Amazônia Legal seguirá sob influência de políticos apoiados por Bolsonaro
Boa parte dos estados brasileiros da Amazônia Legal seguirá nos próximos quatro anos sob o comando de governadores apoiados pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado por ambientalistas de menosprezar a proteção da floresta tropical. Desde o início do governo, o desmatamento da floresta amazônica tem batido recordes anuais.
O que é isso? A Amazônia Legal é um conceito instituído em 1953. A área conta com nove estados, abrange 59% do território brasileiro e concentra cerca de 56% da população indígena do país.
A legislação define que as propriedades rurais nessa área devem conservar 80% da cobertura vegetal.
Governados por bolsonaristas. Seis estados seguirão sob comando de aliados de Bolsonaro:
- Acre - Gladson Cameli (PP)
- Roraima - Antonio Denarium (PP)
- Mato Grosso - Mauro Mendes (União)
- Rondônia - Coronel Marcos Rocha (União)
- Amazonas - Wilson Lima (União)
- Tocantins - Wanderlei Barbosa (Republicanos)
Eles representam quase 70% de todas as florestas do bioma amazônico, segundo o Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Só o Amazonas tem 46% da área.
Amazonas apertado. O Amazonas foi justamente o único deste grupo em que a corrida presidencial foi apertada, refletindo a disputa pelo governo local que foi resolvida no segundo turno: Wilson Lima (União Brasil), apoiador do atual presidente, obteve 56,66% dos votos ante 43,34% de Eduardo Braga (MDB), que havia declarado apoio a Lula (PT); já Bolsonaro levou 48,91% dos votos e o petista, 51,09%.
A menor votação de Bolsonaro na Amazônia Legal no segundo turno foi no Mato Grosso (65,08%), onde Mauro Mendes (União Brasil) foi reeleito no primeiro turno.
Lulistas. Os governadores reeleitos de Pará, Amapá e Maranhão no primeiro turno são apoiadores de Lula (PT), que ganhou nesses estados.
- Pará - reeleito Helder Barbalho (MDB)
- Maranhão - reeleito Carlos Brandão (PSB)
- Amapá - Clécio Luís (Solidariedade)
Importância dos governadores. "O combate ao desmatamento é liderado pelo governo federal. Os governadores são atores que ajudam no processo, mas atrapalhar podem muito", diz Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. "Em alguns casos é o pior quadro possível, em que ajudaram Bolsonaro a proteger o crime ambiental."
Para Adriana Ramos, responsável pela promoção de políticas públicas do ISA (Instituto Socioambiental), não há candidatos que estejam concretamente comprometidos com a questão ambiental nesta disputa. "O que pode fazer grande diferença nos estados é a eleição presidencial porque há chance de mudança para promover políticas nacionais que impactem positivamente os estados", diz ela.
Bolsonaristas
O Acre reelegeu Gladson Cameli (PP), apoiador do agronegócio e do atual governo. Cameli estava ao lado do presidente em um palanque em 2018 quando Bolsonaro falou em "fuzilar a petralhada".
Ao longo de seu governo, o Acre tem permitido a expansão da pecuária sobre a Amazônia. Ele tem incentivado a migração para o estado de proprietários rurais que buscam terras mais baratas. O estado registrou explosão no desmatamento durante o governo Bolsonaro.
Sob a gestão de Antonio Denarium, Roraima enfrenta problemas como o avanço do agronegócio de grãos, a grilagem, o roubo de madeira e o garimpo ilegal.
Em julho, ele sancionou uma lei que proíbe a destruição de equipamentos apreendidos de garimpeiros ilegais. A destruição de maquinário é uma das bandeiras de Bolsonaro e está entre as maiores críticas de agentes do Ibama que combatem o desmatamento. Eles afirmam que na maior parte das vezes não é possível retirar as peças da floresta por risco de emboscada.
Em Mato Grosso, o governador Mauro Mendes defende a saída do estado da Amazônia Legal. Sob sua gestão, o governo estadual tem priorizado projetos revisando leis ambientais. Ele sancionou lei que flexibiliza as atividades agropecuárias no Pantanal.
Em Rondônia, dois bolsonaristas disputaram o governo no segundo turno. Coronel Marcos Rocha (União Brasil) venceu Marcos Rogério (PL) com 52,47% do total de votos válidos, e o presidente teve apoio de 70,66% dos eleitores.
No ano passado, Rocha sancionou a redução de 219 mil hectares de duas áreas de conservação estaduais, boa parte griladas e desmatadas ilegalmente para criação de gado. Foi a maior redução de áreas protegidas aprovada por um parlamento estadual no Brasil, equivalente à soma de São Paulo e de Salvador.
No Amazonas, Wilson Lima, apoiado por Bolsonaro, foi reeleito. Durante sua gestão, o estado passou de quarto para o segundo lugar no ranking de desmatamento da Amazônia entre 2020 e 2021 do MapBiomas. O estado vive uma crise de violência associada ao crime ambiental.
Em Tocantins, o atual governador, Wanderlei Barbosa (Republicanos), venceu a disputa em primeiro turno. Ele declarou apoio a Bolsonaro no segundo turno.
Seu partido está na base do governo federal e tem entre seus quadros políticos a senadora eleita Damares Alves e o candidato ao governo de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. O Tocantins tem visto o avanço da fronteira agrícola colocar em risco algumas nascentes de importantes bacias hidrográficas no estado.
Lulistas
Já o Pará e o Maranhão, reelegeram no primeiro turno governadores apoiados pela esquerda, Helder Barbalho (MDB) e Carlos Brandão (PSB), respectivamente.
O Maranhão já perdeu 76% da floresta original, segundo pesquisadores. Brandão assumiu o governo quando o ex-governador Flavio Dino (PSB) para concorrer ao Senado. Pesquisadores e ambientalistas apontam que o próximo governador deve priorizar a recuperação da floresta e ampliar a fiscalização e retirar as ocupações ilegais dos territórios.
No Pará, o desmatamento explodiu durante a gestão Bolsonaro, passando da média de 2.000 km² para mais de 5.000 km², e avançado sobre áreas protegidas. Barbalho deu desconto de cerca de 99% para regularização de invasores de terra pública.
O Amapá elegeu em primeiro turno o ex-prefeito de Macapá, Clécio Luís (Solidariedade), para o governo. Apoiado pelo PT e PL, partidos que polarizam a disputa pela Presidência, Clécio também teve apoio do PDT e União Brasil. O estado sofre com impacto gerado por hidrelétricas e contaminação de mercúrio em rios usados por indígenas.
Oposição
No Congresso, a bancada ambientalista recém-eleita, promete defender os interesses da floresta.
"Os projetos estão cada vez mais nítidos no congresso. Há uma polarização entre aqueles que querem vender a Amazônia e aqueles que querem protegê-la. A bancada dos povos indígenas está maior. Estamos otimistas com as lutas que travaremos para proteger nossa mãe terra. Nossa luta ficará mais forte com Lula presidente e o povo brasileiro cuidando das suas terras", disse ao UOL a deputada eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP).
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirma que sua atuação continuará em defesa do desenvolvimento sustentável e dos povos tradicionais da floresta.
"O desmatamento, o garimpo ilegal, a grilarem de terras e as redes criminosas não vão acabar de uma hora para outra. Acionarei todos os órgãos necessários e tomarei todas as medidas possíveis, sejam elas judiciais ou legislativas, para enfrentar qualquer ataque à sustentabilidade e à vida dos moradores", disse o senador ao UOL.
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