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Bolsonaro vota e não se compromete a respeitar o resultado das eleições

Do UOL, no Rio de Janeiro

02/10/2022 08h59Atualizada em 02/10/2022 18h17

O presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou para votar por volta das 9 horas da manhã no Rio de Janeiro dizendo que vai vencer no primeiro turno. Perguntado na chegada e na saída da seção eleitoral se vai reconhecer o resultado, não respondeu de maneira direta.

Ele voltou a falar que respeita a apuração se as eleições forem limpas e insistiu no "datapovo" —narrativa de que tem apoio popular e sofre boicote dos institutos de pesquisas. "O que vale é o datapovo, e [reconheço] eleições limpas sem problemas nenhum".

Repetindo discurso dúbio. Na primeira vez que falou com a imprensa, na chegada à Escola Municipal Rosa da Fonseca, no bairro Deodoro, Bolsonaro deixou a entrevista quando perguntado se respeitaria o resultado das eleições. Depois de votar, ele voltou a conversar com os repórteres.

O presidente insistiu que percorreu o Brasil inteiro durante a campanha e foi muito bem recebido. Declarou que a motociata ontem em Joinville (SC), último ato de campanha, foi histórica e que a imprensa não noticia esses fatos.

Essas frases eram uma preparação da narrativa de que tem apoio popular e as pesquisas e os meios de comunicação não refletem essa suposta realidade.

"Tanta gente nas ruas nos apoiando. Infelizmente não vi na imprensa, mas tudo bem, faz parte da regra do jogo."

02.out.22 - O presidente e candidato presidencial do Brasil, Jair Bolsonaro, fala à mídia durante as eleições presidenciais, no Rio de Janeiro - RICARDO MORAES/REUTERS - RICARDO MORAES/REUTERS
02.out.22 - Presidente e candidato Jair Bolsonaro (PL) conversa com a imprensa antes da votação no Rio de Janeiro
Imagem: RICARDO MORAES/REUTERS

Em campanha contra as urnas. Na sequência, Bolsonaro insistiu no "datapovo" e que respeita o resultado apenas se as eleições forem limpas. A afirmação faz parte da narrativa repetida há anos de que o sistema eleitoral brasileiro não é confiável. Bolsonaro tentou aprovar no Congresso o voto impresso com o argumento de que a urna eletrônica é vulnerável.

Em vários momentos da campanha e antes dela, ele criticou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e seus ministros. O esforço de desacreditar o sistema eleitoral sempre esteve acompanhado de declarações de Bolsonaro de que a apuração de hoje pode ser fraudada. Nesta semana, o partido do presidente divulgou um documento com essas insinuações.

Bolsonaro chegou a sugerir que as Forças Armadas deveriam fiscalizar as eleições. Em momento nenhum, o presidente afirmou que o sistema eleitoral organiza uma corrida eleitoral com total lisura.

Irritação com jornalista argentino. O Datafolha e o Ipec de ontem mostraram que existe a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer a eleição no primeiro turno. O jornalista Diego Iglesias, da emissora C5N da Argentina, perguntou se Bolsonaro reconheceria uma vitória do adversário.

O presidente virou a cara e escolheu outro ponto da grade que o separava dos jornalistas para falar com a imprensa. Quando o cinegrafista Mariano Perrino recebeu o microfone do colega para gravar a entrevista, Bolsonaro atalhou: "Ô cara, vai falar do teu país".

Eleição acaba hoje? O Datafolha e o Ipec divulgados ontem mantiveram a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer a disputa no primeiro turno. Mas dentro da campanha de Bolsonaro esta possibilidade é refutada. O chamado núcleo ideológico não admite qualquer possibilidade de derrota hoje e acredita que as pesquisas são enganosas.

O núcleo político tem entendimento de que candidatos com menor intenção de votos como Soraya Thronicke (União) e Simone Tebet (MDB) foram bem no debate da Globo. O raciocínio é que o desempenho impedirá que elas percam votos e, assim, serão necessários mais eleitores escolhendo Lula. Esta dinâmica dificultaria que a corrida presidencial acabasse hoje.

Forte interesse da imprensa e eleitores. A área reservada para a imprensa cobrir a votação de Bolsonaro estava lotada de jornalistas brasileiros e estrangeiros. Espanhol, francês e inglês eram ouvidos com frequência no local.

A possibilidade de ver o presidente animou as pessoas que estavam na fila para votar na mesma seção eleitoral que o candidato. Alguns usavam verde e amarelo, mas tiveram suas intenções de se aproximar de Bolsonaro frustradas. O Gabinete de Segurança Institucional não permitiu acesso dos eleitores.

Voto em área militar. O presidente informou que iria até a seção eleitoral por volta das 9h30, mas chegou 45 minutos antes à Escola Municipal Roda da Fonseca. O colégio fica na Vila Militar no bairro Deodoro. Trata-se de um lugar em que funcionam várias academias do Exército Brasileiro.

Para chegar ao local, os motoristas precisavam passar por uma barreira militar. Não era preciso descer do carro e passar por revista, mas cada carro parava em frente a uma coluna de cones e era observado com atenção por soldados.

Retorno a Brasília. Depois de votar no Rio, Bolsonaro retornou a Brasília durante a tarde para acompanhar a apuração do Palácio da Alvorada, a residência oficial da chefia do Executivo.

Brasília conta com uma preparação especial para o período de contagem dos votos. O gramado em frente ao Congresso Nacional está isolado por grades. O mesmo acontece com as imediações do STF e do Palácio do Planalto. A preocupação existe pelo receio de que pessoas tentem invadir estes locais.

No Palácio da Alvorada, ponto escolhido por Bolsonaro para acompanhar a apuração, uma estrutura bastante grande foi montada. A área conhecida como cercadinho e que ficava ao lado da guarita foi deslocada para a frente do Alvorada. O perímetro é várias vezes maior do que o anterior. Isto sugere que muitos apoiadores eram esperados. Mas até 17h ninguém havia aparecido.

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