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PT tenta, mas não consegue FHC e Serra para frente pró-Lula no 1º turno

Lula e FHC durante almoço, em maio de 2021 - Ricardo Stuckert
Lula e FHC durante almoço, em maio de 2021 Imagem: Ricardo Stuckert

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o senador José Serra (PSDB-SP) foram sondados pelo PT para um possível apoio à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já no primeiro turno, mas as conversas não seguiram.

O plano era que os tucanos integrassem a frente de ex-presidenciáveis em torno da candidatura de Lula, reunidos ontem em São Paulo, mas o senador recusou e o ex-presidente não tem se envolvido na vida pública por motivos de saúde. Entre aliados e ex-rixas, a campanha conseguiu somar oito ex-oponentes em torno do petista.

Dois dos chamados "tucanos históricos" aderiram: além do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na chapa, o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) não só já declarou voto em Lula como participou de um comício em São Paulo —ele foi candidato a vice na chapa de Aécio Neves (PSDB-MG) em 2014.

O objetivo do PT é reforçar o discurso eleitoral de Lula de formar uma "frente ampla pela democracia". Desde o início do ano, o partido tem tentado formar uma imagem de união suprapartidária em torno do petista, tentando diminuir a rejeição —com FHC e Serra, que enfrentaram o PT nas eleições gerais, duas vezes cada, o discurso ficaria fortificado.

Ex-adversários. Com o apoio da ex-ministra Marina Silva (Rede), na última semana, Lula reuniu o apoio de seis dos 13 presidenciáveis de 2018. Ontem, ele reuniu essas personalidades e mais outras duas que disputaram eleições anteriores.

Essa é a lista dos que compareceram ao evento:

  • Guilherme Boulos (PSOL),
  • Luciana Genro (PSOL),
  • Cristovam Buarque (Cidadania),
  • Marina,
  • Alckmin,
  • Fernando Haddad (PT),
  • Henrique Meirelles (União Brasil) e
  • João Goulart Filho (PCdoB).

Recusou: Serra tem sido sondado desde que o PSDB desistiu oficialmente de lançar um candidato ao Planalto, mas não tem dado resposta. As interlocuções são feitas em especial por Alckmin, ex-colega de partido por 33 anos, e pelo ex-ministro Aloízio Mercadante (PT), coordenador do plano de governo de Lula.

Dessa vez, Serra não só negou se juntar à frente como deu uma entrevista na última sexta (16), antes do anúncio dos apoios por parte da campanha lulista, em que referendava o voto na senadora Simone Tebet (MDB-MS), candidata do PSDB, que tem a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) como vice.

"Dizer que vou apoiar Lula, ainda mais pelo voto útil, é pura fake news. É PT sendo PT, que pensa que democracia vale só se for pra eles. Minha candidata é Simone", disse Serra à CNN Brasil.

Opositor histórico do PT e candidato à presidência em 2002, derrotado por Lula, e 2010, derrotado por Dilma Rousseff (PT), ele também se tornou um dos grandes críticos da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). No primeiro turno, por enquanto, deverá seguir com a terceira via.

Motivos de saúde: O ex-presidente FHC também foi considerado, mas não tem se envolvido em temas públicos recentemente por causa da saúde.

Em uma relação de amor e ódio com Lula desde o fim dos anos 1970, quando ambos lutaram pela redemocratização e o então sindicalista fez campanha para o atual tucano (então MDB) ao Senado, os dois trocaram afagos no ano passado.

Crítico ferrenho de Bolsonaro, FHC, presidente de honra do PSDB, tem lutado nos últimos anos para que o partido se afaste do bolsonarismo, apesar da alta adesão na Câmara. Em maio de 2021, os dois se reuniram na casa do ex-ministro Nelson Jobim, que trabalhou no governo de FHC e Lula, e o tucano chegou a dizer que votaria no petista contra o atual presidente.

Agora, a expectativa petista era que o apoio se consolidasse formalmente, como fizeram outros presidenciáveis. O problema é que, aos 91 anos, o ex-presidente passa por um momento delicado de saúde e não anda recebendo muitas visitas.

Segundo fontes ouvidas pelo UOL, seria este o principal motivo para ele não se pronunciar e para o PT e Lula, em respeito, não pedirem o gesto explicitamente. A reportagem procurou a assessoria de comunicação do ex-presidente, mas não teve retorno até o fechamento.

Com ajuda tucana: É frequente ver membros da campanha fazendo relações com o movimento de redemocratização Diretas Já, dos anos 1980 —este foi o tom de hoje. Com nomes ligados à centro-direita, como Alckmin e Meirelles, e à esquerda, como Boulos e Luciana, os presentes justificaram, quase num tom de pedido de desculpas, que renunciaram às diferenças, em prol de uma pacificação do país.

Candidato em cinco outras eleições (1989, 1994, 1998, 2002, e 2006), o próprio Lula tem feito referências frequentes aos pleitos passados, falando que antes "havia opositores e não inimigos". O apoio da chamada velha-guarda do PSDB cairia como uma luva.

Entre todos os presidenciáveis do PSDB, além de Mário Covas, morto em 2001, só não foi sondado o deputado Aécio Neves, que segue um desafeto do partido e uma das lideranças mais próximas a Bolsonaro entre o tucanato.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, José Serra (PSDB) foi candidato à Presidência derrotado por Dilma Rousseff (PT) em 2010, e não 2006. O texto foi corrigido.