Prefeitura de SP: Veja a íntegra da sabatina UOL com Tabata Amaral

A deputada federal e pré-candidata à Prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral (PSB), participou nesta sexta-feira (19) de sabatina promovida pelo UOL.

Veja a íntegra da entrevista, conduzida por Diego Sarza, com participação das jornalistas Raquel Landim e Thais Bilenky, colunistas do UOL.

[Diego Sarza]: Olá, um ótimo dia para você. Estamos no ar com mais uma sabatina UOL com os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, a maior cidade do país, para conhecer aqueles e aquelas que já se apresentam como os possíveis prefeitos da cidade de São Paulo. E, hoje, chegou a vez da pré-candidata do PSB, a deputada federal Tabata Amaral. Bem-vinda, deputada. Bom dia.

[Tabata Amaral]: Muito obrigada, Diego. Bom dia, Thais e Raquel. É um prazer falar com todos vocês.

[Diego Sarza]: O prazer é nosso. Raquel, bom dia pra você.

[Raquel Landim]: Bom dia, Diego. Bom dia deputada e Thais.

[Thais Bilenky]: Bom dia, Diego, Raquel, deputada, obrigada pela presença.

[Diego Sarza]: Eu estou aqui com o seu currículo. Apesar de jovem, tem bastante coisa. A gente vai tentar resumir a sua trajetória até aqui. Formada em Ciência Política e Astrofísica, em Harvard, nos Estados Unidos, Tabata Amaral tem 30 anos e é o nome do PSB para concorrer, agora, à Prefeitura de São Paulo. Ela aparece com 7% das intenções de voto na última pesquisa da Datafolha, atrás do atual prefeito, Ricardo Nunes, e dos pré-candidatos Guilherme Boulos, José Luiz Datena e Pablo Marçal. Nascida na cidade de São Paulo, Tabata Amaral foi criada na Vila Missionária, na periferia da zona sul da cidade. Iniciou a carreira na política filiada ao PDT, foi eleita deputada federal em 2018, com mais de 260 mil votos, foi a segunda mulher mais votada em São Paulo. Foi reeleita em 2022 com mais votos ainda: 337 mil votos. Teve uma saída conturbada do PDT —o primeiro partido— por não seguir a orientação do partido e votar a favor da reforma da Previdência. Pediu desfiliação em 2019 e, em 2021, se filiou ao PSB. Apesar da polêmica lembrada até hoje pelos adversários políticos, o trabalho da deputada na Câmara vai além desse episódio. Já entrou em fortes embates por defender pautas ligadas à educação, mudanças climáticas, à saúde feminina e à dignidade menstrual. E é com ela que a gente conversa, a partir de agora. Deputada, a gente vai ter o tempo de uma hora, assim como os outros, a partir da sua resposta.

Bom, eu começo falando que a senhora defende o combate às desigualdades. Falamos aqui sobre a sua origem periférica. Mas é também muito rotulada, como alguém que, talvez, defenda o mercado, que esteja do lado dos empresários, que não defenda tanto a classe trabalhadora. A senhora prefere não ter rótulos, né. Prefere dizer que não é de esquerda nem de direita, mas numa eleição tão polarizada como essa de São Paulo, se colocar como isenta não te atrapalha nessa campanha, digamos assim?

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[Tabata Amaral]: Diego, eu tenho posições extremamente fortes e coerentes. Inclusive, muita gente dizia que eu não seria reeleita por ter tido coragem de defender minhas convicções, mas eu fui a única deputada de todos os mais votados, esquerda, direita, homens e mulheres, que aumentou a votação, principalmente na periferia. Eu perdi um pouco de voto nas regiões mais centrais, mais de elite, mas cresci muito no extremo sul e extremo leste e acho que essa é a melhor resposta que eu posso dar pra essa pergunta. Eu tenho muita consciência de onde eu venho, tenho muito orgulho de ser filha de uma diarista e de um cobrador de ônibus, de dois nordestinos trabalhadores, de ser uma filha da periferia e é com essa mesma convicção, com essa mesma certeza que eu enxergo que a gente precisa saber conciliar duas coisas. O social e o fiscal têm que trabalhar juntos. A gente tem que saber garantir dignidade pra quem mais precisa e ao mesmo tempo recompensar quem trabalha muito. Quem está lutando pra ter mais prosperidade. Então quando eu olho para as minhas votações, para os projetos que eu aprovei, absorvente na escola, Pé de Meia —que é uma poupança que está mudando a vida de quase 3 milhões de jovens brasileiros— eu acho que eu venho conseguindo conciliar essas duas pautas que é o social social forte e o fiscal com responsabilidade e muita gente vai querer dizer 'ah, mas a Tabata é de esquerda porque ela defende a educação porque ela defende o Sistema Único de Saúde; não, a Tabata é de direita porque ela fala de combate à corrupção, ela defende um Estado eficiente, uma economia que funcione'. Mas eu, sinceramente, acho que as pessoas querem saber o que é que a Tabata pode fazer pra São Paulo, o que é que a Tabata pensa sobre saúde, transporte, educação, segurança e que esses rótulos eles servem mais ao Twitter, eles servem mais a alguns políticos do que à população.

[Raquel Landim]: Mas, deputada, vamos tentar explicar mais um pouco para a população de São Paulo quem é você. Vamos pegar o tema do aborto. A senhora se posicionou contra o PL do Aborto, que iguala o aborto por estupro ao homicídio. Mas a senhora já disse publicamente que é contra o aborto por questões éticas. A senhora se coloca como uma feminista, mas por que a senhora acha que a mulher não tem o direito decidir sobre o próprio corpo?

[Tabata Amaral]: Eu sou contra a legalização do aborto e defendo a legislação do jeito que ela está hoje, Raquel. E quando a gente fala desse projeto, acho que vale explicar que era um projeto absurdo que queria que a menina que foi estuprada ficasse presa por mais tempo até do que eu estuprador. Eu acredito que o Brasil, ele não vive nesses extremos, que existem muitas mulheres como eu que querem mais dignidade para as mulheres, que querem mais segurança e que apesar de serem contra o aborto conseguem se colocar num papel de uma menina, que é a realidade do Brasil, mais da metade dos abortos...

[Raquel Landim]: Eu estou indo além do projeto. Por que a senhora, como feminista, é contra o aborto?

[Tabata Amaral]: Porque essa é minha convicção pessoal. Eu acho que, nessa disputa, em qualquer espaço, no ambiente em que as pessoas adotam posições porque são populares, porque não são, eu venho com a minha verdade, eu venho com a minha história e com a minha transparência. Sou, sim, uma mulher que defende mais segurança, mais dignidade, mais direito para as mulheres e que, ainda assim, defende a legislação do aborto do jeito que ela tá. Essas caixinhas, esquerda e direita, elas tentam dividir uma cidade de 12 milhões de habitantes em dois grupos. A vida é mais complexa. Tem avó que é super religiosa super conservadora, mas quer que o neto gay possa viver com segurança, com liberdade. Tem homem branco rico que se revolta com a desigualdade, se revolta com a população em situação de rua. Então talvez essas caixinhas forcem a gente a fazer com que as pessoas, elas sejam menos complexas, mas a vida é mais interessante do que isso. As pessoas são mais de uma coisa só e eu acho que uma coisa não anula outra.

[Thais Bilenky]: A senhora, outro dia, falou que é 'caceteira', apesar da voz mansa. Eu queria que a senhora explicasse o que é caceteira e em que a voz mansa atrapalha na política.

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[Tabata Amaral]: Eu acho que eu tava brincando em um evento, não me lembro exatamente do contexto, mas Thais, eu sou uma mulher não muito alta, que muita gente diz que tem voz mansa, mas que tem uma baita experiência de vida e que já enfrentou muita coisa. Então o que eu quis dizer com essa brincadeira é que muitas pessoas, muitos homens olham pra mim e acham que eu vou baixar a cabeça e acham que eu vou dizer amém e acham que vão mandar em mim. Incomoda ter uma mulher que não tem padrinho político, incomoda uma mulher que tem as próprias convicções, incomoda muito ter uma mulher que vem da periferia e se fez por conta da educação sem ter alguém grande por trás. Então eu sempre tento até avisar 'Olha, apesar da voz mansa, apesar da aparência, eu tenho muita história de vida. Eu comecei a trabalhar muito nova. O que eu enfrentei com a dependência química do meu pai, quem já enfrentou o medo da fome, o medo do desemprego, então é mais uma aviso de: não se equivoquem com essa aparência. Se vier, vai levar de volta. Se bater, eu vou contra atacar. E aí também é um pouco da minha experiência. As pessoas sempre estão me subestimando. Eu fui candidata pela primeira vez, 'não tem nem 500 votos', tive mais de 250 mil. Fui pra reeleição, 'ih, essa daí não se reelege nunca mais porque bancou as convicções que tinha', fui a única deputada que aumentou votação. Comecei essa disputa, 'não tem perigo do partido apoiar, ah, o PT vai tirar a candidatura, ah, vai ser ministra, ah, vai ser vice' e estou aqui com o apoio integral do meu partido. Então tem uma coisa também de quem é mulher que a gente vai se acostumando a sempre ser subestimada, mas também a sempre surpreender.

[Raquel Landim]: Eu queria entender uma outra posição da senhora. Segurançapública, hoje, é um dos grandes temas da nossa cidade e a senhora votou contra o veto do presidente Lula (PT) na lei das saidinhas. Era a orientação do seu partido sustentar o veto do presidente? Nós temos vários especialistas hoje dizendo que é importante para o preso conviver com a sua família, é importante para a ressocialização dele. Por que a senhora votou contra o veto, para não ser taxada de defensora de bandido?

[Tabata Amaral]: Foram inúmeras votações e tem uma coisa que eu defendi na votação, seja na Câmara, quando o texto voltou no Senado da derrubada do veto, que é entender que se a gente está falando de trabalho, se a gente está falando de educação, o preso tem, sim, direito a sair da prisão. Quando a gente fala de quem está em regime semiaberto, que cometeu um crime menos grave, eu defendi o tempo todo e trabalhei por essa alteração para que quem já pode sair para trabalhar também pudesse sair para estudar, mas eu entendi, durante essa discussão, que nós precisávamos restringir um pouco essa regra, porque todo mundo sabe que todo ano, infelizmente, tem uma notícia de que por conta da saidinha alguém foi assassinado, por conta da saidinha alguém foi roubado.

[Raquel Landim]: Mas o veto era exatamente para permitir que o preso que estava em regime semiaberto, que estivesse estudando, não era para ampla maioria. O veto já era restrito, deputada.

[Tabata Amaral]: Eu volto a dizer, Raquel, a minha votação deixou claro qual é a minha posição. Quem está em regime semiaberto e cometeu um crime menos grave pode sair para trabalhar e para estudar, porque é isso que garante que a pessoa possa mudar de vida e essas foram as minhas votações.

[Diego Sarza]: Agora, encontrar a família, por exemplo, não seria uma forma de a pessoa voltar a ter contato, um contato afetivo mesmo, porque muitas vezes o ambiente carcerário é um ambiente muito difícil.

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[Thais Bilenky]: E acaba estimulando a cooptação pelas facções criminosas. Esse é um argumento dos especialistas postos a favor da saidinha, justamente para não fortalecer.

[Tabata Amaral]: Eu discordo. O que vai permitir que a pessoa possa se reintegrar e sair com uma vida diferente é educação e trabalho. E é isso que eu defendo e é isso que minha votação mostra.

[Raquel Landim]: Não o contato com a família?

[Tabata Amaral]: Educação e trabalho. O contato com a família acontece inclusive dentro da prisão, mas de novo, é a possibilidade de um novo emprego, é a possibilidade de uma nova vida que vai permitir a essa pessoa se reintegrar, inclusive deixar de ser uma presa fácil do crime organizado.

[Diego Sarza]: Bom, a senhora tinha o apoio do [José Luiz] Datena, ele se filiou ao PSB, se apresentou, vocês tiraram fotos juntos, como possível, vice na sua chapa. Depois ele foi para o PSDB, aqui eu perguntei para ele se ele teria te traído. Ele disse que não, que foi a senhora que o empurrou para o PSDB, que o PSDB o convidou para ser cabeça de chapa e ele aceitou. Então, se alguém te traiu, foi o PSDB. O Datena te traiu ou o PSDB te traiu, qual que é a tua avaliação?

[Tabata Amaral]: Eu vi a fala do Datena e eu achei um pouco engraçado porque ele é bem grandinho para ser empurrado ou colocado no colo de alguém. Então, acho que ele pode responder pelas próprias escolhas. Tanto eu, como presidente municipal do PSB, quanto o presidente Carlos Siqueira, como presidente nacional, firmamos um acordo com o PSDB em que o PSDB indicaria vice no nosso projeto. A gente mantém a nossa palavra, a gente não volta atrás. O convite ainda está aberto para o PSDB, que tem até o dia 27 para tomar uma decisão. Até lá, a gente está aguardando, ciente de que o nosso projeto não depende disso. A gente juntou a melhor equipe. Quando a gente fala de cada área do plano de governo, das figuras políticas que estão aqui, os maiores e melhores nomes da centro-esquerda, centro-direita, de doutora Ludhmila Hajjar, Cláudia Costin, Leandro Piquet, estão aqui com a gente e dia 27 teremos a nossa convenção.

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[Raquel Landim]: A senhora ainda está negociando com o Datena?

[Tabata Amaral]: Sigo conversando com o Datena, sigo conversando com o PSDB, mas eu não volto atrás na minha palavra. O convite foi um, eles podem decidir o que farão.

[Raquel Landim]: Mas aí, essa negociação que ainda existe, segundo a senhora, é para ele ser seu vice ou o contrário?

[Tabata Amaral]: A negociação sempre foi para o PSDB indicar o vice. Quem decide quem vai ser o vice, obviamente a gente tem o poder de veto, tem o poder de negociar junto, mas é uma escolha do PSDB. Então se vai ser o Datena, Zé Aníbal, Zuzinha, Trípoli, é o entendimento do partido, mas de novo, a gente fez um acordo, está aguardando e não depende disso.

[Thais Bilenky]: O que aconteceu para eles recuarem desse acordo? Porque foi, politicamente para a senhora, foi um revés, porque tinha uma expectativa de que, bom, tivesse uma aliança, se essa aliança fosse com o PSDB, que o PSDB indicasse um candidato forte a vice e não aconteceu. Por quê?

[Tabata Amaral]: Você tem que fazer essa pergunta para eles. A gente firmou um acordo, a gente mantém a nossa palavra, eles têm que explicar por que recuaram e se vão continuar recuando ou não.

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[Diego Sarza]: Deputada, a senhora falou que a gente tem que perguntar para eles porque eles deram a palavra. Então a senhora considera que foi uma traição, se mantiver essa postura do PSDB ou Datena, houve uma traição por parte deles?

[Tabata Amaral]: Diego, a gente espera até o dia 27. Inclusive, o PSDB mudou a data da sua convenção para o dia 27, eles têm até o dia 27 para nos alertar.

[Raquel Landim]: Deputada, supondo que essa conversa não chegue em nenhum lugar, quem vai ser o seu vice? Está se falando em Lu Alckmin, está se falando na esposa de Márcio França, são possibilidades?

[Tabata Amaral]: Eu tenho muita admiração, amizade pela professora Lúcia França, pela dona Lu Alckmin. Obviamente o PSDB vem tratando essa discussão com muita seriedade. A catástrofe que é o Ricardo Nunes deixa claro que a posição de vice é uma posição muito importante, mas a gente não vai adiantar esse debate ainda. Então eu não consigo adiantar se vai ser ele, se vai ser ela. O que eu consigo adiantar é que é uma pessoa séria, uma pessoa honesta, que tem compromisso com São Paulo e que a gente está tratando isso com muita seriedade.

[Diego Sarza]: Deputada, a senhora fez críticas ao presidente Lula, o presidente do seu partido também, quando o Márcio França saiu, foi trocado de ministério, ele considerou aquilo inadequado como foi conduzido. Qual a avaliação que a senhora faz dessa troca e do governo Lula?

[Tabata Amaral]: A gente, e eu falo a gente porque o PSB e eu participamos muito desse processo, a gente elegeu um governo que era composto por uma grande frente, que trazia nomes da esquerda à centro-direita, gente que nunca tinha estado no mesmo palanque. Ter o nosso vice-presidente Geraldo Alckmin como vice do Lula foi a maior demonstração disso e me parece que para esse governo de coalizão, essa frente ampla dar certo, a gente vai precisar dialogar com muita gente que pensa diferente. Um governo liderado apenas pelo PT, num Congresso tão diverso, tão desafiador como o nosso, com uma sociedade tão dividida, ele tem menos chances de ter êxito. Então a postura do PSB é sempre colocar o Brasil à frente, mais do que seu ego, mais do que seus interesses, e dizer, se é pelo Brasil, estamos aqui. O governo pode contar com o PSB.

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[Thais Bilenky]: Agora, a sua candidatura, em contraposição à do governo do presidente Lula, por enquanto não tem alianças, o que passa uma sinalização de fragilidade, até um certo isolamento político e indica dificuldade na hora de governar uma vez eleita. Como é que dá para resolver, primeiro assim, na campanha, porque isso implica em tempo de TV, em fundo partidário, tem implicações práticas agora na campanha e também tem implicações práticas na hora de governar, enfim, aí faz-se novas alianças depois, mas é justamente o oposto e a senhora acabou de dizer que se fosse o PT sozinho teria mais dificuldade de governar, como é que vai ser para a senhora?

[Tabata Amaral]: Eu separaria em dois momentos. A primeira coisa, Thaís, é que é muito natural que um projeto como o meu não tenha a maior coligação, eu nunca tive essa expectativa. Projeto sem caixa 2, projeto honesto, projeto que pauta São Paulo, que não faz leilão de cargo, não é o projeto que muitos partidos gostam de apoiar. Então a gente trata isso com muita naturalidade, não é à toa que a conversa mais avançada foi com o PSDB, é porque foi praticamente o único partido que topou falar de plano de governo, topou falar de projeto de cidade, então essa é uma coisa.

[Diego Sarza]: Não foi para ganhar um minuto, como o Datena disse aqui, que era para ganhar um minuto na TV, na propaganda?

[Tabata Amaral]: Diego, quem tem a convicção que eu tenho, a coragem de fazer política honesta como eu faço, não pode estar preocupada com minutos de televisão não, senão a gente se perde nesse negócio. Mas só voltando, é natural que a gente não tenha a maior coligação, o maior número de partidos apoiando. Agora, é importante a gente reconhecer que esse projeto é extremamente amplo, se a gente olha para os nomes que estão escrevendo o meu plano de governo nesse momento, ex-ministros, ex-secretários, gente parruda da esquerda à direita, ex-secretários dos últimos ex-prefeitos, Vivian Satiro, que foi secretária de Planejamento do Covas, Luciana Temer, Floriano Pesaro, Ludhmila Hajjar, olha esse time. Esse é um time amplo. Se a gente olha inclusive para a nossa coordenação política, que é o Orlando Faria, foi Casa Civil do Bruno Covas, semanalmente conversando com todos os vereadores, com todos os partidos políticos, eu sou hoje a única pré-candidata, entre homens e mulheres, que consegue dialogar com o governador Tarcísio e com o presidente Lula. Então a gente sabe, e até se você olha para os meus seis anos como deputada federal, alguém sem padrinho político que não se corrompe, aprovar esse tanto de projeto que eu aprovei, só esse ano foram dois sancionados, mudanças climáticas e Pé de Meia.

[Raquel Landim]: Deputada.

[Tabata Amaral]: Só para finalizar Raquel, perdão. É porque eu sei conversar com quem pensa diferente, é porque eu sou boa de trabalho. Então a gente separa muito o que é o momento da campanha do que é o momento de governar.

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[Raquel Landim]: A senhora acabou de dizer que a senhora é uma das poucas que conversa com o Lula e conversa com o Tarcísio. Com o governador Tarcísio, a única. Recebe críticas da esquerda pela operação ali na Baixada Santista, a senhora quer o apoio dele?

[Tabata Amaral]: Para governar, eu vou precisar do apoio do Tarcísio e do Lula. Eu não tenho como fazer sem o apoio dos dois, tem uma coisa que eu aprendi em Brasília, Raquel, e eu sei que você vai entender muito bem isso: quem escolhe com quem eu converso é o povo e a gente tem que ter muita humildade nessa hora, é claro que a gente tem nossa liberdade para defender nossa convicção, para criticar quando tem que ser criticado.

[Diego Sarza]: A operação, por exemplo, na Baixada, a senhora critica?

[Tabata Amaral]: É claro. Tem muita coisa para ser investigada, tem muita denúncia grave. Critico a privatização da Sabesp, acho que é um erro do jeito que estão fazendo. Tanto é que a gente vê um processo acelerado em um ano que teve apenas uma oferta de uma empresa que é mal avaliada e que está oferecendo menos.

[Raquel Landim]: Mas a senhora quer o apoio do Tarcísio na campanha?

[Tabata Amaral]: Para governar, para governar. Quando eu digo que eu sou a única pré-candidata.

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[Raquel Landim]: Mas no eventual segundo turno, a senhora gostaria de ter o apoio dele?

[Tabata Amaral]: Nosso foco agora é apresentar esse projeto. Eu tenho a menor rejeição, a maior conversão de votos, mas ainda sou a mais desconhecida. O foco agora é no nosso projeto. No segundo turno, a gente vai avaliar de qual apoio que a gente vai atrás, mas eu volto a dizer, não dá para fazer o que eu me proponho a fazer na pauta de segurança, na pauta de combate às enchentes, sem trabalhar com o governador Tarcísio, sem trabalhar com o presidente Lula. E essa é uma coisa que eu sei fazer muito bem, desmontar palanque, colocar de lado as diferenças e focar no que importa.

[Thais Bilenky]: Qual eleitor que a senhora acredita que é seu, mas ainda não sabe? É o público do Boulos, é o público do Nunes, é o público do Marçal. Quem a senhora pretende conquistar?

[Tabata Amaral]: Quando a gente olha para os números, eu tenho hoje, de novo, a menor rejeição, a maior conversão. De cada três que conhecem, um diz 'voto na Tabata e esse voto não muda', mas um grande desconhecimento. E aí quando a gente olha para essas variáveis todas, se eu tiver que escolher um público que gosta muito do nosso projeto, mães, mulheres, jovens, quem está na periferia.

[Thais Bilenky]: Que estão inclinadas a votar em quem agora?

[Tabata Amaral]: Tem um pouco de tudo. Tem um voto que, antigamente, ia para o PSDB, tem um voto que vai um pouco para o Ricardo Nunes, tem um voto que vai um pouco para o Boulos, mas é um voto que não está nos extremos, que está na classe C, que está na classe D, que está na classe E. Conforme o meu conhecimento está aumentando, inclusive, eu já sou mais bem votada na E do que na A, que é o contrário de muitos adversários meus. Então a gente realmente sente que, como a conversão é tão alta e a rejeição é tão pequena, é um desafio de se apresentar. E é por isso que essas próximas semanas são tão estratégicas. Debate, sabatina, rede social, rua. Muita gente não sabe ainda que São Paulo tem uma alternativa, não sabe ainda desse projeto.

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[Raquel Landim]: Deputada, a senhora fala muito de Geraldo Alckmin, como um grande padrinho político. Ele governou o estado por anos, mas quando ele tentou a Prefeitura de São Paulo, em 2008, ele sequer chegou ao segundo turno. Qual é a força real de Geraldo Alckmin para te ajudar na eleição para a capital?

[Tabata Amaral]: A primeira coisa, Raquel, é que eu não tenho um padrinho político. Eu tenho grandes aliados construindo esse projeto do meu lado. O presidente Geraldo Alckmin, com certeza, é o maior deles, o ministro Márcio França vem sendo fundamental nesse processo, o apoio do presidente Siqueira, não vou repetir aqui todos esses nomes que a gente tem no plano de governo, mas esse é um projeto que a gente vai junto. Não é alguém mandando, não é alguém falando 'Tabata, faça isso, aquilo ou outro'. Você ter o apoio, a indicação do vice-presidente da República, que foi governador por quatro anos, mas que, sobretudo, tem um grande alinhamento de visão de mundo mesmo, é uma pessoa moderada, que entregou grandes coisas, que sabe dialogar, é um baita apoio, eu sou muito grata por isso.

[Diego Sarza]: A gente falou sobre alguns pontos do Tarcísio, né. O presidente Lula também tem dito algumas frases, que têm sido consideradas problemáticas. Nesta semana, ele chegou a falar uma, anotei aqui, que era sobre violência contra a mulher, depois de jogos, e ele disse: "se o cara é corintiano, como eu, tudo bem, mas eu não fico nervoso quando perde, eu lamento profundamente". Depois, ele se explicou que ele quis dizer que se for corintiano, tudo bem, era para ficar nervoso, não para agredir a mulher. De qualquer forma, ele tem outras frases também consideradas machistas. O presidente Lula, na sua avaliação, é um homem machista?

[Tabata Amaral]: O machismo é estrutural, Diego. E eu sei que essa é uma frase que pode não dizer muita coisa, mas isso quer dizer que homens e mulheres, diariamente, vão seguir o tom dessa sociedade que a gente tem. Vou trazer um exemplo. Toda fala que, de alguma forma, incentiva a violência doméstica ou que minimiza essa dor, é uma fala que tem que ser condenada, e a gente precisa, sim, prestar solidariedade, primeiro à mulher, mas também se posicionar e dizer que uma fala dessa é extremamente problemática.

[Raquel Landim]: Então a fala do Lula foi machista?

[Tabata Amaral]: Me parece que sim. Que bom que ele se explicou, que bom que ele pediu desculpa, mas não é uma frase que contribui para a nossa luta contra a violência contra a mulher, e o que a gente precisa fazer, no meu entendimento, é ter um posicionamento claro sobre isso, e desculpa, mas eu vou trazer aqui, desculpa não, porque o prefeito merece ouvir isso, O prefeito veio aqui e mentiu, e falou que não tem um BO dizendo que ele cometeu violência doméstica. Isso é grave. É grave porque isso anula a violência que a esposa dele sofreu, que tem que receber a nossa solidariedade. É grave porque ele vem num espaço tão importante quanto esse e mente na cara das pessoas. É grave porque ele desmente, ele desautoriza o trabalho da Polícia Civil, que foi no dia seguinte dizer: o prefeito Ricardo Nunes está mentindo e o BO existe. A gente vai ver isso da esquerda à direita, e o nosso papel não é só porque eu sou mulher não, é ser firme e dizer que violência doméstica não é tolerável.

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[Raquel Landim]: Deputada, esse caso do BO já era conhecido desde a campanha anterior. Por que nem a senhora, nem o Boulos, nem nenhum outro adversário tinha trazido ainda, relembrado esse caso à tona ainda?

[Tabata Amaral]: No dia da eleição, da última eleição municipal, eu citei esse BO e eu citei a violência doméstica cometida pelo Nunes, para além das denúncias de corrupção, como uma razão para eu ser contra.

[Raquel Landim]: Quando?

[Tabata Amaral]: Na última eleição municipal, pode pesquisar.

[Raquel Landim]: Na última eleição. Mas eu estou falando nessa campanha. Nem a senhora, nem o Boulos, ninguém tinha trazido esse assunto.

[Tabata Amaral]: Eu já trouxe Raquel. Desculpa discordar. Nessa eleição, eu já citei inúmeras entrevistas. Minha primeira entrevista para a Folha, inclusive que foi a entrevista inaugural, eu falei sobre isso. Eu não brinco quando o assunto é violência contra as mulheres, porque não é palanque eleitoral, não é esquerda ou direita, então eu já tinha falado algumas vezes.

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[Thais Bilenky]: Agora, para alguns candidatos, é palanque eleitoral. Tem candidatos que usam a misoginia como plataforma, inclusive o Pablo Marçal deu demonstrações disso. Qual vai ser a sua estratégia para enfrentar isso, sendo que a senhora vai ser um alvo natural por ser mulher?

[Tabata Amaral]: Infelizmente sim. Eu vivi um episódio recente em que o Pablo Marçal veio dizer que eu não poderia ser candidata por ser mulher, porque não tinha filho, porque não era casada. E qual era a estratégia dele, até para a gente entender como funciona. Ele achava que eu ia choramingar, que eu ia me vitimizar, chamar ele de machista, o que eu fiz? Eu respondi falando, olha, a gente está falando de um cara que, literalmente, já foi condenado por fazer parte de uma quadrilha que roubava aposentado, a gente está falando de um cara que responde a um processo porque um funcionário seu morreu depois de uma brincadeira estúpida. Aí ele ficou descontrolado, aí ele não soube reagir ao fato de uma mulher ter respondido a ele com coragem, com altivez, o que ele fez? Foi para uma baixaria, inventar uma mentira sobre a morte do meu pai e eu respondi de novo para honrar minha família, para honrar o meu pai. Então o problema dessas pessoas é que elas acham que elas vão ficar a vida toda sem terem que responder por seus crimes, sem terem que responder por suas cretinices e o que eu posso fazer nesse caso é primeiro: não baixar a cabeça, sempre responder com coragem, de cabeça erguida, defendendo meus princípios e minha família e nesse caso específico, que ele veio dizer que a família era responsável pela pessoa que está na rua, que a família era culpada pelo suicídio, a gente tem que ir na linha contrária e combater esse preconceito que mata, porque esse preconceito mata. Eu perdi meu pai para o suicídio, para as drogas, mas perdi também para o preconceito. Porque a vida toda diziam, 'é um vagabundo, não quer nada com nada, não busca ajuda porque não quer' e um compromisso que eu tenho é que São Paulo vai ser referência na saúde mental. A gente hoje tem 1.200 psicólogos na cidade, não dá para nada, a gente tem pessoas amontoadas na Cracolândia que não encontram vaga para serem internadas. Então a melhor resposta que a gente pode dar para esse tipo de cretinice que está acontecendo é falar de saúde mental de forma séria, é acolher as famílias, é acolher quem está doente e dizer 'nessa cidade, se você sofrer de um transtorno mental, você vai ser acolhido, você vai ser tratado e a gente vai romper esse tabu'.

[Raquel Landim]: A senhora sofreu um ataque vil, machista, misógino, com o qual a gente se solidariza totalmente. Mas eu queria falar um pouquinho da sua resposta naquele momento. Quando a senhora rebateu, sua fala foi a seguinte: 'eu nunca fui condenada por fazer parte de uma quadrilha de roubo de banco, nunca gastei tempo e dinheiro do Corpo de Bombeiros com a minha irresponsabilidade, eu nunca fiz um funcionário correr até a morte por parada cardíaca numa brincadeira sem sentido, não sou ex-coach messiânica, nem expedicionária fracassada, nem estelionatária. Praticamente todos os episódios que a senhora mencionou aí são verdadeiros, mas o Pablo Marçal diz que ele nunca foi condenado por estelionato e no episódio de quadrilha de roubo de banco, ele foi condenado por furto qualificado. A senhora tem provas de que ele seja um estelionatário?

[Tabata Amaral]: O que eu fiz aí, Raquel, foi dizer tudo o que eu não sou. As pessoas agora têm a missão de pesquisar quem é cada um dos candidatos. Campanha eleitoral é pra isso, é pra gente vir apresentar nossa história, nossas entregas, nossos valores, pras pessoas poderem nos acompanhar. Fiz uma fala muito clara.

[Raquel Landim]: Mas a senhora deixou implícito que ele poderia ser um estelionatário e ele nunca foi condenado por estelionato.

[Tabata Amaral]: Eu disse tudo o que eu não era. E agora as pessoas precisam pesquisar quem é cada um. Pesquisem o processo do Pablo Marçal no caso do roubo de bancos de aposentados, vejam a condenação. Todas as coisas que estão na internet hoje, pesquisem os processos, pesquisem as investigações. Eu jamais vou acusar alguém de um crime sem a pessoa ter sido condenada em última instância, mas cabe ao eleitor fazer sua pesquisa. E quem não tiver couro para aguentar essa eleição, quem não tiver casca dura para responder por tudo o que fez, disse, não pode estar aqui. Aí é melhor ele voltar a ser coach, aí melhor ele pedir para sair mesmo.

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[Diego Sarza]: A senhora falou sobre a Cracolândia, a senhora fala que quer estrangular o crime. Como é que faz isso? A prefeitura não tem tantas ferramentas para combater a Cracolândia ou para combater o crime organizado. Praticamente, na prática, como é que vai ser esse combate?

[Tabata Amaral]: Saiu uma notícia hoje na Folha, Diego, mostrando que nós temos 72 Cracolândias pela cidade.

[Diego Sarza]: Espalhadas, né?

[Tabata Amaral]: Espalhadas. Por que eu trago isso? Porque a gente tem uma visão na cidade extremamente equivocada de que a Cracolândia é um lugar, é a Sé, é a Santa Ifigênia. Não é. Tem uma Cracolândia próxima à minha casa na Avenida Iervante. Pedreira, perto da represa, Zona Sul de São Paulo. Tem em Pinheiros. Tem no Bom Retiro. Eu estive lá ontem. A gente tem que entender que esse é um sistema que está se espalhando, que está corroendo nossa cidade, que tem que ser colocado um basta, senão ele só cresce, ele só se alimenta.

[Thaís Bilenky]: Mas o que a prefeitura pode fazer pra colocar esse basta?

[Tabata Amaral]: Primeira coisa: enxergar que tem bandido e tem doente. Nós tivemos ótimas experiências em gestões passadas. Eu sentei?

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[Thaís Bilenky]: Quais?

]Tabata Amaral]: Eu já vou citar. Só para concluir aqui a linha do pensamento. Eu sentei para conversar com todos os ex-prefeitos: Doria, Haddad, Erundina, Marta. Todos eles. Então nós tivemos boas iniciativas, só que focaram ou no doente, somente, ou focaram só na questão da segurança. O Haddad focou, por exemplo, mais na questão da saúde. Tem muita coisa para gente aprender. O Doria focou mais na questão da segurança. Não dá para escolher. Tem bandido e tem doente. Como é que isso foca o sistema criminoso? É trabalhando com a Polícia Civil. Estive recentemente, inclusive, com delegados muito importantes da Polícia Civil. É trabalhando com a Polícia Militar.

[Thaís Bilenky]: Essa aí, a senhora está concorrendo à prefeitura, né? Conversando com eles, a senhora diz?

[Tabata Amaral]: A prefeita da maior cidade do Brasil, se não tiver capacidade de fazer uma reunião mensal com o comandante da PM e o delegado-geral da Polícia Civil, não serve para ser prefeita. Porque a gente vai ter que trabalhar com o governo do estado. E eu volto, inclusive, para o que a gente dizia anteriormente. Por que tem que fazer esse trabalho conjunto? Porque primeiro, para entender o sistema, tem que ser respondida algumas perguntas. Como é que o crack entra? Não é pouca coisa. Tem agente público envolvido? Como é que o dinheiro sai? A Polícia Civil diz que são 200 milhões de reais por ano de lucro. Não é dinheiro de bolso. Esse dinheiro tá sendo lavado. A própria Polícia Civil já indicou que tem hotéis lavando esse dinheiro. Por que esses hotéis não foram fechados e continuam abertos? A gente sabe que tem ferro velho envolvido. Por que esses ferros velhos continuam abertos? É todo um sistema criminoso que envolve lavagem de dinheiro, CNPJ, e a gente parece que não enxerga, parece que não quer resolver isso. Quando eu falo que vai ter que sufocar, é sufocar o dinheiro, é sufocar a fonte da droga, é ir atrás do empresário, do agente público que está envolvido. E aí, ao mesmo..

[Raquel Landim]: Mas muito desse sistema, deputada, que a senhora tá falando, é corrupção. É corrupção dentro da própria prefeitura, dentro do governo do estado. Como lidar com isso?

[Tabata Amaral]: Como que a gente enfrenta a corrupção? Trazendo luz, trazendo transparência. Hoje, de novo, a gente sabe que tem hotel envolvido. Por que a prefeitura não foi lá fechar esses hotéis ainda? A gente sabe que tem CNPJ envolvido, de roubo de celular a tráfico de drogas. Por que é que não existe um trabalho? A gente vai ter que chamar a Polícia Federal? A gente vai ter que dar mais espaço para a Polícia Civil atuar? A gente vai ter que parar de desautorizar as operações que a PM faz? É claro que vai ter que estar. A Cracolândia, você não resolve sozinho, justamente porque tem muito interesse envolvido. Uma das primeiras coisas que eu espero fazer como prefeita é trazer gente para essa conversa. PM, Polícia Civil, GCM, governo do estado, imprensa, Ministério Público, Judiciário, pastores, igrejas.

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[Diego Sarza]: O secretário de Segurança Pública, desculpe te interromper, é o Guilherme Derrite. Ele tem uma visão bastante assertiva, eu diria, sobre esse assunto. A senhora concorda com ele? E como seria uma conversa com ele?

[Tabata Amaral]: Eu não preciso concordar com ninguém para sentar e conversar com essa pessoa. Eu tenho uma ótima relação com o secretário Derrite, apesar de discordâncias que eu tenho. E essa é uma relação que se deu ao longo dos últimos anos e se dará principalmente nos próximos anos. Eu só não queria deixar de falar de um aspecto para gente encerrar esse assunto. Porque, como eu disse, tem o bandido, tem que ser sufocado. Mas a gente precisa enxergar o escudo humano que existe hoje de mil pessoas que estão doentes, que estão sendo exploradas. São Paulo hoje tem 1.200 leitos para toda cidade, para esquizofrenia, dependência química.

[Raquel Landim]: A senhora é a favor de internação compulsória?

[Tabata Amaral]: Desde que seja uma decisão médica e siga um atendimento individualizado e humanizado, sim. Mas não é decisão do político e não é por politicagem por palanque. Um compromisso que eu tenho é a gente pelo menos dobrar o número de leitos de psiquiatria. Porque tem muito discursinho sobre a Cracolândia, mas hoje, de novo, não tem leito suficiente para quem tá na Cracolândia central. Imagine nas outras da cidade. E aí, como a Luciana Temer vem me dizendo todos os dias e com muito afinco e experiência: "Acabar com essa porta giratória". Porque a pessoa é internada, ela não tem nenhum vínculo quando ela sai da clínica, não tem um vínculo familiar reconstruído, não tem um emprego, não tem uma moradia. Ela volta para a rua, que é o lugar que ela conhece, que é o lugar que a acolhe. Dá um trabalhão danado. Só pensando em Cracolândia, a gente tem Floriano Pêsaro, Luciana Temer, Coronel José Roberto, Leandro Piquet. Estivemos recentemente com o General Campos, Polícia Civil, GCM, mas é o maior câncer dessa cidade.

[Raquel Landim]: Deputada, educação que é sua área. O maior ganho que a prefeitura já conseguiu na educação foi zerar a fila da creche, que foi graças à terceirização. É o caminho para educação em São Paulo?

[Tabata Amaral]: Para creche hoje, 100%.

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[Raquel Landim]: Mas para o resto. Terceirização.

[Tabata Amaral]: Quando a gente fala do trabalho das parceiras, elas são necessárias onde a prefeitura não tem infraestrutura construída, que é o caso da creche. Então eu defendo, sim, fortalecer o trabalho das parceiras e trazer um indicador de qualidade que não existe hoje. Hoje, se você vai ter uma creche gerida por A ou B, quem decide é o vereador, quem decide é o prefeito. Ninguém tá nem aí para a qualidade. Então esse é um compromisso. Quando a gente fala de ensino fundamental, o nosso problema não é ter escola não construída. O nosso problema não é falta de professor. O nosso problema é a qualidade. A gente tem uma coisa que é tão grave, mas que infelizmente não está sendo divulgada. Nos últimos três anos, São Paulo foi a capital que mais caiu no ranking nacional de alfabetização. A gente estava na posição 2 com Bruno Covas. A gente foi para a posição 21. De cada três crianças, duas não estão aprendendo a ler e escrever na idade certa. Uma criança que não aprende a ler e escrever é uma criança que sai da escola. É uma criança que está na rua exposta ao crime. É uma criança que é uma presa para as drogas e para o crime organizado.

[Raquel Landim]: Foi a pandemia que provocou essa queda ou foi a gestão do Ricardo Nunes?

[Tabata Amaral]: Não foi só a pandemia, porque o resultado hoje, na gestão do Ricardo Nunes, é pior do que no auge da pandemia. É algo realmente assustador, e até me revolta o tanto que a gente não tá se indignando com isso. Um dos meus principais compromissos é 100% das crianças alfabetizadas até o segundo ano do ensino fundamental. É um absurdo a cidade mais rica do país fazer um trabalho tão ruim e muito pior do que as cidades muito mais pobres.

[Diego Sarza]: Como é que faz isso, deputada?

[Tabata Amaral]: Primeira coisa é trazer os professores para junto. Nossos professores hoje têm problemas gravíssimos de saúde mental. Quando a gente fala de burnout, esgotamento, ansiedade e depressão, já é a principal causa para falta de professor. Nossos professores não se sentem ouvidos, não participam da construção das políticas públicas. Nossos professores sofrem muita violência. O Brasil lidera um ranking da OCDE, que é uma organização internacional de violência contra professor. Então, não vou me alongar aqui, mas precisamos de um programa robusto para saúde mental dos professores, enfrentar essa violência que acontece em sala de aula e voltar a construir as políticas públicas com os professores. Precisamos de metas ousadas, não só a nível de escola, mas a nível de sala de aula e trazer toda a equipe escolar. O que eu defendo é que da merendeira à diretora, quando a escola vai bem, quando a escola bate suas metas, todo mundo recebe uma remuneração diferenciada. E não defendo isso porque é achismo. É porque estudei, porque sei que funciona. Foi uma das táticas que Sobral usou. E aí a gente vai ter que seguir falando. Talvez, só para não me alongar muito na educação, tem duas coisas que para mim são inegociáveis. Terminar o primeiro mandato com 100% das crianças alfabetizadas na idade certa, 100%, e se for da vontade de Deus e do povo, terminar o segundo mandato com 100% da nossa rede em escola em tempo integral. O filho do pobre tem que ter o mesmo que o filho do rico: aula de inglês, balé, judô, empreendedorismo. Nossas crianças têm que querer estar na escola. São Paulo tem apenas 8% das escolas em tempo integral, mesmo sendo a segunda capital que mais investe na educação do país.

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[Thais Bilenky]: Tem uma grande questão que está posta nessas eleições municipais, que é a segurança. A segurança passou, inclusive, a saúde como principal preocupação da população, o Datafolha e outras pesquisas medem isso. No entanto, a segurança não é uma atribuição direta da prefeitura, justamente porque as polícias estão ligadas ao governo do estado ou ao governo federal, no caso da Polícia Federal, mas quem anda na rua, anda na cidade, quem tem seu celular roubado tem que ir a uma delegacia que está na cidade, de modo geral. Então tem essa sensação de insegurança que vai afetar o voto para prefeito, embora o prefeito tenha ferramentas limitadas para enfrentar esse problema. Como que a senhora vai enfrentar?

[Tabata Amaral]: Tem duas coisas que eu acho que ajudam a responder. Primeiro, se a prefeitura fizesse o seu trabalho bem feito, o básico, as polícias estariam liberadas para fazerem o seu trabalho. Por que eu trago isso? Eu sentei com representantes da Polícia Militar, a principal demanda que a PM responde, o maior número de chamados é por ruído. Ruído é de responsabilidade da prefeitura. Uma prefeitura que não faz o básico, na iluminação, na coleta de lixo, no controle do ruído, no controle urbano de zeladoria, é uma prefeitura que atrapalha e muito o trabalho das polícias.

[Thais Bilenky]: Como que a prefeitura vai responder ao ruído, aos chamados de ruído? Primeira coisa é garantindo que a gente tem servidores para cuidarem da "Lei do psiu". Em determinado momento, faz alguns meses, eu fiz um requerimento de informação: havia menos de 10 servidores cuidando da fiscalização da "Lei do Psiu" em toda a cidade de São Paulo. Preciso dizer que é insuficiente? Vamos precisar rever nosso contrato de iluminação, que é extremamente mal feito e mal fiscalizado. Temos um grande debate agora de um contrato de lixo, de coleta de lixo, que foi renovado sem a menor transparência, uma empresa que não vem fazendo um bom trabalho.

Mas só para a gente voltar a falar de segurança: cuidar da cidade, fazer o nosso papel, é uma baita contribuição da prefeitura. Mas tem uma outra coisa que é a gente ter controle do que acontece. Tem muita gente que acha que se você gritar bem grosso, o bandido vai sair correndo. A gente acha que não.

A gente acha que você ter os dados, ter o controle, saber o que acontece, é a forma mais efetiva de deixar as pessoas seguras.

[Raquel Landim]: Deputada, vamos falar de transporte?

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[Tabata Amaral]: Eu posso só finalizar, Raquel, porque esse tema é super importante. Uma coisa que a gente precisa ter é um comitê que reúna o Delegado Geral da Polícia Civil, o Comando da GCM, o Comandante da PM para se reunirem mensalmente e olharem para o que acontece.
Mas precisamos também de salas de controle e segurança em cada subprefeitura. Sem câmera, sem saber o que acontece, sem usar inteligência, a cidade não fica segura.

[Diego Sarza]: A Thaís citou esses roubos de celulares que, em geral, são aqueles furtos de oportunidade, muitas vezes, porque a pessoa está numa condição vulnerável, é claro que é um problema de segurança pública, essa pessoa precisa responder pelo seu ato, mas a prefeitura também tem condições de proporcionar uma educação melhor, acesso a atividades esportivas. Do outro lado, do campo social, a senhora tem propostas também?

[Tabata Amaral]: Com toda certeza. Quando eu falo de escola em tempo integral, muita gente pode não entender assim, mas escola em tempo integral reduz pela metade o homicídio entre jovens. A gente [tem] que criar alternativas de esporte, cultura, educação para as nossas crianças e adolescentes. A primeira coisa é esse compromisso de, em oito anos, universalizar escola em tempo integral aqui na cidade de São Paulo.
A segunda coisa é a gente retomar os nossos céus, que são um baita legado, que vem da gestão da Marta e que foram completamente entregues à politicagem com a atual gestão. Vou além: Bruno Covas se comprometeu a entregar 12 céus para a cidade de São Paulo. O Ricardo Nunes foi lá, mudou a meta e não vai conseguir nem bater a meta que ele mudou e não vai entregar nenhum céu. Os céus são muito importantes para a gente ter políticas de esporte, nutricionista, um educador físico, uma quadra coberta, para ter teatro, cinema, para você ter empreendedorismo, fomentar a economia local.

Então vou ficando por aqui para não me alongar, mas eu vejo nossas escolas, abrir a quadra da escola noite e final de semana, trazer o profissional da educação física, o rico tem crossfit, o rico pode fazer beach tennis. Por que o pobre não pode ter um baita programa de esporte na escola dessa quadra?

Então para mim, quando a gente fala de prevenção de longo prazo, educação, cultura e esporte são chave para essa cidade.

[Raquel Landim]: Deputada, vamos falar de transporte: tarifas zero aos domingos virou um tema dessa campanha porque foi instituído pelo atual prefeito, a senhora já disse lá atrás que era a favor. Recentemente disse que era um equívoco, a senhora vai manter ou vai revisar ou vai acabar?

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[Tabata Amaral]: Vou deixar muito claro tudo o que eu disse: vou manter a tarifa zero ao domingo, o que eu acho que é um equívoco, é uma promessa eleitoreira, mentirosa, falsa de levar a tarifa zero para todos os dias, por quê? Porque a cidade não tem dinheiro para fazer isso, qualquer pessoa que vem aqui e prometa que teremos tarifa zero de segunda a segunda, 100%, está mentindo e eu tenho os números para provar.

[Raquel Landim]: Mas a senhora vai manter, apesar do custo, que é caro, a senhora vai manter, apesar do envolvimento dessas empresas de ônibus com o Primeiro Comando da Capital e as investigações ainda estão em curso, apesar disso tudo, a senhora vai manter?

[Tabata Amaral]: Tem duas coisas que a gente tem que separar Raquel, a primeira delas é o direito das pessoas de circular, de acessar uma atividade de cultura, de conhecer o centro da cidade. As pessoas não podem ser responsabilizadas mais uma vez pela corrupção que de fato acontece, por toda a safadeza que a gente sabe que está acontecendo na cidade nesse momento.

Então, o direito adquirido da tarifa zero aos domingos vai ser mantido. Agora a gente vai olhar para essas outras questões também e aí eu vou fazer um contraponto aqui muito forte: o atual prefeito Ricardo Nunes, depois que a operação fim de linha já tinha sido liberada, lançada, foi lá, gravou o vídeo, tentou entregar o hidroviário da represa Billings, elogiando as empresas que, de acordo com a justiça, estão ligadas ao crime organizado.
A gente tem aí uma baita oportunidade não só de romper os contratos com essas empresas denunciadas, mas também de a gente garantir que essa operação siga acontecendo.

Todo mundo em São Paulo sempre soube que, infelizmente, havia uma mistura do crime organizado com transporte público, mas a gente nunca tinha tido uma operação desse nível que tivesse coragem de prender vereador, prender dono de empresa de ônibus. Tenho muito receio de que, se o atual prefeito continuar nessa cadeira, essa operação vai ser sufocada. Ela não vai ter continuidade. O que eu farei como prefeita é garantir que os órgãos de controle, que o judiciário...

[Raquel Landim]: Mas qual a força que ele tem para sufocar? Porque a operação é da PM, é do Tarcísio.

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[Tabata Amaral]:Infelizmente, a gente já viu muitas operações no Brasil serem sufocadas por interesse político. O que eu posso dizer é que eu, como prefeita, vou fazer o que tiver ao meu alcance, inclusive, acho que a Polícia Federal deveria ser envolvida nessa operação também para que a operação siga de forma independente e prenda e puna todos os culpados.

[Thaís Bilenky]: O prefeito está, de alguma forma, dificultando a independência da operação?

[Tabata Amaral:] Isso eu não sei. O que eu sei é que ele foi para uma das empresas, foi fisicamente, tem um vídeo mostrando, elogiar o trabalho da empresa, que essa operação disse que era ligada ao crime organizado.

[Raquel Landim:] Agora, deputada, uma das pessoas que os procuradores acreditam que estejam envolvidas no esquema é Milton Leite, que hoje é presidente da Câmara dos Vereadores. A senhora disse que uma das suas qualidades é sentar para conversar com todo mundo. Se Milton Leite for reeleito e o poder dele na cidade é grande, a senhora vai sentar para conversar com ele?

[Tabata Amaral]: Com toda certeza. Quem escolhe com quem eu converso é o povo. Eu jamais vou me recusar a sentar para conversar, para trabalhar, para tratar do que importa para a cidade com qualquer representante que foi legitimamente eleito. O governador eleito, o presidente eleito, o presidente da Câmara, cada vereador, esse é o papel de quem respeita a democracia. Então, essa é a minha posição. Da mesma forma, o que tiver ao meu alcance eu farei para que cada investigação aconteça, para que as operações possam acontecer com independência e para que o combate à corrupção seja feito.

Cada um vai poder se explicar, se justificar perante a Justiça. O que a gente vai voltar a ter em São Paulo é uma prefeitura que se preocupa com o combate à corrupção. Eu vou dar um exemplo só para não ficar na nuvem do que eu estou dizendo. Houve recentemente algo muito grave que também não foi tão noticiado.

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Existe uma OS chamada Sobei, que foi inclusive muito citada no caso da máfia das creches e por aí vai. Recentemente, a Sobei cobrou uma dívida milionária indevida à prefeitura de São Paulo. Houve uma determinação de que a prefeitura não deveria pagar aquela dívida milionária.
O prefeito, por ser apadrinhado, amigo literalmente do dono da Sobei, descumpriu a decisão e foi lá e fez o pagamento. Isso não vai acontecer comigo. Não importa se é amigo, não importa ser conhecido, não importa ser poderoso ou não. Se houver uma investigação, uma acusação e uma determinação da justiça, isso vai ser cumprido.

[Thaís Bilenky]: A senhora teme ficar isolada na prefeitura sem apoio da Câmara Municipal para tocar outros projetos que não só são relativos à linha de ônibus, porque a Câmara Municipal tem que aprovar todos os projetos para a prefeitura andar. Com uma postura como essa, a senhora teme se isolar?

[Tabata Amaral]: De jeito nenhum. Acredito que ter tanta coragem de falar de combate ao crime, de combate à corrupção, talvez coloque minha vida em risco e obviamente a gente sempre vai tomar cuidado com isso. Agora, eu aprendi em Brasília e demonstrei nesses seis anos que se você souber falar de onde a gente concorda, do que é de interesse para a população, a gente consegue trabalhar junto.

Jamais vou me recusar a conversar com ninguém. Já demonstrei uma habilidade tremenda de conversar com gente que pensa muito diferente de desmontar palanque. Então não é um receio que eu tenho.

[Raquel Landim]: Deputada, a senhora falou algo importante aí, a senhora acha que a corrupção na prefeitura é tão grande que se a senhora enfrentar, a senhora vai colocar sua vida em risco?

[Tabata Amaral]: Eu já recebi inúmeras ameaças, Raquel, mas isso para mim não é tema dessa eleição. Quando eu recebo uma ameaça, ela é encaminhada à justiça, faço o BO, tem gente cuidando disso. O meu foco aqui é falar de São Paulo.

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[Diego Sarza]: Vamos fazer o seguinte, o nosso colunista de cidades, o Raul Juste Lores tem gravado perguntas para os pré-candidatos, gravou uma também para a Tabata Amaral, vamos ver:

[Raul Juste Lores (em vídeo)]: Candidata, o governo federal está mudando, mais uma vez, as regras do Minha Casa Minha Vida para favorecer as construções novas, do zero, mas prejudicando ou tirando o dinheiro do FGTS para quem quer aí retrofitar, restaurar, adaptar prédios já existentes.
Isso, aliás, é uma prática nada ambiental. A senhora, como deputada federal e da base do governo, queria saber a sua opinião sobre isso e como afeta as suas ideias por uma política habitacional do município?

[Tabata Amaral]: Primeiro registrar que eu acompanho com muita admiração o trabalho do Raul e já estou com o livro dele para ler na sequência. Quando a gente olha para o futuro, me parece que o caminho é menos você pensar grandes residenciais que acomodem milhares de pessoas com um baita impacto ambiental nos serviços e mais a gente pensar num conjunto de soluções espalhadas que possam se somar.

E eu queria trazer um exemplo bem concreto da minha zona sul. Existe o residencial Espanha que foi construído no Jardim Apurá como uma contrapartida à possível construção do Parque dos Búfalos que nunca saiu do papel. Pois bem, o que importa? Esse é um residencial desses moldes antigos, milhares de pessoas habitando.

Só que esse residencial foi feito sem nenhum planejamento ambiental, sem nenhuma intervenção nos serviços da comunidade e por aí vai. Hoje existem dezenas de crianças do residencial Espanha que não conseguem vaga no ensino fundamental. Esse é um problema.

Nós precisamos sim oferecer soluções para as pessoas, mas tem que pensar no impacto no trânsito, no esgoto, na saúde e na educação. O que eu defendo é um conjunto de soluções que possam ser combinadas. A gente tem hoje 20% dos imóveis abandonados na região central.

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Por que a gente não pode usar imóveis abandonados, endividados, imóveis na região de Pinheiros que o público usava no passado mas que hoje em dia não servem de mais nada e convertê-los tanto em habitação social, mas também numa proposta que eu gosto muito porque ela é muito imediata, que é a do aluguel social.

O que é isso? A gente atrair as pessoas para habitarem em regiões centrais, que já tem um bom transporte, já tem empregos e por aí vai, e a gente entrar a prefeitura pagando uma parcela desse aluguel e a família complementando com o resto. Conforme a renda da família aumenta, a prefeitura vai tirando o subsídio. Não vou me alongar aqui, mas acho que o futuro e o mundo...

[Raquel Landim]: Mas a pergunta do Raul era sobre o Minha Casa Minha Vida. O foco do Minha Casa Minha Vida está equivocado a focar em novas construções ao invés do retrofit?

[Tabata Amaral]: Eu volto a dizer, não me parece que a gente consiga fazer apenas com retrofit, apenas com aluguel social. Vamos precisar também construir moradias, mas o que eu critico e me parece que também é a crítica do Raul, são esses grandes empreendimentos que colocam milhares de pessoas para morarem juntos, que levam às vezes mais de 10 anos para saírem do papel. É muito difícil achar um bom terreno numa região central tão grande aqui em São Paulo.

[Tabata Amaral]: Então pode até ser que por uma cidade pequena esse novo modelo do Minha Casa Minha Vida seja bom. Para São Paulo, me parece que para além do aluguel social, para além do retrofit, a gente poderia pensar soluções menores, em que a gente fale de algumas centenas de pessoas ou até dezenas de pessoas, porque o impacto no entorno é menor e esses terrenos estão mais disponíveis.

[Raquel Landim]: Mas então o programa do presidente Lula está beneficiando as grandes construtoras ao invés de pensar soluções para as cidades?

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[Tabata Amaral]: Essa é uma acusação muito grave, não tenho a menor condição de responder isso.

[Raquel Landim]: É uma pergunta.

[Tabata Amaral]: O que eu espero fazer como prefeita...

[Raquel Landim]: Não estou fazendo uma acusação. Estou fazendo uma pergunta.

[Tabata Amaral]: Não, tudo bem, mas só para dizer que eu não posso dizer isso. O que fica claro para mim é que como prefeita eu vou precisar trabalhar para que o Minha Casa Minha Vida se adapte ao cenário de São Paulo, uma grande metrópole que não tem grandes terrenos livres nas regiões centrais, mas que poderia sim se beneficiar de soluções mais centrais.

[Diego Sarza]:A gente sabe que essas empresas, as grandes construtoras, fazem um lobby muito forte. Como combater esse lobby?

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[Tabata Amaral]: Primeiro, eu defendo a maior transparência. Existe um debate no Congresso que é da regularização do lobby. O lobby, a gente goste ou não de quem está do outro lado do balcão, sempre vai acontecer.

Sempre vai ter uma ONG, sempre vai ter um grupo de interesse, sempre vai ter uma empresa aí na Brasília. Tem um projeto que eu venho defendendo há seis anos que é da gente criar rega, transparência para isso. Você fingir que uma coisa não acontece, geralmente não é uma boa solução. Então, não vou adentrar nos detalhes do projeto, mas dado que o lobby existe, eu acho que a gente deveria pedir mais transparência.

[Tabata Amaral]: Tem que estar na agenda dos parlamentares quando recebem um representante, tem que ter regra para como esse lobby é feito, tem que ter maior fiscalização nos presentes que eu sei que são dados por aí. Então, é mais a minha lógica, ao invés de fingir que uma coisa não acontece, tentar impedir que ela aconteça, tem que ter controle, transparência e fiscalização.

[Raquel Landim]: Deputada, fila de exames em São Paulo cresceu 50%, novas unidades de saúde até foram inauguradas, mas falta médico. Já teve todo tipo de solução, vamos fazer corujão à noite, só que aí acabava o corujão, voltava a fila, como resolver isso de uma forma consistente?

[Tabata Amaral]: Na saúde, a gente vem falhando no que tem de mais básico. É o que você falou, falta médico, falta papanicolau, as mulheres não conseguem fazer um exame tão básico de prevenção, falta remédio para a pressão nos postos e tem um problema muito grande que é de falta de controle.

Hoje, a prefeitura literalmente não sabe quais são os dias que alguém tem para esperar para uma consulta ou para fazer um exame. A prefeitura não faz hoje um controle do estoque dos remédios que a gente tem na cidade, do controle dos especialistas que estão em cada região, porque cada os que está cuidando daquela região, ela tem os seus dados, mas se você vai para o bairro do lado, essa informação se perde.

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E aí é um problema duplo. A pessoa que foi no AMA Missionária, por exemplo, que é perto da minha casa, quando ela vai para o Hospital Sabóia, já não tem a informação dela, já não tem o prontuário dela. E se ela vai para o Hospital Pedreira, que é estadual, aí lascou-se mesmo, não tem nenhuma conversa.

Quando a gente fala do estoque, tem remédio que vence, que sobra em determinado posto, enquanto no outro está faltando. Tem um hospital que tem fono demais, que não tem, eu tenho uma amiga que é fono, que trabalha na rede pública, que ela fica às vezes sem agenda, e no outro lado está faltando fono.

Acho que já deu para entender. É a gente usar a tecnologia para integrar essas informações e é um controle de estoque, todo comerciante sabe disso. Fazer uma distribuição melhor dos profissionais, das especialidades, dos remédios, porque aí a gente tem mais clareza de dizer, tem que comprar mais remédio X, tem que contratar mais especialista tal.

Então essa é uma coisa muito básica, que é dessa cidade que perdeu o controle da situação em todas as áreas. Tem um segundo passo, que é sim a gente cuidar do que é mais urgente. A gente tem três problemas, o acesso a dentista, o acesso a oftalmologista e o acesso a exames ginecológicos geram muitas filas e são exames que são muito importantes para a prevenção, que se você não faz a situação se agrava e fica muito mais cara e muito pior.

Então uma coisa que a gente defende para esse primeiro mandato, se Deus quiser, é a gente ter carretas móveis que possam levar esses três tipos de atendimento, exames ginecológicos, oftalmologista e dentista. E aí para finalizar, a gente apostar na saúde da família.

O que a prefeitura pode fazer de melhor é trabalhar para que a doença não se instale. Só que a gente tem a pior cobertura de saúde da família de toda a região sudeste aqui em São Paulo. Então um compromisso que eu faço é que nós teremos 75% de cobertura de estratégia saúde da família na cidade.

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O que é isso? Quem não tem convênio e quem quiser vai poder ter acesso a um médico, a um enfermeiro, a um agente comunitário da saúde que está fazendo esse acompanhamento.

[Thais Bilenky]: Deputada, vou mudar um pouco de assunto aqui. A sua geração na política está ganhando espaço agora, até alguns políticos um pouco mais novos que a senhora, por exemplo, Bardelá na França, que tem 28, o Nicolas Ferreira, deputado federal por Minas Gerais também, e são políticos de extrema-direita e que tem muita visibilidade nas redes sociais com essa linha e a retórica que a extrema-direita é conhecida.

[Tabata Amaral]: A senhora, inclusive, deu uma guinada nas redes sociais de um tempo para cá para dar uma popularizada, enfim, está tentando construir uma imagem através das redes sociais, mas a senhora não tem um discurso de extrema-direita. Como disputar esse espaço e fazer com que sua geração tenha uma representatividade maior no espectro político?

Tem um ranking, Thais, que saiu recentemente que é bem ilustrativo disso, que são os dez perfis brasileiros políticos com maior engajamento. Eu sou a única pessoa que não é de extrema-direita nesse ranking. É um desafio você ir bem na rede social, sem financiamento ilegal, sem fake news, sem discurso de ódio, mas é possível.

A gente hoje é uma referência na rede social e o que a gente faz é tentar se conectar com as pessoas falando a verdade, de acordo com as nossas convicções, mas trazendo algo mais pessoal. Muita gente, quando eu vou para uma academia, fala, não, mas a Tabata fala demais da história dela, a Tabata fala demais do dia a dia dela, eu não quero ver a Tabata coando café todos os dias, mas essa é a forma que eu encontrei de me conectar com as pessoas que me seguem.

Eu estou ali falando de licença-paternidade, de reforma tributária, de tudo que é importante para as pessoas, mas eu estou mostrando quem é o ser humano, com suas falhas e com suas qualidades, quem é a pessoa que está por trás daquilo. Então essa é uma coisa que a gente pode ficar brigando, mas a população quer ter essa proximidade maior com as lideranças políticas, com as pessoas de forma geral.

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[Raquel Landim]: Deputada, agora o seu foco é a Prefeitura de São Paulo, mas qual é o seu sonho lá na frente? A senhora é muito jovem, a senhora quer um dia ser Presidente da República?

[Tabata Amaral]: Eu quero ser Prefeita de São Paulo por oito anos e quero, numa esteira de grandes mulheres que São Paulo já teve na Prefeitura, ser a terceira mulher eleita aqui e ser a melhor Prefeita que São Paulo já teve.

[Raquel Landim]:Mas a senhora sonha com a Presidência da República?

[Tabata Amaral]: Hoje não, meu sonho é ser prefeita por oito anos.

[Diego Sarza]: E como prefeita a senhora pode encarar um desafio que é a população em situação de rua em um número enorme. Como resolver esse problema?

[Tabata Amaral]: A primeira coisa é a gente ter clareza, controle do que está acontecendo. O Prefeito Ricardo Nunes veio aqui e mentiu novamente, disse que havia 30 mil pessoas em situação de rua. A UFMG, que é uma instituição extremamente séria, usou os dados do CadÚnico e falou que são pelo menos 80 mil pessoas. Como é que uma Prefeitura que erra de 30 para 80 mil ou que mente vai cuidar da situação?

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A primeira coisa que eu espero fazer nessa área como Prefeita é fazer o censo da população em situação de rua. É a gente ter clareza de quantas pessoas são, onde elas estão e por quê. E por que é tão importante saber a história de cada um? Porque de acordo com a história, se a gente entender o que levou a pessoa para a rua, a gente vai entender melhor qual é o caminho de saída dela.

Quem está ali porque sofreu um abuso, sofreu uma violência, a gente vai ter que fazer esse acolhimento. Quem está ali porque foi despejado é moradia primeiro. Quem está ali porque perdeu o emprego é uma reciclagem profissional, é a chance de um novo emprego. Não tem bala de prata. Qualquer bala de prata não vai funcionar para 80 mil pessoas.

Então, fazer o Censo, voltar a ter controle dos dados da situação e garantir que a gente vai enfrentar isso com responsabilidade.

[Diego Sarza]: O tempo está acabando, a gente vai para aquele momento que a gente chama de pinga-fogo, que são as perguntas e respostas rápidas. A senhora é contra ou a favor equiparar o crime do aborto ao de homicídio?

[Tabata Amaral]: Contra.

[Diego Sarza]: A senhora é contra ou a favor a descriminalização da maconha?

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[Tabata Amaral]: Sou a favor da descriminalização da maconha e contra a legalização de todas as drogas.

[Diego Sarza]: É a favor da internação compulsória? A senhora já falou aqui, né?

[Tabata Amaral]: Sim, desde que seja uma decisão médica e respeite um tratamento humanizado e individualizado.

[Diego Sarza]: E cobrança de mensalidades em universidades públicas? A favor ou contra?

[Tabata Amaral]: Contra e tem um projeto melhor, que eu já protocolei no Congresso, que em um segundo segue o modelo australiano. A pessoa, depois de formada, se atingir um alto patamar de renda, ela retribui e paga pela formação que ela recebeu.

[Diego Sarza]: É a favor ou contra? Teve um projeto circulando que multaria pessoas que fizessem doações a moradores de rua. A senhora é a favor ou contra?

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[Tabata Amaral]: Contra. Ao invés de penalizar quem está trabalhando, a gente deveria fazer a nossa parte.

[Diego Sarza] Câmeras nos uniformes dos policiais?

[Tabata Amaral]: A favor.

[Diego Sarza]: GSM também? A favor. GSM, né?

[Tabata Amaral]: Protege o policial, protege a população.

[Diego Sarza]: Porta e posse de armas, a restrição?

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[Tabata Amaral]: Contra.

[Diego Sarza]: A favor da restrição

[Tabata Amaral]: A favor da restrição. O exemplo do que aconteceu com o Trump mostra o risco que a gente tem de ter uma população armada.

[Diego Sarza]: E sobre a privatização da Sabesp, qual é a sua avaliação?

[Tabata Amaral]: Contra. Especialmente do jeito que está sendo feito. Um grande erro. São Paulo está perdendo dinheiro e é porque o prefeito não tem tamanho e coragem para defender nossos interesses.

[Diego Sarza]: E a tarifa zero, taxa zero para o transporte público, a favor ou contra?

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[Tabata Amaral]: Aos domingos, a favor. De forma geral, contra. A gente não tem dinheiro para fazer isso

[Diego Sarza]: Terceirização na área da educação, a favor ou contra?

[Tabata Amaral]: A favor nas creches.

[Diego Sarza]: Vamos para a próxima, inspeção veicular, a favor ou contra?

[Tabata Amaral]: Contra.

[Diego Sarza] :A seguinte, proibir taxas nos corredores, aliás, taxas não, proibir táxis nos corredores e faixas de ônibus. A senhora, a favor ou contra?

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[Tabata Amaral]: Contra

[Diego Sarza]: Três metas que vão constar no seu programa de governo.

[Tabata Amaral]: 100% das crianças alfabetizadas até o segundo ano, 75% de cobertura de equipes de saúde da família para a população de São Paulo e uma sala de controle e segurança em cada subprefeitura para que as polícias atuem conjuntamente e saibam o que está acontecendo.

[Diego Sarza] :Quem é o seu mentor ou mentora na política do Brasil?

[Tabata Amaral]: Eu tenho grandes aliados, já citei, Geraldo Alckmin, Márcio França, nosso presidente?

[Raquel Landim]: Uma inspiração, uma inspiração, um político que te inspira

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[Tabata Amara]: Vou ficar no PSB, Eduardo Campos, que o filho do rico e o filho do pobre tenham as mesmas oportunidades.

[Diego Sarza]:Uma qualidade e um defeito seu, sinceramente?

[Tabata Amaral]: Qualidade é coragem, tenho de sobra, defeito, impaciência e insistência e saber lidar com isso.

[Diego Sarza] :Tá certo, faltando 5, 4 segundos agora, obrigado viu deputada, pela sua participação aqui conosco.

[Tabata Amaral]: Muito obrigada, foi um prazer.

[Diego Sarza]: Obrigado, Raquel Landim, Thaís Bilenky, também, que me acompanharam para essa entrevista. Você já sabe, aqui no UOL a gente está fazendo uma série de sabatinas nas principais cidades do Brasil para que você conheça os pré-candidatos e as pré-candidatas às prefeituras.

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[Diego Sarza]:A gente volta numa próxima, um bom dia para você.

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