PCC criou banco milionário para financiar candidatos; como funciona

Uma investigação da Polícia Civil de Mogi das Cruzes (SP) detalhou um esquema criminoso que movimentou R$ 8 bilhões por meio de um "banco do crime" e outras 19 empresas.

Segundo as autoridades, os valores eram movimentados por membros do PCC para financiar campanhas de candidatos em diferentes cidades do estado de São Paulo. A investigação foi revelada em reportagem de Fabíola Perez, publicada no UOL.

Como é o banco do crime

A instituição financeira 4TBank é semelhante a uma fintech, com sede em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. De acordo com a polícia, a empresa foi criada por membros do PCC para lavar dinheiro e financiar candidaturas nas eleições. Os valores beneficiaram ao menos três candidatos em Mogi das Cruzes, Ubatuba e Santo André.

A empresa diz ser um banco digital. Em seus perfis nas redes sociais, o 4TBank oferece serviços como pagamentos de contas, transferência online, TED e DOC (modalidade extinta desde fevereiro deste ano), recarga de celular, e compra e venda de cripto ativos.

4TBank tem CNPJ ativo há cinco anos. Além da sede em Mogi das Cruzes, o banco funcionava com outros dois CNPJs diferentes: um deles operava em um escritório compartilhado na zona sul de São Paulo e outro em um prédio comercial em Palmas, no Tocantins.

Nos últimos cinco anos, a movimentação do banco somente no CNPJ de Mogi das Cruzes foi de R$ 600 milhões — quase R$ 100 milhões foram movimentados em saques e dinheiro em espécie.

Atividade da empresa era ilegal. Segundo o delegado responsável pela investigação, Fabrício Intelizano, a instituição não tem autorização do Banco Central para operar. De acordo com a polícia, os responsáveis por operar a empresa estão presos e as respectivas contas estão bloqueadas.

No total, a operação apontou 32 investigados, sendo 6 deles com relações diretas com o banco do PCC. Os demais teriam relações com o tráfico: seriam mulheres de pessoas presas e integrantes da facção. O banco reúne dez empresas e seis pessoas investigadas.

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A investigação e o crime em família

A operação que mirou o 4TBank teve início a partir de investigação de tráfico de drogas. Em junho de 2023, a Polícia Civil de Mogi das Cruzes teve acesso ao celular de Fabiana Lopes Manzini, casada com Anderson Manzini, apontado como membro antigo do PCC. Segundo Intelizano, Manzini integrava um grupo de sequestradores que atuava em diversas cidades paulistas.

Com o marido preso desde 2002, Fabiana estava à frente dos negócios. De acordo com a investigação, Fabiana também é considerada integrante do PCC por sua atuação em atividades ilícitas com Manzini. Conversas entre Fabiana e João Gabriel de Mello Yamawaki, primo de Anderson, mostram troca de orientações sobre candidatos políticos que receberiam apoio financeiro do grupo.

Mensagens interceptadas pela polícia revelam que Yamawaki indicava a Fabiana pessoas ligadas ao PCC para candidaturas. A polícia identificou possíveis candidatos em São José do Rio Preto, Campinas e na Baixada Santista.

Yamawaki era um dos integrantes do núcleo financeiro do PCC, apelidado de "câmbio" entre os integrantes da facção. A investigação aponta que Yamawaki tinha interesse em aumentar os lucros do 4TBank e eleger vereadores nas cidades paulistas. Tido como "elo central" no esquema, Manzini deve ser ouvido pela polícia nos próximos dias.

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