Lula lembra 'pílula abortiva', e Bolsonaro rebate: 'Você que é abortista'
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relembrou hoje, no debate da TV Globo, uma fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) em que ele disse ter considerado o aborto de um dos filhos --a declaração foi dada na época em que o chefe do Executivo era deputado federal, em 2000.
"O candidato se lembra desse discurso? Eu vou ver um trecho aqui. Não adianta uma multidão de brasileiros subnutridos sem condições de servir a seu país. Conclui o teu deputado que oferece que seja distribuído pílula de aborto para a sociedade brasileira em 1992, quando era deputado. Falou isso ou não?", questionou Lula.
Bolsonaro, então, elevou o tom e chamou o adversário de abortista, além de dizer que a pílula seria a "do dia seguinte", considerada um método contraceptivo e não um abortivo. "30 anos atrás? Não confunda pílula do dia seguinte", falou.
- Cytotec é o nome comercial do misoprostol, um medicamento criado originalmente para o tratamento de úlcera que teve seu efeito abortivo descoberto posteriormente. Atualmente, a comercialização é proibida no Brasil, mas é recomendado pela Organização Mundial de Saúde como o método farmacológico para um aborto seguro.
- Pílula do dia seguinte é um contraceptivo de emergência que age bloqueando a ovulação e prevenindo uma possível gravidez depois de uma relação sexual desprotegida. Ou seja, diferentemente do misoprostol (Cytotec), ele evita a gestação, não é abortivo.
"Eu posso mudar. Agora você, há poucos dias, falou claramente que aborto é uma questão de saúde pública! Que as madames iam fazer aborto lá fora. Aqui dentro as mulheres faziam outras coisas. Você é abortista, Lula. Você é abortista convicto", afirmou.
Bolsonaro declarou o seu pedido de aborto à ex-esposa à revista IstoÉ, conforme trechos recuperados pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. A entrevista, de fevereiro de 2000, trouxe o presidente classificando o aborto como "uma decisão do casal".
Questionado se já havia passado por essa situação, Bolsonaro confirmou: "Já. Passei para a companheira. E a decisão dela foi de manter. Está ali, ó", respondeu, apontando para uma foto de Jair Renan.
A jornalista Andréia Sadi, da TV Globo, resgatou outro movimento do presidente a favor do aborto. Em 1992, o então deputado disse apoiar as "pílulas do aborto".
No embate hoje à noite, Lula afirmou ser contra o aborto, assim como "as minhas mulheres eram contra o aborto, minha mulher é contra o aborto". Bolsonaro, então, disse: "não vou trazer aqui o caso da primeira mulher dele porque... Eu quero respeitar essas pessoas, respeitar a filha que nasceu naquele momento".
Ao chamar Lula de abortista, Bolsonaro tentou lembrar indiretamente do caso de Miriam Cordeiro, mãe de uma das filhas do petista Lurian Cordeiro Lula da Silva. Em 1989, Miriam deu uma entrevista à campanha do adversário de Lula no segundo turno, Fernando Collor, afirmando que o petista teria oferecido dinheiro para ela abortar.
Tentativa de apagar menção
Bolsonaro teria pedido, em 2011, para a revista Playboy cortar o trecho de uma entrevista na qual ele admitia ter cogitado pedir à sua ex-esposa, Ana Cristina Siqueira Valle, que abortasse. A gestação era de Jair Renan Bolsonaro, hoje com 24 anos.
Segundo Jardel Sebba, que entrevistou Bolsonaro para a revista Playboy em 2011, o então deputado federal o chamou antes do início de uma nova rodada de perguntas e pediu que a resposta na qual que mencionava o aborto, citada no dia anterior para a mesma publicação, fosse deixada de fora da revista.
*Em São Paulo: Ana Paula Bimbati, Gilvan Marques, Isabella Cavalcante, Rafael Neves e Wanderley Preite Sobrinho
No Rio: Carla Araújo, Felipe Pereira, Lola Ferreira e Lucas Borges Teixeira
Em Brasília: Camila Turtelli, Gabriela Vinhal e Hanrrikson Andrade
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