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Em frase racista, Zambelli diz que 'usaram um negro' para ir atrás dela

Ana Paula Bimbati e José Dacau

Do UOL, em São Paulo*

29/10/2022 19h29

Filmada apontando uma arma para um homem negro no meio de uma rua em São Paulo, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) usou uma frase racista ao afirmar após o ocorrido que "usaram um negro para vir atrás de mim".

No vídeo, a deputada atravessa a rua e entra em um bar com uma pistola em punho na rua Joaquim Eugênio de Lima com a alameda Lorena, na região da Paulista.

Pela gravação, é possível ouvir a deputada falando para o homem mais de uma vez: "Deita no chão". Pessoas que estavam no local tentaram contê-la e uma voz afirma "ela quer me matar, mano".

Em vídeo em suas redes sociais, Zambelli disse que estava fazendo um boletim de ocorrência:

Fui agredida agora há pouco. Me empurraram no chão, um homem negro... Usaram um negro para vir em cima de mim, eram vários."

Zambelli alega ter sido vítima de xingamentos e diz ter recebido cuspes de um grupo de homens e de "uma mulher de camiseta vermelha".

"Quando ele me empurrou eu caí, falei que ia chamar a polícia. Ele se evadiu, eu saquei arma e fui correndo atrás dele, pedindo para ele parar porque eu ia chamar a polícia e dar flagrante", contou ela depois antes de falar com a imprensa. Um vídeo, no entanto, mostra que Zambelli se desequilibra sozinha. "Ele pediu desculpa, falei que ele podia ir e aí ele começou a fazer de novo."

Funcionários relatam medo. Os funcionários do bar invadido pela deputada disseram em condições de anonimato que correram para dentro da cozinha para se proteger e que todos os clientes também procuraram proteção.

Ao UOL, afirmaram que antes de reconhecerem Zambelli achavam que a pessoa armada era mais uma "daquelas que entram atirando nos lugares para matar todo mundo".

Uma testemunha afirmou que a deputada também apontou a arma contra ela —Zambelli negou.

Carla Zambelli após incidente em São Paulo - Ana Paula Bimbati/UOL - Ana Paula Bimbati/UOL
Carla Zambelli conversa com a imprensa após incidente em São Paulo
Imagem: Ana Paula Bimbati/UOL

A versão de Zambelli. A deputada conta que estava almoçando com o filho de 14 anos quando algumas pessoas a teriam reconhecido.

"Ali era um circo armado para fazer eu perder a paciência e ir atrás dele", afirmou. "Quando eles me empurram, eu corro atrás dele. Como sofri uma agressão, o meu segurança pede para parar a polícia, eles não pararam, um deles faz menção de sacar uma arma, a gente atira pro alto".

No vídeo quem atirou fui eu. É que não aparece eu no vídeo. Eu atiro. Um só disparo, pro alto."

Ela conta que seu segurança caiu. "Eu começo a correr atrás dele, meu filho de 14 anos vendo tudo isso. Começo a correr atrás dele, dizendo 'para, para que a gente precisa chamar a polícia', ele não para, eu saco de novo a arma (...) e falo para ele que estou chamando a polícia".

Questionada se ela não abusou do uso de arma, Zambelli responde com uma pergunta:

"Eu deveria esperar um homem armado atirar em mim primeiro? Eu não conheço essas pessoas, eram cinco homens tentando agredir uma mulher, um deles estava armado e fez menção de sacar", disse. Não há provas de que as outras pessoas envolvidas estavam armadas.

Quando perguntada se viu alguém armado, ela respondeu que "arma normalmente fica velada, se eu disser que vi estou mentindo". "Agora, eu conheço o que é uma arma velada (...) Eu quero proteger a minha vida e agi em legítima defesa."

"Continuarei ignorando Alexandre de Moraes"

Segundo resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o porte de arma na véspera da eleição está proibido. Confrontada a respeito, a deputada culpou a imprensa, que "inverte a lógica".

"Tem uma lei que me dá liberdade de defender a minha honra e minha vida e do meu filho. No momento que vejo uma pessoa armada, que uma pessoa me agride, me empurra, me xinga, me cospe, se eu não puder me defender, a gente está em que país?"

"Uma resolução é ilegal e ordens ilegais não se cumprem", afirmou.

Conscientemente estava ignorando a resolução e continuarei ignorando resolução do senhor Alexandre de Moraes porque ele não é legislador. Ele é simplesmente o presidente do TSE e membro do Supremo. Ele não pode em momento algum fazer uma lei, isso é ativismo judicial."

*Colaborou: Wanderley Preite Sobrinho, do UOL em São Paulo