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Eleito senador no PR, Sergio Moro disse 7 vezes que não seria político

Sergio Moro foi eleito senador pelo União Brasil no Paraná - FRANKLIN DE FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO
Sergio Moro foi eleito senador pelo União Brasil no Paraná Imagem: FRANKLIN DE FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

02/10/2022 21h39Atualizada em 04/10/2022 13h41

O ex-juiz Sergio Moro (União) conseguiu hoje se eleger ao Senado pelo Paraná ao superar outros nove candidatos, incluindo o seu padrinho político, o senador Alvaro Dias (Podemos), que não conseguiu se reeleger para o seu quarto mandato. Agora eleito, o ex-magistrado terá a partir de 2023 o que sempre refutou antes de deixar a toga: um mandato com foro privilegiado.

Moro negou pelo menos sete vezes que seria político por não ter o perfil e vocação para isso, mas acabou caindo em contradição após deixar a magistratura, compondo o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), se tornando presidenciável e depois candidato ao Senado.

'Não existe risco'

A primeira vez que Moro negou que entraria para a política foi em entrevista publicada em 5 de novembro de 2016 pelo jornal O Estado de S.Paulo. Na ocasião, ele ainda era o julgador das ações decorrentes da Operação Lava Jato, na 13ª Vara Federal de Curitiba.

Na entrevista, a primeira enquanto juiz da Lava Jato, Moro afirmou que estava "em outra realidade" e que por isso não seria político.

Não, jamais. Jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política. Acho que a política é uma atividade importante, não tem nenhum demérito, muito pelo contrário, existe muito mérito em quem atua na política, mas eu sou um juiz, eu estou em outra realidade, outro tipo de trabalho, outro perfil. Então, não existe jamais esse risco. Moro, em entrevista ao jornal Estado de S.Paulo, em 5 de novembro de 2016.

'Não tenho pretensão'

À BBC Brasil, Sergio Moro repetiu o que disse em sua primeira entrevista sobre o seu futuro. Ele reafirmou que seguiria na magistratura.

A resposta é não, não tenho nenhuma pretensão de ir para uma carreira política. Meu trabalho é como magistrado, simples assim. Moro à BBC Brasil, em 17 de abril de 2017.

'Não tenho perfil'

A outra vez que Moro negou que buscaria algum mandato em sua vida foi em 15 de agosto de 2017, durante o evento "Mitos & Fatos", organizado pela Jovem Pan, em São Paulo.

Já falei mais de uma vez: a profissão política é uma das mais belas. Nós eventualmente temos uma imagem pejorativa dela por conta de eventuais escândalos criminais, mas existem muitos bons políticos. Mas penso que precisa ter um certo perfil, e sinceramente não me vejo com esse perfil. Moro, em 15 de agosto de 2017, no evento Mitos & Fatos.

Negou até para jornal do Chile

Moro negou a possibilidade de ser político a veículos de comunicação no exterior. Ao jornal La Tercera, do Chile, mais uma disse que seguiria como juiz na 13ª Vara Federal de Curitiba. A entrevista foi publicada em 14 de setembro de 2017.

Eu declarei publicamente mais de uma vez que sou candidato a seguir a carreira na magistratura. Não existe nenhuma possibilidade de uma carreira política. Moro ao jornal La Tercera, em 14 de setembro de 2017.

'Minha vocação é outra'

No mesmo ano, em 2017, ao jornalista Gerson Camarotti, da GloboNews, o então juiz da Lava Jato mais uma vez recusou a possibilidade de ser político. Na ocasião, ele disse que a vocação dele era outra que não fosse a da política.

As pessoas têm que exercer seu direito de voto com sabedoria. E pensar em governantes que sejam competentes, mas também honestos, as duas coisas a meu ver caminham juntas. Mas não tenho essa vocação. É uma questão simplesmente de vocação. Poderia? Poderia, eventualmente. Não existe nenhum empecilho normativo. Mas a minha opção de vocação é outra. Eu sou um juiz e pretendo permanecer como juiz. Moro à GloboNews, em 17 de outubro de 2017.

'Escolha pessoal'

Dessa vez ao jornal O Globo, em entrevista publicada em 24 de dezembro de 2017, Sergio Moro manteve o discurso antipolítico, mas ponderou que "a vida é complexa" e que seria "complicado, de antemão, fazer qualquer juízo de um magistrado que queira partir para a vida política".

A vida é complexa e as pessoas fazem escolhas muitas vezes difíceis. É complicado, de antemão, fazer qualquer juízo de um magistrado que queira partir para a vida política. Tem todo o direito de fazê-lo. Mas minha escolha pessoal é permanecer como magistrado. Moro ao jornal O Globo, em 24 de dezembro de 2017.

'Eu fiz promessa'

Já mais disposto a dar entrevista, o então juiz Sergio Moro voltou a negar a pretensão política, dessa vez à revista Crusoé. Em entrevista publicada em 4 de maio de 2018, ele disse até que havia feito promessa de que não concorreria a algum cargo eletivo.

Eu fiz uma promessa que não ia concorrer a nenhum cargo político. Pretendo manter essa promessa. Moro à Crusoé, em 4 de maio de 2018.

Quem é Moro?

Aos 50 anos, Moro foi juiz federal por 22 anos e coordenou a Operação Lava Jato. Em novembro de 2018, deixou a magistratura após ser convidado pelo então recém-eleito presidente Jair Bolsonaro (na época no PSL) para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública. É estreante na disputa por um cargo político.

O ex-ministro vai ocupar a vaga de Dias, que tentava a reeleição, e vai compor a bancada de senadores pelo Paraná com Flávio Arns (Podemos) e Oriovisto Guimarães (Podemos), eleitos em 2018 e com mandato até 2027. Paranaense de Maringá, Sergio Moro é graduado em direito pela Universidade Estadual de Maringá e cursou o mestrado e o doutorado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná).

*Com informações de Hygino Vasconcellos, em colaboração para o UOL.