'Ele, não': Lula libera ministros em palanque, mas veta foto com Bolsonaro

O presidente Lula (PT) liberou seus ministros para apoiar quem quiserem nessas eleições municipais, só não pode subir no palanque do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O que aconteceu

Não haverá proibição. Com dez partidos na Esplanada, o governo "liberou" para que seus ministros subam no palanque de quem quiserem. Em São Paulo, maior cidade do país, por exemplo, haverá candidatos de três partidos da base.

Só Bolsonaro está totalmente vetado. Essa orientação não foi falada explicitamente, mas está dado que o presidente não quer nenhum ministro em palanque com o adversário político.

Isso serve ainda mais para o centrão. Os ministros do União Brasil, do PP e do Republicanos devem tomar ainda mais cuidado, dado que até que há uma ou outra aliança entre PT e PL nas coligações regionais, mas são raras, enquanto com estes três partidos são maioria, em especial em áreas caras a Lula, como a região Nordeste.

"Ele, não"

A capital paulista é o principal exemplo. Na cidade, Lula apoia a chapa Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT). Já o vice-presidente Geraldo Alckmin está com a deputada Tabata Amaral, que tem, inclusive, a esposa do ministro Márcio França (Microempresas), Lúcia França, como vice.

Na cidade, Bolsonaro está com o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, sigla que tem três ministros do governo. A ministra Simone Tebet (Planejamento) já avisou que pode dar apoio a Nunes, mas não aparecerá ao lado do ex-presidente. Já Porto Alegre, onde o prefeito Sebastião Melo (MDB) busca a reeleição coligado com o PL de Bolsonaro, não deverá ter participação de nenhum ministro do governo.

Campo Grande e Natal passam situações semelhantes. Com duas deputadas disputando pelo PT (Camila Jara e Natália Bonavides, respectivamente), partidos do governo apoiam candidatos bolsonaristas. Na capital sul-mato-grossense, o PL se juntou a PSD, MDB, Republicanos e PSB em torno de Beto Pereira (PSDB), enquanto na capital potiguar está com Paulinho Freire, do União Brasil, que tem dois ministérios no governo.

Em Maceió, a situação fica um pouco mais complicada. O ex-vereador Ricardo Barbosa (PT) retirou a candidatura para apoiar o deputado Rafael Britto (MDB), nome da família Calheiros. Ele enfrenta o prefeito JHC (PL), favorito à reeleição, e apoiado por todo o centrão do governo: União Brasil, PP e Republicanos.

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Para bom entendedor

A ordem não foi dada explicitamente, mas ministros e aliados brincam que "para bom entendedor meia palavra bas...". O PT vê as eleições municipais como uma prévia para 2026 e, além de aumentar prefeituras, mostrar a força eleitoral de Lula é um dos objetivos do pleito.

Qualquer conivência com Bolsonaro apontaria para o sentido oposto. Membros do partido dizem entender que a frente ampla do governo é formada por diferentes visões ideológicas, mas que não há espaço para bolsonarismo. Uma eventual foto do ex-presidente com um ministro lulista seria um risco que eles não querem.

O PT pretende quintuplicar o número de prefeituras neste ano: de 234 para 1.200. Depois de não ter conseguido nenhuma vitória em capital pela primeira vez em 2020, o partido pretende conquistar pelo menos duas e aumentar presenças em cidades de grande e médio porte.

Lula também tem orientado os ministros a fazerem uma eleição "acima da cintura". O objetivo é que haja um alinhamento pacífico para o pleito, para evitar que, durante a disputa, ministros acabem falando mal de partidos de colegas da Esplanada.

[Lula falou] no sentido de orientar que cada um tem a absoluta liberdade para escolher. Agora, os ministros que fossem participar da campanha, ele aconselhava que fizessem todos os elogios aos seus candidatos e não fizessem críticas ou ofensas ao adversários, independente de quem é o adversário.
Ministro Rui Costa, sobre orientações de Lula para eleições

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Para Bolsonaro, nem isso

O ex-presidente assume uma postura não liberal. Não só é impensável para Bolsonaro qualquer apoiador seu em um palanque com Lula como ele vetou qualquer aliança do PL com o PT, mesmo sem apoio explícito do presidente.

No início do mês, o ex-presidente disse que alianças com partidos de esquerda têm de "deixar de existir". "Você, eleitor, fica ligado, onde não for possível desfazer, nós vamos fazer campanha para o outro lado", disse Bolsonaro.

Apesar disso, PT e PL estão unidos em uma capital. Em São Luís, os dois apoiam Duarte Jr., do PSB.

Estamos fazendo cumprir agora que essas coligações têm que deixar de existir. O que é mais grave? Mesmo deixando de existir, fica essa mácula dessas pessoas que estavam pensando apenas nelas para chegar ao poder e que se exploda o resto.
Jair Bolsonaro, sobre alianças com esquerda

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