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Leia a íntegra da entrevista de Lula ao SBT

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista ao SBT Brasil na noite desta terça-feira (27) - Reprodução/SBT
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista ao SBT Brasil na noite desta terça-feira (27) Imagem: Reprodução/SBT

Do UOL, em São Paulo

27/09/2022 21h09

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu na noite de hoje uma entrevista ao SBT Brasil. A sabatina do candidato, que vem liderando as principais pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto, tratou especialmente de temas econômicos, como a continuidade do Bolsa Família, os gastos do governo e a possibilidade de uma reforma tributária.

Entre outros pontos, Lula criticou o teto de gastos, implementado no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), e fez uma série de críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Em um dos trechos da entrevista, o petista afirmou que o aumento do Auxílio Brasil, neste ano, foi uma medida eleitoreira, mas que "o povo não é bobo" e percebeu a manobra.

Confira a íntegra da entrevista:

[Débora Bergamasco]: Boa noite para vocês, boa noite a todos. Bom, o tempo é curto, então vamos direto para a entrevista. Candidato, muito obrigada pela entrevista. Se o senhor for eleito, como vai ser o Auxílio Brasil ou Bolsa Família no seu governo?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Boa noite a todos espectadores do SBT, boa noite Débora. Será simples. O Bolsa Família é um programa que não é apenas uma distribuição de dinheiro. O Bolsa Família é um programa que tem condicionantes para mulher receber o Bolsa Família, e todo cartão será no nome da mulher, ela tem que colocar seus filhos em idade escolar na escola, ela tem que dar as vacinas todo ano nas crianças, e se ela tiver grávida ela tem que fazer todos os exames que a medicina exige que uma mulher grávida faça.

Bem, nós vamos dar 600 reais e vamos dar 150 reais por cada filho até seis anos de idade. Nós temos consciência de que isso vai perdurar até o tempo que a gente conseguir gerar os empregos necessários para que o Brasil não precise mais de auxílio, para que as pessoas possam viver as custas do trabalho. Isso é um sonho! Sabe, de qualquer política pública do governo, você faz a ajuda, faz a concessão na expectativa de que a economia cresça, você começa a gerar empregos, emprego gera mais salário, gera mais emprego e a gente um dia não precisa mais ter programas de transferência de renda se todo mundo tiver trabalhando.

[Débora Bergamasco]: E para conseguir manter esse valor, ele é emergencial, até previsto agora até o fim deste ano não tem previsão de onde vai tirar para ano que vem, por exemplo, então eu gostaria de saber: como viabilizar, em que momento começa essa negociação?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, o presidente ele mentiu algumas vezes porque, primeiro, ele queria um salário emergencial de 200 reais, o Congresso Nacional é que queria 600 reais, depois pôs 600, depois baixou para 400, quando chega o processo eleitoral ele então pensando que o povo é bobo ele resolveu aumentar para 600 e disse que só ia até dezembro, aí ele descobriu a burrada que ele cometeu, porque só vai até dezembro, ele então disse que vai continuar, mas ele não colocou na lei de diretrizes básicas que é o orçamento que vai para o Congresso Nacional ele não colocou. Quando eu disse que nós iríamos continuar e que o Bolsa Família iria voltar com 600 reais, mais 150 por cada criança até seis anos, ele então resolveu dizer que vai continuar. Como ele vai perder as eleições, eu acho que ele não vai precisar continuar nada, nós vamos continuar com o Bolsa Família.

[Débora Bergamasco]: A última correção da tabela do Imposto de Renda foi em 2015, hoje é isento quem ganha até 1900 reais. O senhor tem algum plano de mudar as faixas?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu tive a oportunidade de fazer o reajuste de mudar na época que era presidente fui até a porta da fábrica anunciar que a gente estava fazendo o ajuste na tabela do Imposto de Renda para que o trabalhador não fosse penalizado, porque a verdade é que hoje paga muito Imposto de Renda quem desconta na fonte. Aquele que vive de renda, de dividendo, de lucro não paga Imposto de Renda e a sonegação no Brasil é muito grande, nós vamos ter que fazer uma reforma tributária no Brasil, uma reforma tributária que tem que passar por debate, por empresários, por políticos, sindicalistas porque tem que ser uma vontade da sociedade majoritariamente. Acho que o Brasil precisa fazer um ajuste, ou seja, hoje uma pessoa que ganha cinco mil reais ele paga proporcionalmente mais Imposto de Renda do que alguém que ganha cem mil reais, então é preciso que a gente faça uma política tributária que equalize e aquele que ganha de salário, que vive de salário não seja penalizado, mas sim as pessoas mais ricas é que tem que pagar um pouco mais.

[Débora Bergamasco]: Mas dá para gente cravar que é uma promessa mudar essa faixa?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Veja, eu acho que não é promessa, é um compromisso de campanha que a gente vai discutir a reforma tributária. Aliás é bom lembrar que mandei duas em 2003. Mandei uma foi aprovada uma parte em 2007, mandei uma aprovada por 27 governadores, aprovada por 27 presidentes de federações e empresários, aprovada pelas central sindicais e todos os líderes. Quando ela chegou no Congresso Nacional ela não foi aprovada porque o relator criou uma confusão e não aconteceu, mas nós vamos discutir outra vez porque uma nova política tributária é uma eixgência da sociedade brasileira.

[Débora Bergamasco]: Ainda falando em tributo o senhor pretende manter ou algum projeto para mudar a lei que instituiu o teto do ICMS que ajuda no desconto da gasolina, mas causa também perda de arrecadação para os estados?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha veja, nós vamos sofrer isso mais a frente, ou seja a verdade é que o Presidente da República tomou uma decisão eminentemente política, ele poderia ter resolvido o preço da gasolina sem mexer com o ICMS dos estados, ele foi mexer para tentar mostrar que ele poderia ganhar politicamente e ele vai tomar um prejuízo quando começar a faltar o dinheiro para educação e o dinheiro para saúde, aí a responsabilidade vai ser dele, ora, o que nós precisamos fazer gente? Nós precisamos ter um preço da gasolina justo, a Petrobras faz prospecção de petróleo em real, ela refina em regulo, ela precisa então que o preço seja em real, quando eu era presidente, em 2008 na crise econômica o barril do petróleo chegou a 147 dólares a gasolina nesse país era 2,60 centavos, ele não teve coragem de enfrentar a contradição da Petrobras, ele se acovardou, ele privatizou a BR e hoje tem 392 empresas importando gasolina dos Estados Unidos em dólar, sem pagar imposto.

[Débora Bergamasco]: Se eleito o senhor vai enfrentar isso?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Nós vamos ter que enfrentar isso, até porque o Brasil precisa mais refino, hoje o Brasil só tem capacidade de atender, ou seja, o Brasil hoje só refina 80% daquilo que ele consome, um país do tamanho do Brasil que descobriu o pré-sal o Brasil tem que refino ar e tem que ser exportador de derivados, não exportador de óleo cru.

[Débora Bergamasco]: Só para eu entender o senhor acha que seria uma ideia se eleito mudar ou não esse cálculo do ICMS?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Veja não é discutir o ICMS.

[Débora Bergamasco]: Isso deixa assim.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: O ICMS, a própria Suprema Corte já aprovou que a partir do ano que vem o ICMS vai reduzir, já aprovou, então veja eu não quero mexer com a política que é de governador, o governador cuida dos seus impostos, eu quero mexer com a política que é do Presidente da República, que é o preço da Petrobras.

[Débora Bergamasco]: Certo, o senhor já prometeu acabar com o teto de gastos e muita gente se pergunta: Ah, mas o que entraria no lugar? O que entraria no lugar?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: O Brasil não precisa de teto de gastos, teto de gastos é para alguém não que tem competência de governar, porque eu fui Presidente da República a gente reduziu a dívida pública interna de 65 para 37%, a gente pagou a dívida com FMI e juntamos 370 bilhões de dólares, a inflação era 12% em janeiro de 2003, eu trouxe ela para 4,5, o desemprego era 12,5%, nós criamos 22 milhões de empregos, ou seja você não precisa ter teto de gastos, você tem que ter responsabilidade, é por isso que eu digo que o Brasil tem que ter um governo que tenha três quesitos. Primeiro credibilidade, quando o presidente falar, as pessoas tem que acreditar, segundo estabilidade não pode mudar toda e terceiro previsibilidade, as pessoas tem que saber, tem que estar atinada para o que vai acontecer o atual presidente não tem nenhuma, porque ele prefere viver de fake news para ficar contando caso, prefere mentir todo dia, então ninguém acredita, ninguém faz investimentos então a economia não cresce.

[Débora Bergamasco]: Qual sua avaliação sobre a independência do banco central deve ser mantida?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Veja o banco central quando eu fui presidente, o Meirelles já era independente, eu não me metia na política porque o Meirelles fazia o que tinha que fazer porque o banco central tem como finalidade para fazer com que a inflação seja controlada e o único mecanismo que ele tem é aumentar a taxa de juros é preciso criar outro mecanismo, o banco central precisa assumir outra responsabilidade, o mesmo banco que tem poder para taxar e dar meta de inflação, precisa dar meta de crescimento econômico e a meta de emprego que nós vamos criar, veja, nós vamos conversar com o presidente do banco central, ele certamente é uma pessoa sabe razoável para conversar, economista competente e nós vamos conversar, mas a mim não causa nenhum problema ser independente ou não, porque no meu tempo Meirelles teve muita independência.

[Débora Bergamasco]: A embaixada dos Estados Unidos divulgou que vai reconhecer o resultado das urnas, reiterou confiar no nosso processo eleitoral qual é a importância, assim eles não costumavam fazer isso em outro tempos, qual é o significado disso?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: O significado é que os Estados Unidos precisa do Brasil democrático, os Estados Unidos precisa do Brasil que tenha um governo que saiba manter relações internacionais, um governo que transforme o Brasil num país protagonista porque o Brasil é muito importante na América do Sul, o Brasil é muito importante, sabe no mundo, o Brasil era respeitado por todo mundo, todo mundo vinha aqui e nós visitávamos todos os países, acho que o aceno dos Estados Unidos foi: É preciso recuperar a democracia no Brasil.

[Débora Bergamasco]: Foi fruto da sua conversa com o encarregado da embaixada.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Não sei, porque ele já convivia com ele, eu convivi oito anos a Dilma quatro anos, sempre foi pensando em melhorar a vida do povo.

[Débora Bergamasco]: A Dilma já disse ter se arrependido de ter assinado a lei da delação premiada como estava, o senhor gostaria de rever essa lei.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: O problema é o seguinte a delação premiada foi criada no Brasil para enriquecer os ladrões, todo mundo que fez delação ficou rico, todo mundo que fez delação saiu com o bolso cheio de dinheiro, tem nego fumando charuto nas praias por aí, com cobertura com dinheiro da Lava Jato, então a delação virou uma premiação para cara ficar rico, eu não sei se precisa mudar a lei, o que nós precisamos saber é que o juiz já mudou, o cidadão era um picareta que por cinco anos enganou a sociedade brasileiro e todos os meios de comunicação, ele e a força-tarefa da Lava Jato, então eu acho o que nós temos é que mudar o comportamento da Justiça, a justiça tem que jugara depois de ter prova ela pode absolver ou condenar as pessoas.

[Débora Bergamasco]: Em 30 segundos: é possível reunificar o Brasil?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Não entendi a pergunta.

[Débora Bergamasco]: É preciso reunificar o Brasil?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: É possível, o Brasil é um país de amor, de paz, de carinho, de fraternidade, é isso que vou fazer, nós vamos voltar a divergir rindo um do outro porque é assim que faz política.

[Débora Bergamasco]: Muito obrigada pela entrevista candidato, nós voltamos ao estúdio, boa noite para vocês.