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TSE manda apagar vídeo em que Ciro diz que PSOL é financiado por Soros

Reprodução - Justiça manda YouTube apagar vídeo em que Ciro diz que PSOL é financiado por Soros
Reprodução Imagem: Justiça manda YouTube apagar vídeo em que Ciro diz que PSOL é financiado por Soros

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

29/09/2022 16h14Atualizada em 29/09/2022 17h18

O candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) recorreu hoje de decisão em que a ministra Maria Claudia Bucchianeri, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), determinou a exclusão de vídeos em que o pedetista afirma que o PSOL recebe dinheiro do bilionário húngaro George Soros, fundador da Open Society Foundation. O grupo apoia financeiramente grupos e veículos de mídia independente progressistas em todo o mundo.

"O contexto, denota-se que os dizeres proferidos por Ciro Gomes não ultrapassaram os limites da liberdade de expressão, porquanto inseridos no âmbito da crítica política, bem com também embasados em fatos noticiados pela mídia, de modo que não se vislumbra ofensa ao bem jurídico tutelado pela lei", disse o advogado Walber Agra, em manifestação à Corte Eleitoral.

Na avaliação da magistrada, a afirmação de Ciro trata-se de divulgação de desinformação. "Trata-se, em verdade, de divulgação de informação gravemente ofensiva à agremiação autora, descolada qualquer suporte fático, e deliberadamente concebida para desconstruir a imagem do referido partido político aos olhos dos eleitores, em especial de esquerda", escreveu Bucchianeri.

Segundo o TSE, o nome de Soros também não aparece entre os doadores de qualquer candidatura do PSOL ou de outro partido. A sigla é quase integralmente financiada pelo fundo partidário.

Na ação, a ministra deu dois dias para que o PSOL submeta à aprovação da Corte Eleitoral um vídeo de até 30 segundos em resposta a Ciro.

O presidente da sigla, Juliano Medeiros, classificou as declarações de Ciro como "teorias da conspiração" e reiterou o apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ciro perdeu totalmente o controle. Enquanto ele buscava nosso apoio em São Paulo, vivia elogiando o PSOL", afirmou.

A defesa de Ciro sustenta que o pedido seja negado e aponta evidências de que pessoas filiadas ao PSOL tenham sido beneficiadas pela Open Society Foundation.

"Um dos grandes investimentos realizados pela referida fundação foi destinado à criação de um fundo em homenagem à Marielle Franco, vereadora filiada ao PSOL que foi brutalmente assassinada, para incentivar mulheres negras que buscam liderança política. Demais disso, Jean Willys, à época filiado ao PSOL, foi financiado pela entidade para iniciar um projeto de pesquisa na Universidade de Harvard", afirmou.

Embates entre Ciro e a comunidade judaica

As afirmações de Ciro Gomes são consideradas por associações sionistas uma forma de antissemitismo.

Essa não foi a primeira vez que o pedetista se envolveu em polêmicas com a comunidade judaica. Em 2019, a Confederação Israelita do Brasil afirmou criticou o ex-ministro por causa de declarações dele sobre a relação da comunidade judaica com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em entrevista ao site HuffPost Brasil, o pedetista afirmou que o mandatário tenta agradar grupos de interesse para o governo. "Por exemplo, para os amigos dele aí, esses corruptos da comunidade judaica, que acham que, porque são da comunidade judaica, têm direito de ser corrupto. Corrupto, para mim, não interessa se é curdo ou cearense. Corrupto é corrupto, ladrão é ladrão. Ele disse para eles que ia transferir a embaixada do Brasil para Jerusalém", disse à época.

Em 2020, a entidade criticou Ciro, que havia vinculado a comunidade judaica ao financiamento da campanha eleitoral de Bolsonaro. "Ele é católico e anda para cima e para baixo com a bandeira de Israel", disse.

Aliado político e apoiador declarado do ex-premiê israelense Benjamin Netanyahu, o presidente Bolsonaro tem reiterado desde o início de seu governo sua proximidade ao Estado de Israel. "Tenho orgulho de ser o presidente que mais aproximou o nosso país dos judeus, intensificando as relações bilaterais com Israel", disse Bolsonaro num manifesto antinazista no início deste ano.

O Estado do Oriente Médio é considerado um aliado prioritário do Brasil. Em meio às tensões na Faixa de Gaza, no ano passado, Bolsonaro declarou apoio à nação judaica e considerou "injustificável o lançamento de foguetes contra o território israelense".

Num gesto interpretado como "sionista", Bolsonaro à época não se solidarizou a Palestina —ocupada majoritariamente por árabes.

Idealizado pelo escritor húngaro Theodor Herzl, o sionismo é um movimento político de caráter ultraconservador que defende a soberania de uma nação judaica no território descrito no Antigo Testamento como a "Terra Prometida" por Deus a Abraão.

Atualmente, esse movimento é alvo de críticas por apoiar a expansão da parcela ocupada por judeus no Oriente Médio em detrimento do espaço destinado aos árabes. A disputa territorial frequentemente culmina em confrontos armados, apoiados pelos Estados Unidos.

Além disso, a bandeira de Israel é peça constante nos eventos bolsonaristas. No Brasil, setores da comunidade judaica têm manifestado desconforto com a adoção de símbolos do judaísmo por grupos de apoio ao presidente que propagam o "sionismo cristão".

Homem levanta bandeira de Israel durante posse de Bolsonaro em Brasília; presidente prometeu, durante campanha, transferência de embaixada para Jerusalém - Reuters - Reuters
Homem levanta bandeira de Israel durante posse de Bolsonaro em Brasília; presidente prometeu, durante campanha, transferência de embaixada para Jerusalém
Imagem: Reuters

O fenômeno é caracterizado por religiosos neopentecostais que adotam hábitos judaicos movidos por um conceito teológico denominado "dispensacionalismo" —a crença de que o retorno de Jesus Cristo à Terra depende da retomada de Israel por judeus (o que ocorreu em 1948); e da expulsão de não judeus de Jerusalém (região conquistada por Israel em 1967).

O movimento de grupos israelitas que tentam descolar a imagem da comunidade judaica do governo Bolsonaro se intensificou depois de o então secretário da Cultura Roberto Alvim ter incorporado num pronunciamento trechos de um discurso proferido originalmente por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda nazista.

No ano passado, cerca de 200 intelectuais judeus divulgaram carta em que afirmam que o governo Bolsonaro tem inclinações nazistas: "Perspectivas conspiratórias e antidemocráticas produzem inimigos imaginários. Se não judeus, esquerdistas; se não ciganos, cientistas; se não comunistas, como na Itália fascista, feministas".