A deputados europeus, Lula propõe mudanças na ONU para decidir sobre clima
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) propôs hoje uma repactuação na composição da ONU (Organização das Nações Unidas) a deputados europeus em encontro em São Paulo. Para o petista, lideranças internacionais precisam criar uma governança global em torno do meio ambiente.
Como parte da agenda internacional que tem feito desde o fim do ano passado, Lula se encontrou com 13 parlamentares e representantes da S&D (Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas) do Parlamento Europeu. Ele recebeu um documento com propostas de cooperação entre Brasil e União Europeia, em caso de vitória, e apoio do grupo.
Governança global sobre o clima: Aos eurodeputados, Lula propôs que é preciso haver uma direção global que gerencie as decisões climáticas. Segundo ele, este é o tema "mais essencial" para o mundo hoje e que já não pode ser mais ignorado nem tratado como um assunto particular de cada país.
O ex-presidente criticou a forma como temas climáticos são gerenciados hoje, em que há debates internacionais para formulação de diretrizes, porém cada país decide se vai ou não acatar e assinar os protocolos. Para Lula, isso já não funciona mais.
O que nós precisamos é repactuar os participantes da ONU. É tentar colocar outros países de outros continentes para que a gente crie uma nova governança e preste atenção numa coisa séria: a gente não resolverá a questão climática se não tiver uma governança mundial que decida e que todos tenham que cumprir. Porque, se a gente continuar querendo discutir a questão climática decidindo nos encontros que nós fazemos a nível internacional e, depois, cada país tenta resolver seu negócio no seu estado nacional, [a mudança] não vai acontecer."
Lula, a deputados europeus
Mudança na ONU: O ex-presidente voltou a falar de uma reformulação da ONU. Em coletiva à imprensa estrangeira na semana passada, ele já havia dito que é preciso incluir novos países no Conselho de Segurança da organização para se adequar à geopolítica do Século XXI.
A gente vai trabalhar muito para que a gente construa uma nova governança nas Nações Unidas. A ONU de 2022 não pode continuar a ser a ONU de 1948. A geografia do mundo mudou, os países mudaram. Houve um avanço cultural extraordinário em cada país."
Lula
Uma mudança relevante para o ex-presidente seria aumentar o número de membros permanentes do Conselho de Segurança e acabar com o poder de veto. Criado em janeiro de 1946, após a Segunda Guerra Mundial, o conselho só tem cinco países (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia), que têm poder de, mesmo isolados, vetar as propostas.
Soberania e parceria na Amazônia: A sustentabilidade tem sido um dos principais temas abordados pela campanha e pelo plano de governo petista, que deve ser apresentado formalmente no início de setembro. Lula referendou que o Brasil precisa ser soberano em seu território, porém que, caso eleito, pretende estabelecer parcerias com outros países para desenvolvimento da floresta.
Qual é o papel do Brasil? Nós precisamos de ajuda, de parceria, de investimento, de troca de ciência e tecnologia na participação da construção de um mundo efetivamente limpo, sem emissão de gás carbônico. E o Brasil pode ser protagonista nisso. Da Amazônia, a gente pode extrair da riqueza, da biodiversidade, o suficiente para sustentar os mais de 30 milhões de brasileiros que moram na região, e na Colômbia, no Peru.O Brasil precisa compartilhar a pesquisa para que a gente descubra tudo que existe de riqueza na biodiversidade da Amazônia."
Entre as diretrizes do plano de governo, há a defesa da soberania da Amazônia pelo Brasil e países vizinhos, do combate ao garimpo ilegal e da transformação da exploração na floresta a técnicas mais sustentáveis e setores mais compatíveis, como o farmacêutico, deixando de lado o desmatamento para criação de gado.
"O Brasil não vai se fechar em copa, o Brasil pretende construir relação com os países para que a gente possa dizer: embora o Brasil é o dono do território da Amazônia, a Amazônia é de interesse da biodiversidade [mundial], então todos têm responsabilidade para ajudar a cuidar da Amazônia", prometeu Lula, em sinal duplo de concessão e compromisso, aos deputados.
Apoio da frente socialista: Lula recebeu ainda apoio da S&D. No encontro, dois eurodeputados da Espanha e de Portugal falaram sobre uma diminuição do protagonismo do Brasil internacionalmente e como o país precisa melhorar sua imagem para fora.
"Como tem se deteriorado a imagem do país [Brasil] no exterior. Na Europa, a imagem de como o Brasil está destruído, o Brasil da igualdade social. Por isso, estamos muito conscientes da importância dessa troca [de governo]", criticou Iratxe Garcia Perez, presidente da S&D e eurodeputada pela Espanha, em crítica à gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O Brasil deixou de performar e apresentar um papel importante no âmbito internacional. Sabemos que isso ocorreu no governo Bolsonaro. O Brasil precisa voltar a assumir esse papel de fortaleza.
Iratxe Garcia Perez, presidente da S&D
Agenda internacional: Desde o final do ano passado, o ex-presidente Lula tem tentado formar uma agenda internacional, com encontros com diferentes lideranças estrangeiras —com intuito também de se contrapor ao isolamento institucional ao qual atribui o governo Bolsonaro.
- Em novembro do ano passado, ele foi recebido com protocolo de chefe de Estado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em visita a Paris.
- Em maio, recebeu a princesa Marie-Esméralda Léopoldine, integrante da família real da Bélgica, em encontro feito a portas fechadas de "caráter particular".
- No início de julho, recebeu o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, também para uma reunião informal. Bolsonaro também ia se encontrar com o português, mas se irritou com a agenda com Lula e decidiu cancelar toda a programação.
- No fim do mesmo mês, recebeu a nova vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, eleita em junho junto a Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia.
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