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Bolsonaro debocha de Bonner: 'Chance de ir pro STF'

Do UOL, em Brasília

09/10/2022 11h12Atualizada em 09/10/2022 16h11

O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), voltou neste domingo (9) a criticar o jornalista William Bonner, da TV Globo, mediador do debate entre presidenciáveis na emissora e um dos responsáveis por conduzir as sabatinas do Jornal Nacional com os candidatos à chefia do Executivo federal.

Segundo ele, ao entrevistar Lula no JN, Bonner se comportou como um "jurista" ao se dirigir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário nas urnas no segundo turno.

"É vergonhoso, né. Primeiro, o sorteio. Pode ser que tenha sido isento. Fui o primeiro a falar [referindo-se ao debate]. Se fosse depois do Lula, complicava o negócio... Agora, o William Bonner se postou como um jurista. 'O senhor não deve mais nada à Justiça'... O cara foi condenado em três instâncias por unanimidade", afirmou.

Como as condenações contra Lula foram anuladas e alguns dos crimes prescreveram, ele é juridicamente inocente.

Na sequência, Bolsonaro ironizou a postura de Bonner e afirmou que tem chance "dele ir para o STF", em referência ao Supremo Tribunal Federal.

"O Bonner, no meu entender, tem muita chance de ir para o Supremo Tribunal Federal. Porque você não precisa sequer ser advogado. Tem que ter conhecimento jurídico. E o Bonner demonstrou conhecimento jurídico, né", debochou.

As declarações ocorreram durante entrevista ao canal "Pilhado", dos jornalistas Thiago Asmar e Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente João Figueiredo. O encontro, transmitido ao vivo, começou às 10h e se estendeu até cerca de 14h20.

O presidente também voltou a atacar Lula e o chamou de "mentiroso, corrupto, bandido e sem caráter". O petista lidera as pesquisas de intenção de votos para o segundo turno e teve, no primeiro turno, maior votação do que Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022.

"Um grande mentiroso, estelionatário, corrupto, bandido e sem caráter. Não estou ofendendo Lula, é uma realidade, você mostra isso com ações dele ao longo de oito anos."

Histórico de ataques. Na visão do presidente e candidato à reeleição, o jornalista teria agido de forma parcial durante o debate da TV Globo. O governante federal reclama em especial do fato de o apresentador ter observado que, por decisão do STF, foram anuladas as sentenças aplicadas no âmbito da Lava Jato. Os processos nos quais o petista era réu foram invalidados.

Bolsonaro tem um histórico de críticas endereçadas à TV Globo e seus profissionais. O político tem o hábito de atacar a emissora e usar palavras ofensivas contra jornalistas.

Cadeiras no STF. Bolsonaro lembrou que, em função da aposentadoria compulsória, o mandatário do governo federal em 2023 terá a possibilidade de indicar dois novos ministros no Supremo —em substituição a Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, que vão completar 75 anos em maio e outubro do ano que vem, respectivamente.

Ele também disse que, se for reeleito, deve decidir após o pleito sobre a proposta de ampliar a composição da Corte. Para ele, a possibilidade de aumentar o número de ministros depende da "temperatura".

"Se eu for reeleito, e o Supremo baixar um pouco a temperatura, já temos duas pessoas garantidas lá", declarou Bolsonaro, em referência a Kassio Nunes Marques e André Mendonça (ministros que foram indicados por ele).

"Tem mais gente que é simpática à gente, mas já temos duas pessoas garantidas lá, que são pessoas que não dão voto com sangue nos olhos, tem mais duas vagas para o ano que vem, talvez você descarte essa sugestão."

O candidato do PL destacou, por outro lado, que qualquer iniciativa nesse sentido teria que ser negociada com o Parlamento.

Você tem que conversar com o Senado também a aprovação de nomes. Você tem que conversar com as duas Casas a tramitação de uma proposta nesse sentido
Jair Bolsonaro

Canibalismo. Na entrevista, Bolsonaro comentou o vídeo de uma entrevista antiga na qual ele fala que comeria carne humana. O material tem sido utilizado na propaganda eleitoral do adversário. Ontem, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) acatou pedido da campanha do Bolsonaro e proibiu a veiculação das imagens.

"Agora, fica o pessoal o tempo todo batendo na mesma tecla. Como agora... Ele é canibal. Pô, quem sabe o que aconteceu nos anos 90, quando entrou esse assunto... Que eu publicamente falei. Foi gravado vídeo no tocante a isso, ninguém se escondeu de nada. Ninguém é canibal, meu Deus do céu... Falamos sobre tradição dos yanomamis lá em uma reserva indígena chamada Surucucu."

Enquanto Bolsonaro concedia entrevista ao canal no Youtube, Lula subia no palanque em Belo Horizonte e fazia referência ao episódio em que a campanha do adversário foi associada ao canibalismo.

"Ainda tem dois debates com o genocida. Vou botar muito repelente com medo de uma mordida. Se ele pensar em dar uma mordida no pernambucano, ele vai morrer envenenado", disse o ex-presidente.

A entrevista que deu origem à repercussão foi dada por Bolsonaro ao jornal americano The New York Times, em 2016. Na ocasião, ele afirmou que só não comeu carne humana de um indígena em Surucucu porque "ninguém quis ir com ele".

"Morreu o índio e eles estão cozinhando, eles cozinham o índio, é a cultura deles. Cozinha por dois três dias, e come com banana. Daí eu queria ver o índio sendo cozinhado, e um cara falou, 'se for ver, tem que comer', daí eu disse, eu como! E ninguém quis ir, porque tinha que comer o índio, então eles não me queriam levar sozinho, e não fui", disse Bolsonaro na entrevista. "Eu comeria sem problema nenhum. É a cultura deles. Eu me submeti a isso", disse o então deputado federal.

Ainda no trecho da entrevista, que circula nas redes sociais, Bolsonaro fala sobre uma visita ao Haiti. Ele teria indicado na conversa com o jornalista do veículo americano que só não teve relações sexuais com mulheres por falta de higiene no local. O vídeo na íntegra está no canal do YouTube do presidente.