Topo

Bolsonaro diz que deve ir a debate e elogia lealdade de Guedes

O presidente Jair Bolsonaro durante entrevista ao Pânico, da Jovem Pan - Reprodução/Jovem Pan
O presidente Jair Bolsonaro durante entrevista ao Pânico, da Jovem Pan Imagem: Reprodução/Jovem Pan

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

26/08/2022 15h43Atualizada em 26/08/2022 15h59

Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse hoje, em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, que "deve" ir ao debate presidencial marcado para domingo (28), questionou dados sobre milhões de brasileiros na linha da pobreza e elogiou a "lealdade" do ministro da Economia, Paulo Guedes.

A entrevista ocorreu em clima descontraído, sem que o presidente tenha sido confrontado em nenhum momento. Ao longo de quase três horas, Bolsonaro comeu, falou palavrões, se classificou como "um cara meio tosco" e imitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal adversário nas urnas.

Destaques da entrevista:

  • Bolsonaro diz que "deve" ir ao debate no domingo, mas que vai ser "fuzilado" pelos adversários
  • Afirmou valorizar a lealdade do ministro da Economia, Paulo Guedes
  • Disse que considerar que seu filho Carlos é visado para ser preso
  • Questionou dados de que 30 milhões de brasileiros estariam na linha da pobreza
  • Voltou a dizer que eleições "limpas e transparentes" têm que ser respeitadas

Dúvida sobre debate. Bolsonaro disse que ainda não bateu o martelo sobre sua ida ao debate presidencial marcado para domingo (28), em parceria entre o UOL, Folha de S.Paulo, Band e TV Cultura.

O candidato disse acreditar que será "fuzilado" pelos adversários caso compareça ao evento, mas já se preparou para as perguntas.

Eu sou um alvo compensador para eles, mas acredito que minha estratégia vai dar certo porque as perguntas... Eu já me preparei, né? As repostas vão ser simples, no tocante a responder que não devo nada. Então é tranquilo responder essas acusações que fizeram ao longo do tempo nas mídias, em especial, no tocante a covid

Conforme o colunista do UOL Kennedy Alencar, a campanha do PT decidiu que, se Bolsonaro não comparecer, Lula também não irá.

Guedes leal. Bolsonaro disse que, caso reeleito, Paulo Guedes continuará chefiando a pasta econômica e sinalizou que não pretende mudar os titulares dos demais ministérios. "Todos continuam", disse ele.

Questionado sobre o que admirava na personalidade de Guedes, chamado por ele de "Posto Ipiranga", o presidente disse que os dois são amigos e que seu subordinado é leal.

Muitas vezes — fazer uma confissão para vocês aqui, não é? —, indicar uma pessoa, por exemplo, para o Supremo Tribunal Federal, a um cargo qualquer, eu falo: a competência é importante? É. Mas esse cara tem que tomar tubaína contigo. Quando falei isso, o pessoal reclamou: 'O que é tomar tubaína contigo?' É ter uma aproximação maior com essa pessoa, e o Paulo Guedes eu tomo tubaína com ele sem problema nenhum

Carlos visado. Bolsonaro citou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), um de seus filhos, para justificar o perdão presidencial concedido ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) em abril deste ano após condenação por ameaças aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Ele declarou considerar que Carlos é "visado" para ser preso por fake news.

Daqui a pouco prende um filho por fake news, como o Carlos o tempo todo é visado, e eu vou agora... agora vou falar que não pode ser preso? O outro lá [Daniel Silveira] que falou besteira, ninguém nega isso aí, pega nove anos de cadeia. Não tem cabimento acontecer essas questões no Brasil

Apesar de dizer que foi alertado por aliados que o gesto causaria atritos com a corte, Bolsonaro explicou que fez uso de prerrogativa do chefe do Executivo para não arranjar confusão com a sua "consciência".

O presidente também criticou a operação da Polícia Federal que mirou oito empresários bolsonaristas, apesar de dizer que não iria "polemizar" a questão. "Você pode ver, o que faltou para prender esses oito empresários agora? Nada."

'Vê alguém pedindo pão?' Ao comentar sobre a fome no Brasil, o candidato questionou dados de que 30 milhões de brasileiros estariam na linha da pobreza. "Alguém vê alguém pedindo pão no caixa da padaria? Você não vê, pô".

De acordo com a segunda edição do Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, feita pela Rede Penssan (Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) e divulgada em junho deste ano, há 125 milhões de pessoas em insegurança alimentar (em grau leve, moderado ou grave) no Brasil e mais de 33 milhões em situação de fome (insegurança alimentar grave).

Eleições 'limpas e transparentes'. Assim como em sua entrevista na segunda-feira (25), ao Jornal Nacional, da TV Globo, Bolsonaro repetiu o discurso que coloca em dúvidas o sistema de votação brasileiro e disse que respeitará o resultado das eleições "limpas e transparentes".

Desde que as urnas eletrônicas foram implementadas — parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000 — nunca houve comprovação de fraude nas eleições brasileiras, mesmo quando os resultados foram contestados. A segurança da votação é constatada pelo TSE, pelo MPE e por estudos independentes.

'Ordem absurda'. Questionado sobre uma decisão de Moraes barrar uma campanha do governo federal que pretendia veicular peças publicitárias comemorativas acerca do bicentenário da República, o chefe do Executivo convocou seus apoiadores a saírem às ruas de verde e amarelo no dia 7 de setembro.

"Bem, nós vamos desfilar de verde e amarelo, tá? E são as cores da nossa bandeira. 200 anos de Independência, e vai marcar também uma eternidade de liberdade para nós. Então, as cores verde e amarelo são do Brasil. Ordem absurda não se cumpre. Se for verdadeiro isso aí, ordem absurda não se cumpre e ponto final", disse.

A decisão de Moraes, no entanto, não trata de proibição do uso das cores da bandeira para as manifestações.

Ainda sobre o presidente do TSE, Bolsonaro diz que tenta fazer sinais de aproximação, "mas não tem", o que, segundo ele, é prejudicial.

Orçamento secreto 'vai dar problema'. O chefe do Executivo federal disse ainda considerar que as emendas de relator, conhecidas como orçamento secreto, vão dar "problema um dia" e se isentou de responsabilidades em relação à execução do orçamento pelo Congresso.

O presidente disse ter vetado a aprovação das RP-9, mas lembrou que o veto foi derrubado no Congresso. "Eu não tenho nada a ver com isso, quem define as leis na ponta da linha não sou eu. Se derrubarem o veto, não tem mais conversa", declarou.

O orçamento secreto foi citado ontem por Lula na sabatina do Jornal Nacional e o petista disse que Bolsonaro seria um "bobo da corte" sem controle sobre o orçamento. Ele usou o mecanismo de comparação com o mensalão.

Eleição 'self-service'. Durante a entrevista, o presidente comparou o pleito eleitoral de outubro com um restaurante 'self-service' com "pouca coisa para escolher".

Ao usar o termo self-service ("autosserviço", em português), Bolsonaro repete uma estratégia utilizada quatro anos antes: apresentar-se não como o "melhor candidato", e sim como a opção mais palatável ao gosto do eleitor.

Na corrida ao Planalto, Bolsonaro e Lula aparecem como os dois principais candidatos nas pesquisas de intenções de voto, com maior ou menor vantagem para o petista, dependendo do instituto que faz a sondagem.

Moro poderia ter sido vice. Bolsonaro disse ainda que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro poderia ter sido seu companheiro de chapa nas eleições deste ano se a relação entre os dois continuasse boa — Moro deixou a pasta em 2020 acusando o presidente de interferência na Polícia Federal.

O presidente declarou considerar que "o poder subiu à cabeça" de Moro e repetiu que o ex-juiz tinha pretensões de ser indicado a uma vaga no STF, o que Moro nega, e disse que ele "jamais passaria numa sabatina" no Senado para ocupar a vaga.

Empresários, podcast e festa em Barretos. De manhã, durante encontro com empresários, Bolsonaro criticou a entrevista concedida por Lula ao Jornal Nacional, da TV Globo, na noite de ontem (25) e fez um discurso cheio de palavrões.

Após participar do programa da Jovem Pan, ele tem uma entrevista marcada para o final da tarde no podcast Ironberg.

Depois desse compromisso, o presidente viaja à cidade de Barretos (SP), para participar da festa de Peão de Boiadeiro durante a noite. Após o evento, ele retorna a Brasília.