, show, ataques: o que esperar dos candidatos no debate do UOL
Hoje (28), o UOL transmite o primeiro debate presidencial em parceria com a Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura.
O debate poderá ser assistido ao vivo aqui, no YouTube do UOL ou no Facebook do UOL a partir das 21h. Antes do encontro entre os presidenciáveis, a partir de 20h, o UOL terá um programa especial direto dos estúdios da Band com os bastidores e a participação de colunistas. Além do UOL, o debate também pode ser acompanhado pela TV aberta dos canais das emissoras envolvidas.
O embate coloca frente a frente os principais competidores ao Palácio do Planalto e acontece em seguida às entrevistas feitas pelo Jornal Nacional, da TV Globo. O presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição, confirmou ontem (27) presença no debate, segundo informou à Folha o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Mais cedo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia confirmado, pelo Twitter, sua participação.
Ao UOL, especialistas em risco político e comunicação avaliaram o que esperar de cada um na noite de hoje.
O cientista político Cláudio Couto, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz que debates costumam medir mais a performance cênica dos candidatos, como demonstração de segurança, respostas firmes e sem se enrolar.
"Isso acaba sendo muito mais importante do que o conteúdo", afirma ele. "É claro que o conteúdo também tem relevância. Se as pessoas não ouvirem coisas que acham importantes para além do show, podem ficar insatisfeitas", explica.
Couto afirma que existe uma tendência de que os eleitores acompanhem com mais atenção e "bons olhos" quem já preferem. "O debate não tem muita capacidade de virar votos, embora possa ajudar a convencer indecisos", afirma.
Também foram convidados para o debate Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Luiz Felipe d'Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil).
Lula x Bolsonaro
Esta será a primeira vez em que um mandatário no exercício do cargo e um ex-presidente se enfrentam num debate, como lembra Adriano Laureno, analista de risco político da Prospectiva Consultoria.
O cenário de polarização deve atrair as atenções para ambos no embate. "Os ataques dos demais rivais também devem focar em Bolsonaro e Lula, que concentram juntos quase 80% das intenções de voto no primeiro turno. A intenção é ampliar a rejeição a eles", diz Laureno.
Felipe Albuquerque, mestre em ciência política pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), discorda. Ele acha que Bolsonaro não será o principal alvo de ataques, com exceção dos de Lula. "Tanto Tebet, quanto D'Ávila e Thronicke são mais ideologicamente parecidos com Bolsonaro, por exemplo na pauta econômica, do que com Ciro e Lula", explica.
Laureno vê "um ambiente majoritariamente crítico ao governo Bolsonaro" e "um ambiente também hostil" para Lula, com "ataques que devem vir tanto da esquerda, por Ciro Gomes, quanto da direita, de todos os outros", arrisca.
Couto afirma que a emedebista deve "distribuir suas pancadas de forma igualitária entre Lula e Bolsonaro" e "ambos também se atacarem".
Qual a estratégia de Bolsonaro?
Albuquerque, da Uerj, diz que Bolsonaro deve investir em "temas já batidos, como corrupção, legalização do aborto etc.". Vê o presidente como não propositivo, com dificuldade para conseguir falar para fora da sua base e tendo como meta "não sair pior do que entrou". "É algo que ele conseguiu, até com certa surpresa, na entrevista ao JN", opina.
Para Laureno, Bolsonaro "vai provavelmente direcionar suas respostas, independentemente das perguntas feitas, para tratar de seus temas prioritários de campanha", nomeadamente benefícios dados a parcelas da população, temas da agenda conservadora, críticas ao PT e a governos de esquerda na América Latina, além de seu recorrente questionamento em relação à transparência das eleições e dos ataques ao lockdown adotado na pandemia.
Já o jornalista e consultor Gaudêncio Torquato aposta que Bolsonaro vai explorar o temor de alguns setores da classe média e do empresariado "de que nos tornemos um país 'com uma visão socialista, comunista', além da associação do PT com os regimes da Venezuela e de Cuba".
Qual a estratégia de Lula?
Lula deve tentar atrair os votos de indecisos e daqueles que escolheram os nanicos, incluindo os eleitores de Ciro.
Para Albuquerque, o petista deve ainda "apelar à nostalgia, à capacidade de gestão, de diálogo, enfim, para a imagem de estadista que pacientemente vem construindo ao longo dos últimos anos". Segundo ele, seu público principal será a classe média, "descontente com o governo Bolsonaro, porque viu seu poder de compra cair ao longo dos últimos anos".
Albuquerque aposta em um debate em torno de temas econômicos. "Mas não imagino que Lula irá encontrar dificuldades se partir para o campo moral", diz. Torquato concorda. "Na minha visão, essa eleição será decidida pelo fator econômico. Com bolso cheio, barriga satisfeita e coração agradecido, a cabeça acaba votando em quem patrocinou essa equação", explica.
Após a PEC Eleitoral, que liberou benefícios a diversos grupos como os mais pobres e os caminhoneiros, Bolsonaro tem levado vantagem nessa equação. Mas ainda não se viu refletida em números nas pesquisas.
Torquato aposta na boa comunicação do petista. "Ele tem facilidade de comunicação com as massas, sabe usar bem o palanque —apesar da voz rouquenha, que tem sido um problema", afirma.
Para Albuquerque, Lula precisará enfrentar um grande obstáculo: sua relação com o crescente número de evangélicos no Brasil. "A campanha do PT ainda não conseguiu acertar o tom com esse grupo, imagino que será a maior dificuldade durante o debate", afirma.
O que sobra para Ciro?
Com baixa intenções de votos segundo as pesquisas e crescente distância em relação aos dois principais rivais, Ciro tem tido tom menos aguerrido em suas falas e atitudes.
Para Laureno, da Perspectiva, o pedetista "deve centrar a parte propositiva de suas falas na apresentação de seu Plano Nacional de Desenvolvimento, convidando os eleitores a conhecê-lo mais profundamente". Para ele, Ciro precisa romper a bolha e mudar a visão que parte do eleitorado tem dele.
Albuquerque, da Uerj, afirma que Ciro "vai insistir no erro de tentar se diferenciar das duas principais candidaturas, se distanciando dos eleitores tanto de esquerda como de direita". "Uma característica clássica do Ciro é ser cheio de certezas."
Mas vê o pedetista como uma "peça importante" no debate. "Não necessariamente pelas suas propostas, mas no tom adotado contra os dois principais candidatos". "Temos visto um Ciro muito mais agressivo em relação ao Lula do que ao Bolsonaro", menciona Couto, da FGV. Nos embates diretos, segundo Laureno, Ciro poderá usar "seus momentos mais ríspidos".
"O desafio será equilibrar o tom indignado, que fortalece sua retórica e o aproxima do eleitorado descontente, sem no entanto dar sinais de desequilíbrio emocional, que já prejudicaram candidaturas anteriores", afirma Laureno. Torquato concorda: o candidato pode sair enfraquecido se usar "linguagem agressiva, for descontrolado ou desaforado".
Como se comportarão os nanicos: Tebet, D'Avila e Thronicke?
Com um desempenho muito fraco nas sondagens, eles patinam para ganhar alguma visibilidade e devem usar o debate para tentar ser mais conhecidos.
"Nem sei se vão conseguir chamar a atenção das pessoas, mas a tendência é que sejam mais críticos ao Lula do que ao Bolsonaro", diz Claudio Couto, da FGV.
Tebet "terá uma oportunidade de se apresentar ao público sem precisar responder questionamentos sobre a viabilidade de uma terceira via", diz Laureno. Ele prevê que ambos governos petista e de Bolsonaro serão criticados por ela, embora o atual presidente receba os golpes mais fortes, "principalmente em temas como saúde, primeira infância e meio ambiente", sugere. Para o especialista, a emedebista "tende a se sair especialmente bem em momentos de debate mais acalorado".
Torquato também elogiou "sua linguagem moderada e que eleva o nível da conversa", diz. Para ele, educação, saúde e defesa da mulher estarão na pauta dela.
Para Laureno, Felipe d'Avila tem a seu favor sua capacidade retórica. "Ele é de família tradicional na política e tem experiência com grandes audiências", lembra.
Segundo Laureno, o candidato do Novo terá discurso crítico ao PT, destacando os casos de corrupção e o intervencionismo estatal na economia. "Deve usar o espaço para divulgar as marcas do partido, o não uso do Fundo Eleitoral e o governo mineiro de Romeu Zema.
Já Thronicke deve ter um tom "mais brando" em relação ao presidente, opina. Thronicke foi líder do governo Bolsonaro no Senado.
O analista político também aposta que a candidata do União Brasil mencione, com frequência, seu parceiro de chapa, o economista e ex-secretário da Receita Federal Marcos Cintra. O objetivo, diz, seria "tanto transmitir credibilidade sobre a possível política econômica de seu governo, quanto para diferenciar a sua candidatura da de Tebet", diz.
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