Mais ideológica, bancada evangélica tem 20% da Câmara, mas não atinge meta
A atual bancada evangélica da Câmara dos Deputados não atingiu a meta proposta de eleger 30% dos deputados desse segmento para o próximo ano. O objetivo era alcançar o percentual equivalente à parcela da população que diz ser evangélica no país (um terço dos brasileiros).
Por outro lado, o grupo conseguiu eleger o deputado federal mais votado, Nikolas Ferreira (PL-MG), com quase 1,5 milhão de votos. Ao todo, segundo levantamento feito por Guilherme Galvão Lopes, pesquisador da FGV (Fundação Getúlio Vargas), 75 deputados eleitos são evangélicos — e só 7 deles são de partidos da esquerda.
Já o levantamento prévio feito pela Frente Parlamentar Evangélica aponta que 115 parlamentares evangélicos venceram as eleições. "É a maior bancada de todos os tempos", diz o atual presidente do grupo, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ).
Divergência nos números. O pesquisador da FGV ressalta que a diferença entre os números levantados por ele e pela bancada acontece porque o grupo leva em consideração "parlamentares que se dizem cristãos genericamente ou que têm afinidade com o protestantismo".
Diferentemente do deputado, Lopes aponta que o bloco vai ter sua menor representação dos últimos 20 anos. Na avaliação do pesquisador, essa mudança acontece por causa do crescimento do bolsonarismo — candidatos mais conservadores e ligados a extrema direita.
Tivemos um deslocamento do voto em evangélicos para extrema direita. Candidatos conhecidos nacionalmente, por exemplo, perderam um terço dos votos em comparação com as eleições de 2018"
Guilherme Galvão Lopes, pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da FGV
Não chegamos aos 30% que era nossa meta, mas temos uma representação importante das igrejas evangélicas"
Sóstenes Cavalcante, presidente da frente evangélica e deputado federal
Assembleia de Deus lidera no ranking. Tanto no levantamento do pesquisador, como o feito pela bancada, a Assembleia de Deus tem a maior representatividade — 24 deputados fazem parte dessa denominação. Essa também é a igreja de Cavalcante e do pastor Silas Malafaia, apoiador do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).
Em seguida, aparece a Igreja Universal com 14 deputados e a Batista com 10 — essa última frequentada pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e pela senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF).
O pesquisador da FGV aponta para a chegada de igrejas sem tanta projeção nacional — como é o caso do deputado eleito Nikolas, ele faz parte da igreja Graça e Paz, que é mais conhecida no meio evangélico.
Mais ideologia e menos pragmatismo. Ao UOL o líder da bancada disse que as estratégias do bloco devem ser tratadas pelo "futuro presidente" após a posse, que deve ocorrer em fevereiro de 2023.
"Nossa atuação também depende do resultado presidencial. Temos que aguardar o resultado, mas 90% da bancada é formada por deputados conservadores e da direita", disse Cavalcante.
Em relação ao espectro político, a maioria dos eleitos ou reeleitos faz parte de partidos da direita. Na análise de Lopes, o grupo deve ser menos pragmático e mais ideológico.
"Temos uma mudança no perfil dos eleitos também, menos lideranças convencionais e mais jovens", diz o pesquisador. Segundo ele, hoje, o bloco utiliza a religião mais como pano de fundo das discussões políticas.
Fora do bloco. Parlamentares evangélicos eleitos, mas que são progressistas, não devem integrar a bancada. Em entrevista ao UOL News, o pastor Henrique Vieira, eleito como deputado federal pelo PSOL no Rio de Janeiro, informou que não vai participar do bloco.
"Não farei parte da bancada evangélica. Não estarei em Brasília para defender interesses da igreja, não quero que o Estado seja extensão da igreja, não quero que a Constituição seja expressão de doutrina religiosa", disse.
O pesquisador da FGV enxerga a decisão como legítima, mas ressalta que apesar dos evangélicos progressistas serem minoria são desarticulados.
Além de Vieira, outros nomes evangélicos conhecidos integrarão a Câmara: Marina Silva (Rede-SP) e Benedita da Silva (PT-RJ).
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