'Desconheço milícia em SP': Nunes defende GCM após prisões na 'cracolândia'

O prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) defendeu a GCM (Guarda Civil Metropolitana) após membros do grupo serem presos em uma operação para desarticular atividades criminosas na área conhecida como "cracolândia", no centro de São Paulo.

O que aconteceu

"Não vai ser 1, 2, 3, 4 ou 5 que vão manchar a reputação de 7.000 guardas", disse Nunes. Em entrevista coletiva com outras autoridades no Copom (Centro de Operações da Policia Militar), o prefeito disse que defende 100% a GCM.

A operação na "cracolândia" ocorre a menos de dois meses da eleição. Segundo o governo estadual paulista, sete mandados de prisão foram emitidos, além de 117 de busca e apreensão, 46 de sequestro e bloqueio de bens — além da determinação da suspensão da atividade econômica de 44 prédios comerciais.

O prefeito negou que exista um grupo paramilitar na região central da capital paulista infiltrado na GCM. "Desconheço a existência de milícia no centro de São Paulo. Temos guardas que dedicam as suas vidas para defender o cidadão. Há o caso de dois GCMs que já foram expulsos. Faço questão de defender a corporação", afirmou.

O promotor Lincoln Gakyia também descartou milícia em São Paulo. "Nós na investigação nem levamos isso em conta", disse ele. Segundo o chefe do Gaeco, o foco da operação eram as atividades relacionadas ao tráfico de drogas, e não a venda irregular de serviços de segurança privada na região.

Prefeito e promotor sentaram-se lado a lado em coletiva. Gakyia é chefe do Grupo de Ações contra o Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo e um dos principais nomes identificados com o combate ao PCC (Primeiro Comando da Capital) no estado.

Nos bastidores, autoridades admitem semelhança das atividades reveladas hoje com milícias cariocas. Entretanto, eles frisam que os grupos criminosos que foram alvo da operação não atuam com o mesmo nível de infiltração na máquina pública que as quadrilhas do estado do Rio.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) destacou o "grande trabalho" realizado pelas equipes de assistência social da prefeitura. Em sua fala, ele afirmou que havia uma preocupação com o bem-estar de moradores em situação de rua que vivem na área impactada pela operação e não têm envolvimento com atividade criminosas.

Entrevista à imprensa contou com a presença de representantes de mais de 20 órgãos. Além das secretarias estaduais de Justiça e Segurança Pública, Defesa Civil Estadual, Ministério Público de São Paulo, prefeitura da capital e Polícia Rodoviária Federal foram alguns dos entes representados.

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O que dizem os envolvidos

O objetivo era uma abordagem abrangente e integral que pudesse atacar os pontos de apoio no centro de São Paulo.
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador

A região central da capital se transformou em um verdadeiro ecossistema de atividades criminosas.
Lincoln Gakyia, chefe do Grupo de Ações Contra o Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo

Segurança na discussão eleitoral

A "cracolândia" e a insegurança da população vem sendo explorada por candidatos à Prefeitura de São Paulo. O movimento acontece mesmo com a atribuição principal sendo do governo estadual, que comanda as polícias.

Reportagem do UOL mostrou que campanhas apostam em grupos de trabalho sobre o assunto e em contribuições de eleitores para elaborar propostas. Críticas à atual gestão de Nunes vão desde o baixo efetivo da GCM até pouco avanço de políticas para a "cracolândia" — o que o prefeito nega.

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A megaoperação de hoje não ocorreu com a participação da administração municipal. "Não dá para chamar [para a operação] quem se omitiu por décadas", disse Gakiya à Folha de S.Paulo. "Todas as omissões e negligências serão cobradas. Depois, o apoio é bem-vindo", afirmou.

Tabata Amaral (PSB), candidata à Prefeitura de São Paulo, tem falado sobre fechar hotéis e ferros-velhos para combater a "cracolândia". "Ir atrás de empresários, de agente público envolvido", afirmou em um vídeo publicado nas redes sociais.

A ausência da prefeitura nas investigação foi citada por Guilherme Boulos (PSOL), principal adversário de Nunes. "É lamentável que, além de tudo, a omissão da gestão tenha facilitado a instalação de milícias na nossa cidade", disse.

Operação mira hotéis da 'cracolândia'

Equipes das forças de segurança do estado e Ministério Público cumpriram mais de 200 mandados de prisão no centro da cidade. Os mandados são de busca e apreensão, sequestro e bloqueio de bens e suspensão da atividade econômica. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, imóveis utilizados para a venda e o consumo de drogas serão lacrados.

Governo do estado diz que profissionais de saúde e da assistência social serão responsáveis pelo atendimento às famílias que estão nos imóveis alvos da operação. A gestão Tarcísio informou que essa pessoas serão encaminhadas à Central Integrada de Atenção e Acolhimento, Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas, unidades de saúde e abrigos de passagem.

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Operação foi planejada ao longo do ano pelos centros de inteligência das forças de segurança e Gaeco, diz governo. As ações tiveram a participação de mais de mil agentes policiais civis, militares e rodoviários federais, promotores públicos e representantes das subprefeituras da capital e do Ministério do Trabalho e Emprego.

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