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Alvo de operação da PF, governador de Alagoas é afastado do cargo pelo STJ

Colunista do UOL e do UOL, em São Paulo

11/10/2022 09h41Atualizada em 11/10/2022 14h45

Governador de Alagoas e candidato à reeleição, Paulo Dantas (MDB) foi afastado hoje do cargo por 180 dias por ordem do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele é alvo da Operação Edema da PF (Polícia Federal) e do MPF (Ministério Público Federal), que investiga um suposto esquema de desvio de recursos públicos.

Paulo Dantas é investigado por prática de uso de funcionários fantasmas em seu gabinete quando era deputado estadual, mas também há supostas irregularidades no período em que ele se tornou governador. O inquérito é sigiloso.

O emedebista se afastou do cargo de deputado ao ser eleito para um mandato tampão em maio, após Renan Filho (MDB) deixar o governo para disputar uma vaga ao Senado.

O STJ informou que julgará o caso de Dantas às 14h desta quinta-feira (13), na Corte especial, composta pelos 15 ministros mais antigos do tribunal e que julga as ações penais contra governadores e outras autoridades.

Apoiado por Lula. Paulo Dantas disputa o segundo turno das eleições contra Rodrigo Cunha (União Brasil). Ele recebeu 46,64% dos votos válidos, enquanto seu adversário, apoiado por Arthur Lira (PP), teve 26,74%.

Paulo Dantas tem apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da família de Renan Calheiros (MDB). Lula, inclusive, tem agenda em Maceió na próxima quinta-feira (13). Segundo o UOL apurou, o compromisso foi mantido pela campanha do petista.

Esquema começou em 2019. Segundo a PF e o MPF, o esquema na Assembleia Legislativa de Alagoas começou em 2019. A investigação, que corre em segredo de justiça, também aponta a ocorrência dos crimes de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro.

O MPF diz que a "necessidade e urgência das medidas cautelares" foram demonstrados nos autos da investigação.

A PF cumpre 31 mandados de busca e apreensão, inclusive em endereços ligados ao governador. Segundo o MPF, as medidas incluem ordem de sequestro de bens e valores que somam R$ 54 milhões.

Defesa ainda não se manifestou. Ao UOL, a assessoria de imprensa de Paulo Dantas informou que apura o caso e publicará uma nota. O governador está em São Paulo.

Quem assume? O vice-governador, José Wanderley Neto (MDB), que foi eleito deputado estadual no último 2. será comunicado sobre a ordem judicial de afastamento de Paulo Dantas ainda hoje. Ele assume o cargo por 180 dias. Ele está aguardando ser notificado para tomar posse, o que não ocorreu até as 11h30 de hoje.

Pai acusa filho. A denúncia de suspeita de corrupção na Assembleia envolvendo Paulo Dantas é antiga e remonta ainda a 2017, quando ele era diretor-geral da casa e o seu pai, Luiz Dantas, era o presidente do legislativo.

Em setembro, Luiz gravou um vídeo acusando o filho de participar de um suposto esquema de corrupção na Assembleia quando ele era presidente. "Não quero que os alagoanos sejam traídos como eu fui", disse, à época, sem dar detalhes da traição.

O vídeo foi gravado para a campanha eleitoral de Cunha, rival de Paulo Dantas no segundo turno, e teve grande impacto na classe política. Paulo conseguiu na justiça eleitoral que o vídeo não fosse ao ar e conseguiu direito de resposta.

Novo vídeo do pai. Após a operação que afastou Paulo do governo hoje, Luiz voltou a gravar um vídeo em que diz que alertou o filho para se afastar de Marcelo Victor (MDB), que é presidente da Assembleia e foi reeleito deputado estadual no último dia 2. "Eu disse para você não se unir com Marcelo Victor", afirma.

Marcelo Victor é considerado hoje o maior articulador político do estado e é aliado do senador Renan Calheiros (MDB). Ambos são alvos constantes de ataques do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que rivaliza pelo poder local com eles. Lira apoia Cunha ao governo.

Lira comentou na véspera do 1º turno. Em vídeo gravado na véspera da eleição, Arthur Lira chegou a comentar a investigação contra Dantas. "O pai do governador já explicou à população o risco que ela corre porque quem comanda o governador está aí fazendo os seus mal-feitos", disse.

"Se eu tivesse gerência na Polícia Federal —que graças a Deus ninguém tem— os integrantes e os delatados na operação Edema, que vamos discutir bem muito agora no segundo turno, estariam na cadeia", completou.

Arthur não quis comentar sobre a operação.

Mudança na PF em Alagoas. Um fato que chamou a atenção em Alagoas foi a mudança da superintendente Regional da Polícia Federal em Alagoas, Juliana de Sá Pereira, em agosto, no lugar de Sandro Luiz do Valle Pereira. A mudança já havia sido tentada em maio, mas foi vetada por ingerência política, segundo revelou a Folha.

Na sexta-feira véspera da eleição, Marcelo Victor foi alvo de uma operação da PF que apreendeu R$ 145 mil em seu poder. Um inquérito foi aberto para investigar a origem e destinação dos recursos. Ele acusou de uso político da polícia contra ele.