Datafolha x datapovo: Por que não dá para comparar pesquisa e manifestação
O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, disse hoje que o instituto Datafolha é "mentiroso". Em discurso em Brasília durante a comemoração do 7 de Setembro, ele afirmou que as pessoas presentes "eram o verdadeiro resultado".
"Nunca vi um mar tão grande aqui, com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a mentirosa Datafolha, aqui é o nosso 'Datapovo'. Aqui a verdade, aqui a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador", afirmou.
Entretanto, é impossível comparar uma pesquisa eleitoral com quantas pessoas vão a um ato. Enquanto a manifestação atrai apenas apoiadores, os levantamentos têm a intenção de entender como pensam todos os eleitores.
"A pesquisa eleitoral segue critérios científicos, tem metodologia aplicada, amostra, distribuição do perfil que você vai entrevistar, tudo isso é controlado", diz Luciana Chong, gerente de pesquisas de opinião do Datafolha.
Numa manifestação, você não tem controle nenhum, as pessoas que estão lá não representam o total da população. Quando você faz uma pesquisa, o objetivo é representar o total do eleitorado
Luciana Chong
Como seria impossível entrevistar todos os eleitores individualmente, os institutos usam uma amostra. O diretor do instituto Quaest, Felipe Nunes, explica que amostra é uma parte para mostrar o todo.
"O exame de sangue é um exemplo que todo mundo sabe. Para medir o colesterol, a glicose, você não tira o sangue inteiro da pessoa. Você tira um pouquinho, e a partir dali você estima qual é a glicose, o colesterol. É a mesma coisa que a gente faz em uma pesquisa, tira um pedacinho da população para fazer a estimativa do todo".
Mensalmente, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) atualiza os dados sobre o eleitorado brasileiro: quantas pessoas são, qual a idade, a renda, o gênero, grau de instrução, entre outros. A informação fica disponível no site da Corte. Além disso, os institutos também usam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e levantamentos próprios para orientar as pesquisas.
Por exemplo, até agosto deste ano, 53% do eleitorado brasileiro era feminino, enquanto 47% era masculino. Logo, para corresponder à realidade, 53% dos entrevistados da amostra da pesquisa devem ser mulheres e 47%, homens.
'Pesquisa não é previsão do futuro'
Apesar de representarem o pensamento das pessoas em um determinado período, as pesquisas não têm como objetivo acertar o resultado do dia da votação.
"As pesquisas são diagnósticos do momento, não são prognósticos do que vai acontecer no futuro", diz Felipe Nunes, da Quaest.
Ele explica que, como as pessoas usam as pesquisas para se informar e tomar decisões, seria impossível que elas previssem precisamente como seria a votação.
"Não há nenhuma dúvida que as manifestações de hoje são significativas, com muita gente na rua. Mas eu também não tenho a menor dúvida que essa não é a amostra representativa do eleitorado brasileiro", analisou.
Não é só o Datafolha
No último levantamento do Datafolha, divulgado na última quinta (1°), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha 45% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tinha 32%. Pesquisas de outros seis institutos também mostram o petista à frente do atual presidente.
- PoderData (divulgada em 7 de setembro): Lula 43% x Bolsonaro 37%
- Quaest (divulgada em 7 de setembro): Lula 44% x Bolsonaro 34%
- Ipec (divulgada em 5 de setembro): Lula 44% x Bolsonaro 31%.
- BTG/FSB (divulgada em 5 de setembro): Lula 42% x Bolsonaro 34%
- Ipespe (divulgada em 31 de agosto): Lula 43% x Bolsonaro 35%
- CNT/MDA (divulgada em 30 de agosto): Lula 42,3% x Bolsonaro 34,1%
O Datafolha faz parte do Grupo Folha, que tem participação minoritária, indireta e em ações sem direito a voto no UOL.
O instituto só realiza pesquisas eleitorais financiadas por grupos de comunicação. As pesquisas geralmente são feitas abordando entrevistados em pontos de grande fluxo de pessoas em áreas estabelecidas conforme distribuição do eleitorado brasileiro.
Agregador de pesquisas
O agregador de pesquisas do UOL também mostra o presidente atrás do petista. A ferramenta criada pelo estatístico Neale El-Dash, do site Polling Data, reúne pesquisas de opinião feitas por 20 empresas diferentes.
No cenário eleitoral de primeiro turno, Lula aparece com 40,4% das intenções de voto e Bolsonaro, com 34,5%.
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