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Crítico do 'Fundão', Novo é o principal beneficiado por doações privadas

Felipe D"Avila (Novo) chamou a verba pública destinada aos partidos de "indecência" no debate - Comunicação Band
Felipe D'Avila (Novo) chamou a verba pública destinada aos partidos de 'indecência' no debate Imagem: Comunicação Band

Do UOL, em São Paulo

08/09/2022 04h00

Crítico do uso de dinheiro público na campanha eleitoral, o Novo é o partido que mais se beneficiou até agora de doações privadas. A menos de um mês do primeiro turno, os candidatos da sigla aparecem como os que mais conseguiram, em média, arrecadar recursos de pessoas físicas para suas campanhas.

Dados parciais levantados pelo UOL no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na quarta-feira (7) mostram que já foram doados R$ 16 milhões para candidaturas do Novo, média de R$ 33,5 mil para cada um dos 479 filiados que concorrem a um cargo.

A quantia de dinheiro privado que o Novo arrecadou até agora já é superior à fatia que sete partidos têm direito do Fundo Eleitoral, verba pública destinada às legendas em atividade no país: Democracia Cristã, com R$ 14,5 milhões, e PRTB, PSTU, UP, PMB, PCB e PCO, com R$ 3,1 milhões cada um.

Em 2015, o STF (Supremo Tribunal Federal) proibiu doações de empresas a candidatos e partidos políticos. Desde então, o principal meio de financiar as candidaturas se tornou o Fundo Eleitoral, R$ 4,9 bilhões em recursos públicos para este ano. As campanhas podem também usar o Fundo Partidário, mais R$ 1,1 bilhão de dinheiro público.

As cifras privadas da eleição. No total, pessoas físicas haviam doado R$ 189,7 milhões para campanhas até terça-feira (7). Também há dados de candidatos que doaram para suas próprias campanhas, quantia que soma R$ 65,3 milhões, e recursos de financiamentos coletivos de R$ 7,5 milhões.

Sem fundão... Em agosto, o Novo devolveu aos cofres do Tesouro Nacional os R$ 89,2 milhões a que tinha direito pela distribuição de recursos do Fundo Eleitoral.

A legenda foi uma das principais críticas à LOA (Lei Orçamentária Anual) do Fundo Eleitoral para o financiamento de campanhas nas eleições deste ano aprovada pelo Congresso no ano passado, que estabeleceu o repasse bilionário.

No ofício enviado ao TSE, o presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, argumentou que a devolução dos recursos permitiria "gastos em saúde, segurança e educação e não em campanhas milionárias". O partido ainda defendeu ser o "único a respeitar o dinheiro do cidadão". O diretor-geral do tribunal, Rui Moreira, aceitou o pedido de devolução e encaminhou uma guia de recolhimento dos valores à União.

Felipe D'Avila é o candidato à Presidência que declarou o maior patrimônio: R$ 24 milhões - Divulgação/ Novo - Divulgação/ Novo
Felipe D'Avila é o candidato à Presidência que declarou o maior patrimônio: R$ 24 milhões
Imagem: Divulgação/ Novo

...mas com doações milionárias. Se por um lado, a sigla não conta com os recursos públicos, por outro, ela é a principal beneficiária, até o momento, de doações milionárias realizadas por grandes empresários.

Pessoas físicas podem fazer doações, no limite de 10% de seu rendimento no ano anterior à eleição

Segundo dados do TSE, Salim Mattar, fundador da Localiza, é o segundo maior doador de campanhas até o momento. Sozinho, ele contribuiu com R$ 3,125 milhões para 27 candidaturas, sendo 18 filiadas ao Novo.

Nove candidatos estão entre os principais beneficiários do empresário, sete do Novo, com o recebimento de R$ 250 mil cada um. Todos concorrem a uma cadeira na Câmara.

Mattar aparece na 190ª posição na lista de bilionários brasileiros da Forbes do ano passado, com patrimônio estimado em R$ 2,42 bilhões.

PL é o que mais arrecadou no total. O partido que o presidente Jair Bolsonaro escolheu para disputar a reeleição foi o que mais arrecadou doações privadas no total - R$ 27,1 milhões.

A média por candidato, no entanto, é de R$ 16,8 mil, inferior à do Novo, devido à quantidade bem maior de postulantes — 1.608.

Na sequência, aparece o PSD, que recebeu R$ 18,3 milhões em doações privadas com média de R$ 15,4 mil para cada um de seus 1.185 candidatos.

Candidato do Novo é o mais rico a disputar Presidência. Felipe D'Avila chegou na corrida como o dono do maior patrimônio entre os candidatos, com R$ 24 milhões declarados, entre casas e investimentos.

D'Avila é casado com Ana Maria Diniz, filha do empresário Abílio Diniz. O candidato já atuou no mercado editorial e fundou uma empresa de geração de energia com biomassa.

'Fundão' no debate. Durante o debate presidencial realizado em 28 de agosto, o 'Fundão' foi tema de um dos embates entre D´Avila e a senadora Soraya Thronicke (União Brasil). Ele chamou a verba de "indecência" e "excrescência" e disse que ela deveria ser destinada para saúde e educação.

Que dignidade é essa, de se aprovar um fundão eleitoral de R$ 5 bilhões, tirar dinheiro da educação, do combate à pobreza, de atendimento médico, para financiar campanha política, para todo mundo vir aqui no debate, de jatinho, enquanto tem gente passando fome? Qual é a dignidade de se aprovar uma excrescência que é esse fundo eleitoral, uma indecência?
Felipe D'Avila

Soraya rebateu citando o patrimônio de D´Avila e as doações milionárias feitas a candidatos do Novo.

Candidato, nem todos têm o patrimônio que o senhor tem e que muitos doadores da campanha de vocês têm para tocar uma campanha, que é caro. Muito cara. Se nós não tivéssemos o Fundo Eleitoral para financiar a democracia, nós nunca -- principalmente nós, mulheres --, jamais teríamos acesso à política. Ainda é necessário.
Soraya Thronicke

O que diz o Novo. Questionado pelo UOL, o partido afirmou que não é só crítico ao Fundão, mas busca "dar o exemplo". "Lutamos contra a aprovação e devolvemos a nossa cota. Muita gente doa para o partido porque compartilha dos nossos ideais, mas também por causa dessa coerência. Sabem que nossos candidatos serão os únicos com autoridade moral para lutar contra o Fundão e tantos outros absurdos pagos com recursos públicos."

UP na lanterna. O Unidade Popular, que lançou Leonardo Péricles à Presidência, é o partido com menos doações. Até o momento recebeu R$ 3.850, média de R$ 58,30 para cada um de seus 66 candidatos.

Já o PCB, que lançou Sofia Manzano para o Palácio do Planalto, aparece na vice-lanterna. Com 85 candidatos, a legenda recebeu R$ 11,9 mil de pessoas físicas, média de R$ 140 para cada um.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, UP é a sigla de Unidade Popular, e não União Popular. O texto foi corrigido.