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Sem provas, Bolsonaro diz que pesquisas deram 3 milhões de votos para Lula

Do UOL, em Brasília

15/10/2022 15h36

Com 6 milhões de votos a menos que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) creditou seus resultados ruins no Nordeste a mentiras, ou "fake news", e até a pesquisas eleitorais. Ele disse neste sábado (15) que, por causa da influência das sondagens sobre a população, os levantamentos "arranjaram" 2 ou 3 milhões de votos para o petista no primeiro turno. Ele não apresentou provas de como chegou a esse cálculo.

Em passagem por Fortaleza (CE), ele foi questionado por um repórter sobre o motivo de alguns aliados dele no Ceará terem bons resultados nas urnas, ao contrário dele. No estado, Bolsonaro teve 25% dos votos, enquanto Lula teve 66%.

"É muita desinformação praticada pelo PT, muita mentira", iniciou Bolsonaro. "Não gosta de nordestino, não gosta negro, vai acabar o 'Bolsa família', vai aumentar o preço da gasolina'. É o tempo todo assim. Muita gente acredita nisso. A gente vai desmentindo isso daí."

Bolsonaro também reclamou dos institutos de pesquisas eleitorais. "Pode ter certeza de que também fomos prejudicados por isso: pesquisas mentirosas. Teve gente que perdeu uma eleição porque o pessoal resolveu investir em outro porque a pesquisa para aquele cara estava lá embaixo."

E calculou, sem apresentar provas: "Ou seja, com toda certeza, essas pesquisas mentirosas arranjaram dois, três milhões de votos para o Lula".

Na sexta-feira, dois dias antes do primeiro turno, e no sábado, na véspera, um dos institutos mais tradicionais, o Datafolha, apontava a disputa presidencial desta forma. Lula tinha entre 48% e 52% dos votos válidos, de acordo com as margens de erros apresentadas. Bolsonaro teria entre 34% e 38%.

Mas, no dia seguinte, Lula teve 48%, enquanto Bolsonaro teve 43%, portanto cinco pontos percentuais acima da margem de erro. Os institutos de pesquisas não preveem o futuro, mas tentam exibir uma fotografia, a mais próxima possível da realidade, naqueles dias em que as pessoas foram entrevistadas. E, como o nível de confiança é de 95%, há 5% de chance de os resultados reais estarem fora da margem de erro apresentada.

As avaliações de momento das pesquisas — como no Datafolha, no Ipec (ex-Ibope) e outros institutos —- foram diferentes dos dados da votação nas urnas nos dias seguintes. Isso fez políticos criticarem as empresas que fazem levantamentos. O governo Bolsonaro pediu que a Polícia Federal abrisse um inquérito criminal sobre o tema. Mas o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, suspendeu a apuração.

Bolsonaro diz que tem votos para vencer

Antes da entrevista, Bolsonaro discursou por quase meia hora. Ele disse aos jornalistas que estava desmentindo mentiras contadas pelo PT e que já teria revertidos votos dados a Lula.

"Estamos revertendo votos do primeiro turno", afirmou. "Acredito que já tenhamos o suficiente para falarmos em vitória. Temos alguns dias pela frente."

O presidente disse que resolveu a inflação, apesar de ela ainda estar fora da meta prevista pelo Banco Central.

"Resolvemos a questão da inflação, que estava aumentando e muito", declarou Bolsonaro hoje. O IBGE anotou que a inflação diminuiu nos últimos três meses depois que os combustíveis passaram a ter menos impostos estaduais, o ICMS.

No primeiro semestre, o índice era de mais de 10% ao ano nos últimos 12 meses. Agora, está em 7,17% nos últimos doze meses, porém, ainda acima do teto da meta de inflação, que é de 5% ao ano.

A inflação dos alimentos segue acima dos dois dígitos. A alta da comida está em 11,71% nos últimos doze meses.

Bolsonaro cita refinarias, mas não se compromete a terminar

Bolsonaro garantiu, mais uma vez, que manterá o Auxílio Brasil em R$ 600 no ano que vem se for reeleito. Também disse que o preço da gasolina não vai subir depois das eleições. Adversários afirmam que basta a Petrobras elevar o valor dos combustíveis de novo, como fez durante todo o ano de 2021 e o primeiro semestre, para ser desfeita a queda de preços motivada pelo ICMS menor.

O presidente reclamou que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não concluiu as refinarias de diesel iniciadas em seu governo (2003-2010) em Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro. Bolsonaro reclamou e disse que o Brasil não é autossuficiente em diesel e que precisa importar o combustível - usado em caminhões e que tem impacto no preço da comida nos supermercados.

Mas, ao mesmo tempo, Jair Bolsonaro não revelou se vai retomar as obras das refinarias que ele criticou por não estarem prontas. "Estamos buscando solução para isso: ou nós construímos ou iniciativa privada. Se achar que é lucrativo, constrói a refinaria."

Durante os três anos e meio de governo, Bolsonaro vendeu uma refinaria da Petrobras, em Salvador, que passou a vender combustível mais caro do que quando era estatal.