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Teto de gastos é para quem não tem competência para governar, diz Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista ao SBT Brasil na noite desta terça-feira (27) - Reprodução/SBT
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista ao SBT Brasil na noite desta terça-feira (27) Imagem: Reprodução/SBT

Do UOL, em São Paulo

27/09/2022 20h39

Durante entrevista ao SBT Brasil na noite de hoje (27), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato ao Palácio do Planalto, focou em temas econômicos e voltou a criticar o teto de gastos, implementado pelo governo Michel Temer (MDB) em 2016. A entrevista, exibida gravada, foi anunciada horas antes de ir ao ar.

"O Brasil não precisa de teto de gastos. Teto de gastos é para alguém não que tem competência de governar", disse ele à jornalista Débora Bergamasco. Leia a íntegra da entrevista aqui.

O teto de gastos é uma regra que limita o gasto público. De acordo com a medida, um governo só pode gastar o equivalente ao Orçamento do ano anterior, corrigido apenas pelo valor da inflação.

O governo Bolsonaro violou o teto de gastos com a PEC dos Auxílios, que ampliou o valor do Auxílio Brasil, criou benefícios para caminhoneiros e taxisas e duplicou o vale gás. As medidas foram adotadas apenas até o fim deste ano e vem sendo apontadas como ações com finalidade de angariar votos para Bolsonaro.

Na sequência da entrevista, Lula afirmou que, em seu governo, entre 2003 e 2010, reduziu a inflação, o desemprego, a dívida pública interna, além de ter quitado pendências do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Nova reforma tributária. O presidenciável defendeu que discutir a política tributária "é uma exigência da sociedade brasileira". Não é a primeira vez que ele fala isso: o petista tem dito que pretende reajustar a tabela do IR (Imposto de Renda) todos os anos. O último reajuste da tabela do IR foi em 2015; de acordo com o Sindifisco (Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), a tabela acumula defasagem de 134,52% em relação à inflação.

"Hoje uma pessoa que ganha R$ 5 mil paga proporcionalmente mais Imposto de Renda do que alguém que ganha R$ 100 mil, então é preciso que a gente faça uma política tributária que equalize e aquele que ganha de salário, que vive de salário, não seja penalizado, mas sim as pessoas mais ricas é que tem que pagar um pouco mais", declarou.

Independência do Banco Central. O petista reafirmou a necessidade de independência do BC (Banco Central) e disse que, em seu governo, Henrique Meirelles (MDB) teve autonomia para trabalhar. Meirelles foi o presidente do órgão entre 2003 e 2010, durante os dois mandatos de Lula.

"Eu não me metia na política [interna] porque o Meirelles fazia o que tinha que fazer", disse. Ele também disse que é papel do BC apresentar metas de crescimento econômico e declarou que, se for eleito, pretende criar uma meta de crescimento de emprego.

"Nós vamos conversar com o presidente do banco central, ele certamente é uma pessoa sabe razoável para conversar, economista competente e nós vamos conversar. Mas a mim não causa nenhum problema ser independente ou não, porque no meu tempo Meirelles teve muita independência."

Críticas a Bolsonaro. Sem citar nominalmente o presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula o criticou afirmando que o próximo chefe do Executivo precisa de três características: credibilidade, estabilidade e previsibilidade.

"O atual presidente não tem nenhuma [das três características], porque ele prefere viver de fake news para ficar contando caso, prefere mentir todo dia, então ninguém acredita, ninguém faz investimentos então a economia não cresce", disse.

Quando o presidente falar, as pessoas têm que acreditar
Lula, em entrevista ao SBT

No mesmo horário em que Lula falava ao SBT, Ciro Gomes (PDT), um dos adversários do petista na disputa, concedia entrevista à Record TV.

A sabatina de Lula na Record seria na última sexta-feira (23), mas o petista não compareceu. A campanha dele chegou a acionar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra a TV alegando que a data renderia menor audiência.

Possibilidade de vitória no primeiro turno. A decisão da campanha de conceder uma entrevista de última hora coincide com a liderança de Lula nas pesquisas eleitorais a menos de uma semana da votação.

Segundo a pesquisa Ipec (ex-Ibope) publicada ontem (26), Lula soma 48% das intenções de votos. Ele está 17 pontos percentuais à frente de Bolsonaro, que aparece com 31%. Para ser eleito no primeiro turno, um candidato deve somar 50% dos votos válidos —sem contar os brancos e nulos— e mais um voto. O petista apresenta 52% dos votos válidos no levantamento.

A entrevista ocorre dias após Lula se ausentar do debate promovido pelo pool entre SBT, CNN Brasil, Estadão/Rádio Eldorado, Veja, Terra e NovaBrasilFM. O evento ocorreu no sábado (24) e reuniu seis presidenciáveis, incluindo Bolsonaro. O petista foi um dos alvos do debate, sendo duramente criticado pelo fato de não ter comparecido.

Agenda cheia. Oficialmente o ex-presidente justificou a ausência no debate alegando ter assumido outros compromissos no momento do evento. Ele também disse que sua ausência também foi decidida por causa da participação de padre Kelmon (PTB), que fez dobradinha com Bolsonaro no debate.

Nos bastidores, a campanha entendia que Lula já havia conversado com públicos das duas emissoras do pool após conceder uma entrevista a William Waack, na CNN Brasil, e outra a Ratinho. Nesta última, no SBT, o objetivo era adotar um tom mais popular.