Bolsonaro, após Ipec: 'Se acredita em pesquisas, não vou falar contigo'
Um dia após a divulgação da pesquisa Ipec que apontou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 47% das intenções de voto e a possibilidade de vitória do petista no primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) votou a criticar as pesquisas eleitorais. O candidato à reeleição registrou 31%.
Ao deixar o hotel em que está hospedado em Nova York para se dirigir à 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) na manhã de hoje, Bolsonaro respondeu ao jornalista Leandro Prazeres, da BBC Brasil:
"Essas pesquisas não valem de nada. Se você acredita em pesquisas, não vou falar contigo."
Questionado sobre se entregaria o cargo após uma eventual derrota nas urnas, o presidente da República afirmou: "Não vou falar em hipóteses. Vamos ganhar no primeiro turno".
Segundo a pesquisa Ipec contratada pela TV Globo e divulgada ontem, Lula está 16 pontos percentuais à frente de Bolsonaro.
Em comparação à pesquisa anterior, de 12 de setembro, o petista passou de 46% para 47%, uma oscilação positiva dentro da margem de erro —que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Já Bolsonaro repetiu os 31% do levantamento da semana passada.
O Ipec aponta que Lula tem 52% dos votos válidos —quando são excluídos brancos, nulos e indecisos. Por conta da margem de erro, o petista tem entre 50% e 54% dos votos válidos. Para vencer o pleito sem necessidade de 2º turno, o candidato precisa de 50% mais 1 dos votos válidos, de acordo com a Lei das Eleições do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Datafolha x 'datapovo'
Em discurso em Brasília durante a comemoração do 7 de Setembro, Bolsonaro afirmou que as pessoas presentes "eram o verdadeiro resultado" e chamou o instituto Datafolha de "mentiroso".
Entretanto, é impossível comparar uma pesquisa eleitoral com quantas pessoas vão a um ato. Enquanto a manifestação atrai apenas apoiadores, os levantamentos têm a intenção de entender como pensam todos os eleitores.
"A pesquisa eleitoral segue critérios científicos, tem metodologia aplicada, amostra, distribuição do perfil que você vai entrevistar, tudo isso é controlado", diz Luciana Chong, gerente de pesquisas de opinião do Datafolha.
Numa manifestação, você não tem controle nenhum, as pessoas que estão lá não representam o total da população. Quando você faz uma pesquisa, o objetivo é representar o total do eleitorado." Luciana Chong
Como seria impossível entrevistar todos os eleitores individualmente, os institutos usam uma amostra. O diretor do instituto Quaest, Felipe Nunes, explica que amostra é uma parte para mostrar o todo.
"O exame de sangue é um exemplo que todo mundo sabe. Para medir o colesterol, a glicose, você não tira o sangue inteiro da pessoa. Você tira um pouquinho, e a partir dali você estima qual é a glicose, o colesterol. É a mesma coisa que a gente faz em uma pesquisa, tira um pedacinho da população para fazer a estimativa do todo".
Mensalmente, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) atualiza os dados sobre o eleitorado brasileiro: quantas pessoas são, qual a idade, a renda, o gênero, grau de instrução, entre outros. A informação fica disponível no site da Corte. Além disso, os institutos também usam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e levantamentos próprios para orientar as pesquisas.
Por exemplo, até agosto deste ano, 53% do eleitorado brasileiro era feminino, enquanto 47% era masculino. Logo, para corresponder à realidade, 53% dos entrevistados da amostra da pesquisa devem ser mulheres e 47%, homens.
(*Com informações de Estadão Conteúdo e Anna Satie, do UOL, em São Paulo)
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