Polícia rodoviária usa bomba de gás lacrimogêneo para liberar estrada em GO
Um grupo de caminhoneiros bolsonaristas, que fazia protesto contra a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), descumpriu ordens de desbloquear a BR-040 e foi dispersado pela Polícia Rodoviária Federal em Luziânia (GO) com bombas de gás lacrimogêneo, a poucos quilômetros de Brasília.
Por volta das 13h desta segunda-feira (31), a polícia deu uma ordem para que os caminhoneiros liberassem a pista, o que não aconteceu. Com isso, os policiais atiraram bombas de gás contra os manifestantes. Alguns deles chegaram a passar mal. A pista foi liberada na sequência e a concessionária que administra a rodovia passou tirar restos de pneus queimados pelos manifestantes para que estavam pela estrada.
Às 16h45, manifestantes voltaram a bloquear a via. Desta vez, o bloqueio é de um trecho de uma faixa, obrigando motoristas a reduzir velocidade no horário de pico.
Parte dos militantes negociava com a PRF (Polícia Rodoviária Federal) para colocar caminhões num pátio de um posto em gasolina em construção. Outra parte queria estacionar os veículos em uma das faixas. No meio da negociação, um grupo de cerca de 20 pessoas invadiu a pista e colocou três meios fios na rodovia. A PRF protestou. Um policial sacou uma arma e a recolheu. Um meio fio foi recolhido. Os outros dois ficaram. As viaturas da PRF deixaram o local e se posicionaram em locais distantes dos apoiadores de Bolsonaro.
Desde a noite de ontem, caminhoneiros passaram a contestar o resultado das urnas, falam em fraude, sem apresentar provas, e pedem intervenção militar em favor do presidente Jair Bolsonaro (PL), o que seria um golpe de estado. Protestos ocorrem em 11 estados e no Distrito Federal.
Por volta das 14h20, os líderes mandaram os militantes bolsonaristas mudarem o discurso. "Não falem em 'intervenção militar'. Falem em 'resistência civil'", diziam os líderes ao microfone. Eles pediram para espalhar esse discurso a todos os bloqueios no Brasil.
O protesto, a 50 km de Brasília, bloqueava a rodovia nos dois sentidos no bairro Parque Alvorada, em Luziânia, com dezenas de caminhões. Antes da intervenção policial, um dos organizadores, conhecido como Henry Ford, chegou a dizer que havia uma equipe da Presidência da República no local, usando um carro descaracterizado, mas não há qualquer confirmação oficial sobre isso.
O motivo do protesto, segundo esse manifestante, é aguardar um posicionamento de Bolsonaro para saber se eles permanecem no local ou se desmobilizam o bloqueio. Mais de 16 horas após a derrota, o presidente ainda não se manifestou.
No protesto em Goiás, um outro organizador, identificado como João Paulo, que é carpinteiro, afirmou ao UOL que houve "fraude nas eleições" e que o exército deve impedir Lula -eleito democraticamente neste domingo com mais de 60 milhões de votos- de assumir o cargo.
"Se o Exército não agir, o povo vai agir de uma maneira ou de outra", disse em tom golpista.
O UOL conversou com policiais rodoviários que disseram que nenhuma multa foi aplicada até o momento.
Antes de a polícia dispersar o protesto, a reportagem presenciou a liberação de quatro ônibus e uma ambulância da Secretaria Municipal de Saúde de Cristalina (GO), que fica a 80 km do bloqueio.
Organizadores do evento afirmaram ao UOL sob reserva que ambulâncias e transportes com pessoas grávidas e com doenças seriam liberados, caso solicitarem ao comando do protesto.
Em Goiás, há pelo menos quatro pontos de bloqueio. A concessionária Via 040, que opera a rodovia BR-040 entre Brasília, Goiás e Minas Gerais, divulgou informações sobre os locais com manifestantes:
- BR-040, km 19, Luiziânia; interdição total no sentido RJ e DF
- BR-040, km 94, Cristalina; interdição total no sentido RJ e DF
A concessionária Triunfo Concebra também informou a ocorrência de manifestações.
BR-153/GO, km 703, em Itumbiara; congestionamento de 7 quilômetros sentido sul e 8 quilômetros sentido norte
BR-060/GO, km 101, em Anápolis; congestionamento de 8,5 quilômetros em ambos os sentidos
Segundo os manifestantes, há duas opções para se passar pelos bloqueios:
Ambulâncias e transportes com pessoas grávidas e doentes podem passar, desde que peçam permissão para as lideranças
A cada duas horas há uma janela de 15 minutos para os veículos passarem
Há pouco começou a chover no local. Empresários de Luziânia armaram uma tenda e uma cozinha, para distribuir comida e manter as pessoas no local.
Segundo um balanço divulgado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) nesta manhã, há 70 bloqueios registrados em: Rio Grande no Sul; Santa Catarina; Paraná; Minas Gerais; São Paulo; Rio de Janeiro; Mato Grosso; Mato Grosso do Sul; Rondônia; Pará; Goiás; Distrito Federal.
Em nota, a Polícia Federal Rodoviária disse que está "comprometida com a segurança viária e com a intenção de manter a sociedade atualizada quanto a qualquer bloqueio ou restrição de tráfego nas estradas e rodovias federais".
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