Com R$ 60 milhões a mais, doações para Bolsonaro disparam no 2º turno
Com o início do segundo turno, em 3 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) viu disparar o volume de doações para sua campanha à reeleição. O atual mandatário, que havia recebido R$ 25 milhões de pessoas físicas até o primeiro turno, arrecadou mais R$ 60 milhões como doações privadas desde então.
Até as 22h de ontem, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Bolsonaro levantou R$ 85,7 milhões com pessoas físicas. Há quatro anos, nas eleições 2018, ele recebeu cerca R$ 3,8 milhões, quase tudo proveniente de uma vaquinha virtual. Já em 2022, o presidente foi apoiado por grandes empresários: há 163 doações de R$ 100 mil ou mais. E as sete maiores alcançam ou superam R$ 1 milhão.
A arrecadação contrasta com a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário de Bolsonaro no segundo turno. O petista fez a maior vaquinha virtual destas eleições, com quase R$ 2 milhões. Mas as doações de pessoas físicas —que são contadas em separado— ficaram em cerca de R$ 1,7 milhão, um valor 42 vezes menor do que o amealhado pelo rival.
Ao final do primeiro turno, Bolsonaro já era o candidato no Brasil, considerando todos os cargos em disputa, que mais tinha recebido doações para a campanha. Com a chegada de outubro, a vantagem se tornou um abismo: o valor já acumulado pelo presidente é mais que o quádruplo do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), segundo colocado no ranking, que levantou R$ 19,18 milhões dessa forma. Tarcísio é aliado de Bolsonaro e disputa o governo de São Paulo.
Dos 50 maiores doadores individuais de Bolsonaro, 22 fizeram novos repasses no segundo turno depois de já terem contribuído no primeiro. Para o cientista político Daniel Miranda, professor da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), a explosão nas contribuições pode ser explicada pelos resultados na urna.
"Como o Bolsonaro conseguiu muito mais votos do que o esperado no primeiro turno, isso parece ter revigorado a campanha. E o empresariado, que viu a chance de uma virada, passou a ajudar ainda mais", avalia o professor.
O UOL Notícias procurou a campanha de Bolsonaro para tratar do aumento de doações no segundo turno, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.
Confira quem são os 10 candidatos no país que mais receberam doações de pessoas físicas na campanha:
- Jair Bolsonaro (PL) / Presidência - R$ 85,73 milhões
- Tarcísio de Freitas (Republicanos) / Governo SP - R$ 19,18 milhões
- Roberto Argenta (PSC) / Governo RS - R$ 6,05 milhões
- Camilo Santana (PT) / Senado CE - R$ 3,49 milhões
- Elmano Freitas (PT) / Governo CE - R$ 3,17 milhões
- Jaime Bagatolli (PL) / Senado RO - R$ 2,98 milhões
- Onyx Lorenzoni (PL) / Governo RS - R$ 2,76 milhões
- Carlos Moisés (Republicanos) / Governo SC - R$ 2,42 milhões
- Rodrigo Garcia (PSDB) / Governo SP - R$ 2,41 milhões
- Marcelo Freixo (PSB) / Governo RJ - R$ 2,37 milhões
Quem são os doadores de Bolsonaro? A maior base de recursos privados da campanha é o agronegócio, que chegou a ter oito dos dez maiores doadores da campanha bolsonarista durante o primeiro turno. Com o início de outubro, porém, empresários de outros ramos passaram a injetar dinheiro na campanha.
Entre os principais financiadores da corrida eleitoral de Bolsonaro estão nomes como José Salim Mattar, que trabalhou na equipe econômica do governo, e de seus sócios na empresa Localiza, Antônio Cláudio e Flávio Resende.
Também na lista estão os irmãos Alexandre e Pedro Grendene, do setor de calçados, e Luciano Hang, dono das lojas Havan e aliado próximo do presidente. No topo da lista, com um aporte de R$ 3 milhões, está o advogado evangélico Fabiano Zettel, pastor da igreja Bola de Neve em Belo Horizonte.
Na avaliação do cientista político e professor da UFMS, o setor empresarial brasileiro está em peso com Bolsonaro.
Embora haja manifestações de empresários a favor do Lula, elas são muito menos comuns. Além das doações, o que também disparou no segundo turno foram os casos de assédio eleitoral por parte de empresários. São movimentos que deixam claro a posição pró-Bolsonaro
Daniel Miranda, cientista político e professor da UFMS
Confira quem são os 10 maiores doadores da campanha de Bolsonaro:
- Fabiano Zettel (advogado e pastor) - R$ 3 milhões
- José Salim Mattar (empresário, Localiza) - R$ 1,8 milhão
- Hugo de Carvalho Ribeiro (agronegócio) - R$ 1,2 milhão
- Luciano Hang (empresário, Havan) - R$ 1,022 milhão
- Alexandre Grendene (empresário, Grendene) - R$ 1 milhão
- Cornelio Sanders (agronegócio) - R$ 1 milhão
- Oscar Cervi (agronegócio) - R$ 1 milhão
- Pedro Grendene (empresário, Grendene) - R$ 1 milhão
- Jorge Eduardo Beira (empresário, Ypê) - R$ 750 mil
- Ralph Whitaker Carneiro (mercado financeiro) - R$ 650 mil
Quanto dinheiro privado já foi doado para as campanhas? Segundo dados do TSE atualizados até as 22h de ontem (27), pessoas físicas doaram um total de cerca de R$ 802 milhões às campanhas de todos os candidatos. O valor já é 42% superior aos R$ 564,6 milhões desembolsados nas eleições presidenciais passadas, em 2018.
Apesar de ter crescido no período, no entanto, a distribuição do dinheiro ficou mais desigual. No pleito de quatro anos atrás, 19.522 candidatos haviam recebido pelo menos uma doação de pessoa física. Em 2022, o número caiu para 9.585 beneficiários, menos da metade de quatro anos atrás. O dinheiro cresceu, mas está concentrado em menos mãos.
Bolsonaro recebeu, sozinho, mais de 10% de todas as doações privadas feitas na atual eleição, e os candidatos do PL, partido do presidente, levaram 20% de toda a verba privada distribuída na campanha. Ou seja: de cada cinco reais doados às campanhas, um ficou com a sigla. Já o PT, de Lula, é o sétimo partido na lista.
Veja os dez partidos que, na soma de todos os candidatos, mais receberam doações de pessoas físicas:
- PL - R$ 165,98 milhões
- PSD - R$ 72,39 milhões
- MDB - R$ 60,92 milhões
- União Brasil - R$ 60,54 milhões
- PP - R$ 60,24 milhões
- Republicanos - R$ 57,44 milhões
- PT - R$ 48,13 milhões
- PSDB - R$ 46,48 milhões
- PSB - R$ 38,12 milhões
- Novo - R$ 31,30 milhões
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