Silvia Waiãpi: quem é a deputada indígena, militar e bolsonarista
Indígena e bolsonarista, a ex-oficial do Exército Silvia Waiãpi (PL) foi eleita deputada federal pelo Amapá nas eleições de 2022. Com Sônia Guajajara (PSOL-SP), Célia Xakriabá (PSOL-MG) e Juliana Cardoso (PT-SP), vai fazer parte do grupo de mulheres indígenas na Câmara dos Deputados. Mas, como defensora do governo Jair Bolsonaro, segue na contramão da luta de movimentos indígenas.
A militar, que foi a primeira mulher indígena a entrar para o Exército Brasileiro, em 2011, defende que as Forças Armadas têm um importante papel na política indigenista do Brasil. Ela ocupou o cargo de secretária de Saúde Indígena no atual governo. Nas eleições, foi a deputada federal eleita menos votada no Brasil, com 5.435 votos.
Em sua campanha nas eleições, Silvia recebeu o apoio de políticos do Partido Liberal, como Eduardo Bolsonaro, Damares Alves e Carla Zambelli.
Por isso, Silvia foi criticada pelos movimentos indígenas, que tiveram as relações desgastadas com o atual presidente da República.
Ao UOL, Sônia Guajajara disse que "o fato de uma deputada ter origem indígena não quer dizer que defenda as pautas coletivas dos povos". As representantes do PSOL e do PT veem no atual governo uma ameaça à existência dos povos tradicionais e do meio ambiente. Já a eleita pelo PL endossa os discursos de Bolsonaro sobre o tema.
"É impossível ter diálogo com quem defende o Bolsonaro", diz Sônia. Segundo ela, o movimento está unido pela demarcação de territórios e contra a abertura destas áreas para atividades como o garimpo.
Silvia Waiãpi, por sua vez, faz coro ao discurso de Bolsonaro e das Forças Armadas de que entidades como a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), que se opõem ao governo, defendem interesses estrangeiros e atrapalham o desenvolvimento econômico do país.
"Eu não defendo nenhuma iniciativa que contribua para a instabilidade política da minha nação, ou que coloque em risco a soberania nacional. As minhas experiências me conduzem para um tipo de pensamento, que defende a soberania do país", afirmou.
Durante a sua campanha, Silvia entrou com uma ação contra seu próprio partido, acusado de discriminá-la por ser "negra, indígena e bolsonarista", como divulgado em setembro pela Folha de S.Paulo.
Segundo a reportagem, a candidata alegou que o partido repassou menos dinheiro do fundo eleitoral a ela do que às outras candidatas mulheres do Amapá pelo fato de ambas serem brancas e ela, negra e indígena.
Mãe aos 13 anos
Silvia nasceu na aldeia da etnia Wajãpi, no Amapá, mas foi adotada e registrada em Macapá quando era bem pequena.
Kayne era seu nome de origem. Ela sofreu um acidente aos 3 anos de idade e foi levada a Macapá, onde operou e acabou sendo adotada por um casal, que a registrou como filha, com o nome de Silvia Nobre Lopes.
A indígena se tornou mãe aos 13 anos, decidiu abandonar a aldeia e se mudar para o Rio de Janeiro, onde estudou e ingressou para o Exército. É formada em Fisioterapia pelo Centro Universitário Augusto Motta e em Política e Estratégia; Liderança Estratégica pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).
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