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Lula e Bolsonaro fogem do confronto e optam por entrevistas com amigos

Lula (PT) e Bolsonaro (PL) em entrevista ao Jornal Nacional - Reprodução/TV Globo)
Lula (PT) e Bolsonaro (PL) em entrevista ao Jornal Nacional Imagem: Reprodução/TV Globo)

Do UOL, em São Paulo

01/09/2022 04h00

Na corrida pelo Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vêm dando pouco espaço a grandes jornais e emissoras de TV nas entrevistas concedidas à imprensa. Nas últimas semanas, os candidatos têm preferido falar com rádios de alcance local ou com veículos de audiência mais alinhada a seu eleitorado.

Um levantamento do UOL Notícias aponta que Bolsonaro e Lula deram, nos últimos dois meses, praticamente o mesmo número de entrevistas, mas com focos diferentes. Enquanto o atual presidente privilegiou influenciadores de direita, o petista deu mais atenção a portais de notícia nacionais e estrangeiros, críticos ao bolsonarismo. Em comum, ambos têm atendido pedidos de rádios em suas agendas pelo país.

Quantas entrevistas Lula e Bolsonaro concederam recentemente? Conforme levantou o UOL Notícias com base nas agendas dos candidatos, Bolsonaro concedeu 9 entrevistas desde o dia 1º de julho, enquanto Lula falou 10 vezes com veículos de comunicação. Foram consideradas apenas entrevistas formais, marcadas previamente, e não declarações à imprensa em eventos oficiais ou agendas de campanha.

Bolsonaro praticamente não deu entrevistas em julho, mas aumentou a frequência a partir do início de agosto, mês em que a campanha teve início formal.

Lula, por sua vez, deu a maioria das entrevistas em julho e não falou com a imprensa na primeira metade de agosto, mas voltou a ter encontros com veículos nos últimos dias.

Os líderes da pesquisa não perderam, no entanto, a oportunidade de falar ao "Jornal Nacional", da TV Globo, que os sabatinou na semana passada —as entrevistas não deixaram de abordar assuntos incômodos a cada um deles. Por ser o telejornal de maior audiência do país, o programa da Globo foi visto pelas campanhas de ambos como uma chance de alcançar um público que não os acompanha.

Qual o perfil dos canais que entrevistaram Lula? A agenda de entrevistas de Lula foi dominada por rádios, em conversas em tom mais amistoso.

Em geral, Lula encontra um ambiente com poucas perguntas espinhosas ao falar às rádios. Em Salvador, por exemplo, o petista deu entrevista ao radialista Mário Kértesz, com posicionamento abertamente de esquerda e contrário a Bolsonaro.

Mas ele também deu declarações a jornais estrangeiros, inclusive uma entrevista coletiva a vários deles, e também falou com portais de notícia nacionais. Foi o caso do "UOL Entrevista", que conversou com o ex-presidente no dia 17 de julho. Estes foram os compromissos de 1º de julho até ontem:

  • 31/08 - Rádio Clube (Belém-PA)
  • 30/08 - Rádio Mais Brasil FM (Manaus-AM)
  • 25/08 - Jornal Nacional (TV Globo)
  • 22/08 - Coletiva a veículos estrangeiros
  • 17/08 - Rádio Super FM (Belo Horizonte-MG)
  • 27/07 - Rádio Difusora (Goiânia-GO)
  • 27/07 - UOL
  • 12/07 - Correio Braziliense
  • 11/07 - Financial Times (Reino Unido)
  • 01/07 - Rádio Metrópole FM (Salvador-BA)

Exceto pela sabatina ao "Jornal Nacional", no último dia 25, Lula não falou a nenhuma emissora de TV no período, mas deu atenção à imprensa escrita: além de ser entrevistado pelo UOL em 27 de julho, o petista falou ao jornal Correio Braziliense no dia 11 daquele mês. Em julho, o ex-presidente também esteve com o periódico britânico Financial Times.

Em julho, tanto Lula quanto Bolsonaro recusaram um convite do canal GloboNews para falarem no programa "Central das Eleições", que procurou ouvir os principais candidatos ao Planalto. O petista também declinou, em agosto, de um convite para falar à rádio Jovem Pan, que planejava fazer uma sabatina com o candidato no último dia 24.

Qual o perfil dos canais que entrevistaram Bolsonaro? Em contraste com Lula, Bolsonaro não atendeu nenhum veículo de imprensa escrita no período analisado. Ele deu quatro entrevistas a rádios, uma delas evangélica, e foi a três canais de influenciadores alinhados. Dois deles, os podcasts Flow e Cara a Tapa —do jornalista Rica Perrone— tiveram audiência na casa das centenas de milhares. Estas foram as entrevistas:

  • 26/08 - Pânico, da Jovem Pan (São Paulo-SP)
  • 26/08 - Ironberg Podcast
  • 22/08 - Jornal Nacional (TV Globo)
  • 18/08 - Rádio 98 FM (Belo Horizonte-MG)
  • 13/08 - Podcast Cara a Tapa
  • 08/08 - Flow Podcast
  • 02/08 - SBT
  • 02/08 - Rádio Guaíba (Porto Alegre-SP)
  • 02/07 - Louvorzão FM (Rio de Janeiro-RJ)

Lula não deu nenhuma entrevista a podcasts nesse período, mas também não ignora o segmento. Em outubro do ano passado, o petista falou ao PodPah, de perfil voltado ao público jovem e antagonista ao bolsonarismo. O atual presidente, por sua vez, falou recentemente com o podcast Ironberg, voltado a fisiculturistas.

Bolsonaro tem, também, mais entrada do que Lula em emissoras de TV. Além de ter falado com o SBT no início do mês, o chefe do Executivo vai falar hoje com a Rede TV!, em entrevista que será exibida às 20h. Ambas as emissoras são menos hostis ao bolsonarismo do que a TV Globo, por exemplo.

O que significam as escolhas dos candidatos? Para o cientista político Joscimar Silva, professor da UFPI (Universidade Federal do Piauí), a opção de Lula e Bolsonaro por veículos simpáticos ou alternativos à imprensa hegemônica é fruto de sua popularidade. Como ambos já são amplamente conhecidos, não é fundamental para eles ter grande presença nas emissoras de TV, por exemplo.

"Os dois estão tentando trabalhar principalmente nos públicos que têm menos rejeição a eles. Ou seja: falando para mídias que são mais alinhadas ao próprio discurso e, de certa forma, tentando reforçar sua imagem com os eleitores que no passado já haviam votado neles", avalia Silva, que é diretor da Abrapel (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais).

Para o analista, Lula e Bolsonaro também teriam a percepção de que estariam submetidos a questionamentos mais duros em determinados veículos da imprensa tradicional.

Existe a visão de que a grande mídia seria mais crítica à campanha e à candidatura. Ambos os candidatos, por exemplo, aventaram não comparecer ao último debate, e não se sabe se estarão nos próximos. Isso dá uma noção da forma que as próprias campanhas interpretam as aparições na grande mídia
Joscimar Silva, cientista político e professor da UFPI

A estratégia de Lula e Bolsonaro é acertada? Silva vê riscos à decisão dos líderes nas pesquisas eleitorais de evitar contato com veículos fora de suas "bolhas". Para ele, a escolha pode fazer com que ambos fiquem restritos ao eleitorado já predisposto a votar em cada um.

"Isso pode ser um erro de campanha porque a grande mídia, em tese, tem maior capacidade de alcançar indecisos. As tevês e os jornais são ainda um canal importante de comunicação de campanha. E estas aparições —tanto a do Jornal Nacional quanto o debate no domingo— têm o poder de suscitar temas. Eles voltam à pauta quando são expostos nessas ocasiões", avalia.