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Com disputa entre Paes e Freixo, campanha de Lula mira centro-direita no RJ

Lula (PT) na Quadra da Portela, em último grande ato do 1º turno no Rio - VINICIUS LIMA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Lula (PT) na Quadra da Portela, em último grande ato do 1º turno no Rio Imagem: VINICIUS LIMA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, no Rio*

06/10/2022 04h00

Para reverter a vantagem de 984 mil votos de Jair Bolsonaro (PL) registrada no primeiro turno no Rio de Janeiro, a organização da campanha de Lula (PT) no estado quer reunir políticos locais de centro e centro-direita e afastar a imagem do petista dos redutos tradicionalmente de esquerda.

À frente das negociações, estão o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), o candidato derrotado ao Senado pelo PT, André Ceciliano, e o presidente estadual do PT, João Maurício Freitas. Marcelo Freixo (PSB), candidato derrotado ao governo do estado, também participa, mas enfrenta resistência.

O UOL apurou que Freixo e Paes disputam o cargo de coordenador de campanha no RJ e não conseguem chegar a um consenso. Do lado do prefeito, o argumento de penetração em regiões associadas à direita e articulação política. Já Freixo tem a seu favor a capacidade de mobilizar a militância de esquerda.

Oficialmente, interlocutores da campanha de Lula no RJ negam qualquer divergência entre Paes e Freixo e afirmam que o foco é eleger Lula. Fato é que não há consenso —e é baixa a expectativa de que ele virá. A campanha de Lula no estado está dividida em várias frentes de organização.

Menos centro e zona sul, mais Baixada Fluminense e zona oeste

Paes, que é presidente estadual do PSD, já descartou organizar eventos no centro e na zona sul da capital —locais associados à esquerda e onde Freixo teve um desempenho melhor nas urnas. O entendimento é de que Lula não perderá esse voto e que a briga é para ganhar o voto de indecisos, neutros ou de quem votou nulo.

A expectativa é de levar o ex-presidente para a zona oeste carioca e Baixada Fluminense, regiões onde Cláudio Castro (PL), reeleito governador, e Bolsonaro tiveram votação expressiva.

Mapa de votação dos presidenciáveis Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) no Rio de Janeiro - Arte/UOL - Arte/UOL
Mapa de votação dos presidenciáveis Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) no Rio de Janeiro
Imagem: Arte/UOL

Os comícios devem focar nos feitos de Lula —à época em que era presidente— que beneficiaram moradores dessas regiões.

Para organizar os atos, a campanha já mira o apoio de Waguinho (União), prefeito de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. A previsão é de que haja na cidade um comício no dia 12, com foco em lideranças evangélicas.

Com nome até então desconhecido da capital, Waguinho elegeu os deputados mais votados para a Câmara dos Deputados e para a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) —sua esposa, Daniela do Waguinho, e Márcio Canella, seu principal aliado político, ambos do União Brasil.

Na avaliação de André Ceciliano —o presidente da Alerj tem bom trânsito com políticos da baixada—, é preciso intensificar ações junto a evangélicos. Junto com Paes, Ceciliano também quer conversar com mais políticos de centro —estratégia condenada no primeiro turno, já que muitos desses políticos eram aliados a Castro, adversário de Freixo.

No dia 13, a previsão é de que Lula faça um comício na zona oeste carioca. Não estão descartadas ações no interior do estado.

Enquanto isso, parlamentares de esquerda —do PSOL e do próprio PT— mais ligados a Freixo, organizam plenárias com a militância para fazer campanha nas ruas.

Um dos braços da militância é a Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro, que criará, inicialmente, núcleos de campanha para Lula em 15 favelas, com distribuição de material de campanha e panfletagem.

Há também a expectativa de que Lula consiga ir a uma agenda pública em uma das favelas do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, até o dia 30 de outubro, data do segundo turno.

Campanha de Lula avalia que faltou engajamento de Freixo

A estratégia difere daquela feita pelo PT em parceria com Freixo até então. Nos 45 dias do primeiro turno, a avaliação da campanha nacional petista é de que a imagem de Lula ficou muito atrelada à esquerda, campo em que Freixo surgiu e se firmou como político —apesar da guinada dele ao centro.

Houve também críticas ao baixo número de agendas cruciais de Freixo junto ao público, como comícios, que costumam ser úteis para demonstrar força e apresentar o candidato ao eleitorado.

Os únicos grandes comícios de Freixo foram aqueles organizados pela campanha petista no estado do Rio. O resultado veio nas urnas —mesmo com Lula sendo o candidato mais votado em 22 municípios do estado, Freixo não conseguiu liderar as votações em nenhum deles.

O UOL apurou que a avaliação final de parte da campanha de Lula é de que o empenho de Freixo ficou aquém do esperado, o que também contribuiu para o pouco engajamento da campanha presidencial no estado. Agora, a meta é mudar esse cenário.

Outra avaliação de interlocutores ouvidos pela reportagem é de que houve pouca articulação política de Freixo e Lula com políticos de centro, o que fez com que Lula recebesse quase 1 milhão de votos a menos que Bolsonaro no estado.

Apoio do PDT é reforçado no RJ

A única vez em que Lula esteve em um comício com candidatos de centro e centro-direita foi na Quadra da Portela, em Madureira, em um ato organizado por Paes —que apoiou Rodrigo Neves (PDT) ao governo do estado.

Ontem (5), Lula falou à imprensa sobre o apoio do PDT, ao lado de Carlos Lupi, presidente nacional da legenda. Lula agradeceu a declaração de voto e confirmou que estará no Rio na próxima semana, sinalizando que o estado é importante para a reta final de campanha.

"Se o Rodrigo [Neves] quiser me ajudar em Niterói, eu ficarei muito grato. Em São Gonçalo, ficarei muito grato. (...) Semana que vem estaremos na Cidade Maravilhosa e adjacências", disse.

Lula também afirmou —sem detalhar as ações— que "a democracia vai voltar a reinar no Rio de Janeiro, e o povo vai voltar a sair na rua para fazer política".

*Com informações de Lucas Borges Teixeira, de São Paulo