Datafolha é alerta, mas é impossível Bolsonaro tirar a vantagem, diz Lula

A dez dias do segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliou que a redução da distância para o presidente Jair Bolsonaro (PL), retratada pela pesquisa Datafolha divulgada ontem (19), serve de "alerta" para a campanha, mas mostrou confiança na vitória.

"Acho impossível ele tirar a diferença em uma semana, mesmo fazendo as loucuras que ele faz e contando as mentiras que ele conta", afirmou Lula durante entrevista coletiva no Rio de Janeiro, onde ele fará atos de campanha em São Gonçalo, na região metropolitana, e Padre Miguel, na zona oeste da capital.

PT mira abstenção. Lula admitiu que o foco de sua campanha agora é reduzir a abstenção —que é maior entre o eleitorado mais pobre, que vota majoritariamente no petista— e tentar ganhar votos de pessoas que não foram às urnas no primeiro turno.

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"A pesquisa serve apenas para nos alertar. Falta pouco mais de uma semana de campanha, estamos disputando o chamado voto de abstenção, de pequenos setores da sociedade, porque a eleição está muito parelha, está muito apertada e tem muita gente decidida", analisou Lula.

O petista ainda minimizou o crescimento dentro da margem de erro que Bolsonaro exibiu nas pesquisas desta semana —no Datafolha, a diferença entre os dois oscilou de 5 para 4 pontos percentuais nos votos totais em relação à semana anterior. Com isso, os dois aparecem empatados no limite da margem de erro de 2 pontos percentuais do levantamento, mas tal cenário é considerado estatisticamente improvável neste momento pelo Datafolha.

"Estou certo de que nós vamos ganhar as eleições. Estou certo porque a quantidade de dinheiro e de anúncio que está sendo colocado na televisão, a liberação de fundo de garantia. Ele [Bolsonaro] tem ganho alguns pontos muito lentamente".

Exército de robôs. Lula ainda voltou a atacar Bolsonaro pelo uso de notícias falsas contra sua campanha. Ele defendeu a judicialização da campanha no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo PT, que em uma ofensiva jurídica conseguiu direito de resposta em 184 inserções de Bolsonaro.

"Nosso adversário tem uma máquina poderosa de contar mentira. Não é pouca coisa a rede que meu adversário utiliza para vender monstruosidade, para contar mentira e para se explicar. Se pegar essa situação das meninas de Brasília, ele levantou 1h da manhã para tentar se explicar", exemplificou.

Lula ainda rebateu o discurso de Bolsonaro comparando os valores pagos no Bolsa Família com o Auxílio Brasil de R$ 600.

"Se o Bolsa Família tivesse sido reajustado pelo Temer e por ele já estaria em quase R$ 700", afirmou. "A gente precisa reconhecer a capacidade do exército de milicianos dele de fazer o enfrentamento nas redes sociais".

Antes de Lula começar a responder os jornalistas, a deputada federal Gleisi Hoffmann, criticou o pastor bolsonarista André Valadão, da Igreja Batista do Lagoinha. Ele publicou ontem um vídeo com uma suposta retratação à Lula por decisão do TSE. Contudo, o texto lido pelo pastor reforça a desinformação contra o petista. O TSE negou ter dado qualquer decisão contra Valadão.

"É lamentável um pastor de Belo Horizonte gravando um vídeo como se tivesse sido obrigado pela Justiça Eleitoral a fazer um desmentido, coisa que não teve. Ele grava um vídeo reiterando as fake news, se colocando como vítima e engrossando o caldo de que se quer fechar igrejas", repudiou ela.

Crítica à liberação de armas. Perguntado por um jornalista sobre suas propostas para combater o crime organizado, Lula anunciou que, se eleito, recriará o Ministério da Segurança Pública —que foi implantado no governo Temer— e estruturará uma nova polícia no âmbito federal para combater o tráfico de drogas e armas nas fronteiras.

O petista atacou os decretos de Bolsonaro que flexibilizaram o acesso a armas de fogo e munições. Segundo Lula, a liberação de armamento "não pode ser feita para o bem" e municia o narcotráfico.

"[O criminoso] Não precisa mais se preocupar com o tráfico de armas nas fronteiras porque os decretos do bolsonaro liberaram as armas para todo mundo. E quem está adquirindo armas não sãos as pessoas honestas desse país, as pessoas de família, os trabalhadores. Quem está tendo acesso à arma, é quem antes era obrigado a invadir um arsenal da Marinha, do Exército, da Aeronáutica e da PM", afirmou o petista, fazendo referência aos ataques a paióis das Forças Armadas que ocorriam com frequência no Rio de Janeiro na década passada.

"O narcotráfico e o crime organizado vão livremente comprar armas. Pode comprar quantos fuzis quiser, quantas metralhadoras quiser, quantas pistolas quiser. E milhares de cartuchos. Isso não pode ser feito para o bem", disparou o petista.

Lula ainda fez um aceno aos evangélicos —setor em que a pauta armamentista é rejeitada sobretudo pelas mulheres— ao fazer referência às famílias nesse contexto.

"Para as famílias que trabalham e vivem em paz não interessa comprar armas. Quem tem que ter arma boa para enfrentar o crime organizado é a polícia, não o cidadão comum. O que o Bolsonaro fez foi liberar armas para que o narcotráfico tenha acesso sem precisar roubar, comprando legalmente as armas e fazendo com que aumente o número de tiros e violência nesse país", completou. "Não é possível que a gente não tenha nenhum controle das armas que são vendidas nesse país. O que estamos vendo é o narcotráfico se modernizando com autorização do governo não só para enfrentar a polícia, mas para tirar a tranquilidade do nosso país".