Com Lula no Sudeste, Alckmin vai sozinho a redutos bolsonaristas
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) começa hoje uma viagem a redutos bolsonaristas do Centro-Oeste e do Norte sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com objetivo de se encontrar com representantes do agronegócio, setor de grande apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), Alckmin passará dois dias entre Goiás, Mato Grosso e Rondônia.
Lula seguirá o plano de focar no Sudeste nesta reta final. A menos de 15 dias das eleições, o objetivo da campanha é ampliar a vantagem necessária para garantir uma possível vitória no primeiro turno, que esbarra na margem de erro na maioria das pesquisas.
O plano é cobrir diferentes áreas: enquanto Alckmin fala sobre economia e negócios a um público mais conservador, Lula tenta chegar ao maior número de pessoas possível, com grandes comícios e foco nas classes média e baixa.
De olho no agro. Alckmin chega a Goiânia pela manhã e parte à tarde para Cuiabá. Amanhã (22), voa para Porto Velho e regressa para São Paulo na sexta-feira (23).
A agenda rápida tem um objetivo: promover encontros e reuniões com empresários do agronegócio. Ele estará acompanhado do senador Carlos Fávaro (PSD-MT) e do deputado Neri Geller (PP-MT), que apesar de integrarem parte da base do governo Bolsonaro, têm sido os principais fiadores e interlocutores da campanha lulista com o setor na região.
Até então, a principal demanda do setor, recebida pela campanha, é a redução do custo de produção, que passa pela retração do dólar e, consequentemente, do valor do diesel —mas não só isso. Para os empresários do agronegócio, também é fundamental diminuir o valor dos fertilizantes, por meio da retomada da produção nacional pela Petrobras.
Em alinhamento com as propostas de desenvolvimento sustentável que a campanha tem debatido, em especial por influência da Rede e do PV, eles também trataram do chamado crédito verde, com queda de juros para produtores agrícolas sustentáveis.
Como tem feito com outros setores, a campanha quer ouvir diretamente o que os produtores têm a dizer. Neste cenário, Alckmin fará o papel de conciliador. Com fala mansa e imagem de moderado, a campanha aposta que ele consegue chegar a perfis mais resistentes.
No coração do bolsonarismo. Os três estados são, hoje, grandes redutos bolsonaristas. Três pontos chamam atenção do PT:
- O partido não ganha nacionalmente nos três desde que Lula era candidato. Em Mato Grosso, desde o segundo turno de 2002; e em Goiás e Rondônia, desde o segundo turno de 2006.
- Bolsonaro tem a dianteira numérica nas pesquisas nos três estados. Em Goiás, com empate técnico, o presidente tem 2,7 pontos percentuais de vantagem sobre Lula (38,7% x 36%), mas cinco a menos de rejeição (31,5% x 37,6%), enquanto em Mato Grosso a vantagem é de nove pontos e, em Rondônia, ele venceria no primeiro turno.
- Bolsonaristas lideram para os governos estaduais, sem nenhum candidato viável do PT. Em Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) pode ser reeleito em primeiro turno enquanto Walmir Amado (PT) não chega a 5% das intenções. Já em Mato Grosso --que também indica reeleição de Mauro Mendes (União Brasil) em primeiro turno-- e em Rondônia --com liderança dos bolsonaristas Marcos Rocha (União Brasil) e Ivo Cassol (PP)--, o PT nem tem candidato.
Embora deva fazer algum evento público junto a Fávaro e Geller, Alckmin não deverá ter o foco eleitoral que tem tido, o objetivo será ouvir propostas e apelos do setor.
Cada um no seu quadrado. Este é um dos motivos, também, para Lula não ter encaixado a região em sua agenda. A campanha considera esses estados "casos perdidos" em relação a reverter votos bolsonaristas.
A ideia é mostrar aos produtores que eles têm espaço na campanha, mas focar a presença do candidato onde há mais potencial de crescimento entre os indecisos —atrás dos pontos percentuais que quer conquistar para liquidar no primeiro turno.
Há, ainda, a questão da segurança. Com a escalada da violência e casos de assassinato de petistas por bolsonaristas —um deles em Goiás—, a preocupação com a segurança do candidato na reta final também foi colocada em questão.
Quanto mais gente, melhor. Não à toa, Lula tem dedicado as últimas semanas entre os três maiores colégios eleitorais do país (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), que, juntos, somam 40,6% do eleitorado enquanto os três estados em questão somam 5,5%.
Com Lula liderando nos três, a campanha também vê maior chance de convencimento do eleitor indeciso ou de virar voto de Ciro Gomes (PDT) ou Simone Tebet (MDB).
- O ex-presidente vai a Ipatinga, no interior de Minas, na sexta (23) --é a sexta cidade do estado que ele visita desde a pré-campanha.
- Faz dois grandes comícios em São Paulo no sábado (24), um da zona leste e outro na zona sul, com o ex-ministro Fernando Haddad (PT), candidato ao governo do estado.
- No domingo (25), faz mais dois atos no Rio de Janeiro, um na quadra da Portela com o prefeito Eduardo Paes (PSD), em Madureira, na zona norte, e outro na Lapa, região central, com o deputado Marcelo Freixo (PSB), também candidato ao governo do estado.
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