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Como Helder Barbalho fez aliança com 15 partidos e venceu PL com 70% no PA

Governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) - FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) Imagem: FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL

13/10/2022 04h00

Uma aliança extensa com 15 partidos de ideologias diferentes ajuda a explicar por que o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), foi reeleito para o segundo mandato no primeiro turno com a maior votação do país. Ele obteve 70,47% dos votos válidos (mais de 3 milhões), derrotando o principal concorrente, Zequinha Marinho (PL), aliado de Jair Bolsonaro.

Juntaram-se à campanha do emedebista os partidos PSDB, Cidadania, PT, PCdoB, PV, PP, PSD, PDT, Republicanos, Avante, Podemos, União Brasil, DC, PTB e PSB.

Com tantas siglas aliadas — incluindo legendas que nacionalmente apoiavam Bolsonaro — o tempo de propaganda política de Barbalho na TV também foi maior.

Já o principal adversário de Barbalho contou apenas com Patriota e PSC como aliados.

Para conseguir apoio de vários lados, Barbalho se afastou da polarização das eleições presidenciais e se valeu de um novo arranjo de forças políticas no Pará, segundo especialistas.

A má avaliação dos últimos governadores também favoreceu a reeleição do emedebista com ampla vantagem.

Desde a redemocratização, a principal polarização no Pará foi entre o antigo PMDB (hoje MDB) e o grupo liderado pelo PSDB. No polo do PMDB estava a família Barbalho e seus aliados, explica Gustavo Ribeiro, professor de sociologia e ciência política da Universidade Federal do Pará (UFPA).

"As duas últimas gestões — de governo com Simão Jatene e na prefeitura da capital com Zenaldo Coutinho (ambos do PSDB) — saíram muito mal avaliadas e isso fez com que o polo de oposição ao MDB ficasse enfraquecido", explica Ribeiro.

"Helder teve a capacidade de arregimentar e incorporar o apoio do principal adversário, que era o PSDB", avalia. Em crise, a ponto de não lançar candidato ao governo na eleição passada, o PSDB ficou ainda mais fraco, alterando as forças políticas.

"Toda a direita que não era bolsonarista estava com ele (Helder Barbalho) e a esquerda teve o PT, um partido forte, que fez coligação com Helder com um candidato ao Senado, uma aliança com o objetivo de marcar posição", explica Ribeiro.

O senador Beto Faro (PT) também conseguiu se eleger, derrotando o oponente do PL.

Helder Barbalho - Divulgação - Divulgação
Helder Barbalho (MDB) ao lado da esposa Daniela, em convenção do partido, em Belém
Imagem: Divulgação

Além da diversidade de partidos, também ajudou Barbalho o fato de que as alianças começaram a se formar bem antes das eleições, ainda em 2020, com apoio de boa parte das prefeituras dos municípios paraenses.

"As alianças com prefeitos do interior fizeram com que Helder tivesse palanque em vários municípios fortes", diz o especialista.

Em campanha, Barbalho aproveitou para destacar que visitou todos os municípios do Pará.

A professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Marcela Machado também ressalta a habilidade do político paraense de conseguir unir o centro e a esquerda em uma chapa — e ainda captar votos dos dois lados.

No primeiro turno, Barbalho conseguiu se manter distante da polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), usando a candidatura do seu partido para presidente — Simone Tebet — como um escudo, segundo Marcela.

Apesar de não declarar apoio a nenhum candidato à Presidência, Barbalho acompanhou Tebet durante agenda em Belém e também subiu no palanque de Lula durante comício na capital paraense.

A especialista da UnB destaca ainda o aceno de Barbalho a diferentes segmentos da sociedade: de religiosos a indígenas.

"Ter um governo bem avaliado, se afastar da eleição presidencial, garantir maioria no legislativo estadual. Além disso, flertar com as forças armadas, com entidades religiosas, povos indígenas. Com isso, Helder conseguiu reunir quase todos os segmentos da sociedade paraense", afirma a professora da UnB.

Inquéritos na PF

Nem o fato de ser alvo de dois inquéritos na Polícia Federal teve impacto nas eleições. E isso, segundo Marcela, tem relação com um comportamento eleitoral da sociedade.

"Em geral, a população não se preocupa com inquéritos. A análise das pessoas é a partir do impacto imediato das coisas que permeiam a vida delas."

Uma das investigações apontou a compra de respiradores da China que não funcionavam, durante a pandemia. O valor da compra foi de R$ 50 milhões, metade paga antecipadamente.

Na época, o governador afirmou que determinou o bloqueio dos pagamentos à empresa e entrou na Justiça pedindo indenização por danos morais coletivos.

O outro inquérito de que o governador paraense foi alvo é o que investigou 12 contratos com quatro organizações sociais, que somaram mais de R$ 1,2 bilhão.

Ao UOL, Barbalho atribuiu a votação expressiva à boa avaliação do governo, que superou a polarização política, reunindo votos de eleitores dos dois lados, direita e esquerda. Ele também reconhece que as alianças foram importantes.

"Com apoio de um conjunto de partidos, de lideranças, prefeitos, deputados, isso nos permitiu garantir uma ampla frente democrática apresentando aquilo que nós desejamos fazer nos próximos quatro anos no estado", disse o governador.

Quem é Helder Barbalho

Natural de Belém, Helder Zahluth Barbalho tem 43 anos. Ele é filho do senador Jader Barbalho (MDB), que governou o Pará por duas vezes (1983-1987 e 1991-1994). A mãe, Elcione Barbalho (MDB), é deputada federal desde 2007. O irmão, Jader Filho, comanda a legenda no estado desde 2019.

Barbalho está na política partidária desde os 18 anos, quando se filiou ao MDB. Se elegeu vereador de Ananindeua aos 21, em 2000, e depois deputado estadual no pleito de 2002. Aos 25 anos, se tornou prefeito de Ananindeua — quarta maior cidade da região Norte — após vencer as eleições municipais de 2004. Ele foi reeleito para o mesmo cargo em 2008.

Após deixar o cargo de prefeito, se candidatou ao governo em 2014, perdendo de virada no segundo turno para Simão Jatene (PSDB). Após a derrota estadual, comandou os ministérios da Pesca e Aquicultura e da Secretaria Nacional dos Portos, ambos no governo Dilma Rousseff (PT). Também foi ministro da Integração Nacional no mandato de Michel Temer (MDB).