Só 8 mulheres lideram pesquisas eleitorais nas 50 maiores cidades do país
Apenas oito mulheres lideram as pesquisas eleitorais para as prefeituras das 50 maiores cidades do país. Metade é de mulheres negras, duas buscam a reeleição e nenhuma está no Sul.
O que aconteceu
Ao todo, 17 das 50 maiores cidades não têm candidata a prefeita. Destas 17, cinco são capitais. Em outras cinco capitais, há mulheres na liderança — a capital de Tocantins, Palmas, não está entre as 50 maiores cidades do país.
Nos grandes municípios, as chances são baixas. A maioria das candidatas mulheres em cidades grandes são de partidos nanicos, geralmente de esquerda, que não chegam a pontuar nas intenções de voto.
Candidatas negras também são minoria entre as que têm chance. Apesar de serem metade das que despontam nas pesquisas, a maior parte das postulantes que se consideram pardas ou pretas não está entre os mais cotados. Só há uma concorrente transexual.
Da direita à esquerda, elas defendem mais representação feminina. Ao UOL as candidatas falaram sobre como têm superado os desafios em serem mulheres em um meio dominado por homens.
Quem são
As candidatas que lideram vêm de três partidos: PT, União Brasil e PL. Elas estão todas as regiões, menos no Sul. Metade estão no Sudeste.
Duas concorrem à reeleição. As prefeitas Margarida Salomão (PT), de Juiz de Fora (MG), e Marília Campos (PT), de Contagem (MG), são favoritas a seguirem no cargo. O presidente Lula (PT) fez eventos do governo em ambas as cidades no final de junho, com direito a elogios às gestões e discurso das duas.
Hoje, elas são minoria. Atualmente, só Campo Grande e Palmas são governadas por mulheres entre as capitais. Cinthia Ribeiro (PSDB) está concluindo o segundo mandato, portanto não disputa neste ano.
Das oito, quatro são mulheres negras. Além de Marília, a ex-vice-governadora Rose Modesto (União) lidera em Campo Grande, a deputada Dandara Tonantzin (PT), em Uberlândia (MG), e a ex-deputada Mariana Carvalho (União Brasil), em Porto Velho.
Em Uberlândia, há empate técnico triplo. Em levantamento feito pelo Ipec no fim de junho, Dandara aparece à frente numericamente, com 24%, seguida pelo atual vice-prefeito, Paulo Sérgio (PP), com 23%, e pelo deputado estadual Leonídio Bouças (PSDB), com 20%.
Mariana Carvalho pode ser eleita no primeiro turno. Nome do prefeito Hildon Chaves (União Brasil) e apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ela aparece com 51,7% das intenções de voto em pesquisa do início de agosto. O ex-deputado Leo Moraes (Podemos) está em segundo, com 12,9%.
Em Campo Grande, três dos quatro candidatos mais bem colocados são mulheres. Rose lidera com 27,8% das intenções de voto, com o deputado Beto Pereira (PSDB), nome do governador Eduardo Riedel (PSDB) e de Bolsonaro, em segundo com 20,2%. A prefeita Adriane Lopes (PP), que busca a reeleição, está em terceiro, e a deputada Camila Jara (PT), nome de Lula, em quarto.
Aracaju é a única capital nordestina liderada por uma mulher. A cidade tem cinco das oito candidaturas femininas —maior número entre as cidades pesquisadas. A vereadora Emília Corrêa (PL) lidera com chances de vitória no primeiro turno, com 48,58%. Ela é seguida por duas mulheres: a deputada Yandra Moura (União Brasil), com 16,29%, e a Delegada Danielle (MDB), com 12,18%.
Em Goiânia, a deputada Adriana Accorsi é a aposta do PT para conquistar território bolsonarista. Ela teve na última pesquisa, de 12 de agosto, 23,4% das intenções de voto, tecnicamente empatada com o senador Vanderlan Cardoso (PSD), com 21,9%.
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Quero receberSó há uma candidata transexual. A deputada Duda Salabert (PDT) está na disputa de Belo Horizonte, com 14%, tecnicamente empatada com o deputado estadual Bruno Engler (PL), candidato bolsonarista, com 15%. Mauro Tramonte (Republicanos), apresentador licenciado da TV Record, lidera, com 31%.
Chances virtuais
Fora as que lideram, as chances de vitória são pequenas. Nas outras 42 cidades entre as maiores do país, só oito têm candidatas entre as três primeiras colocações: Belo Horizonte, Jaboatão dos Guararapes (PE), Londrina (PR), Natal, Niterói (RJ), Porto Alegre, São Bernardo do Campo (SP) e Santo André (SP).
Porto Alegre é uma exceção. Na capital gaúcha, o prefeito Sebastião Melo (MDB) tem revezado a liderança com a deputada Maria do Rosário (PT). Na pesquisa da última segunda (19), ele aparece numericamente à frente, mas tecnicamente empatado com ela, com 29,6% e 26,8%, respectivamente. A deputada Juliana Brizola (PDT) está em terceiro, com 14,1%.
Nanicos nem pontuam. Nas outras cidades, a grande maioria das candidaturas femininas são compostas por partidos nanicos, geralmente de esquerda, como UP, PSTU e PCO, que muitas vezes nem chegam a pontuar nas pesquisas, como são os casos de Belém, Curitiba, Salvador e São Luís.
O que elas dizem
As mulheres ainda enfrentam desafios para ocuparem posições de liderança na sociedade. A política, de uma maneira geral, ainda é muito masculina. Aqui em Mogi das Cruzes, por exemplo, eu enfrento o desafio de trabalhar para ser a primeira prefeita eleita em 463 anos.
Mara Bertaiolli (PL), de Mogi das Cruzes (SP)
É uma coisa que se diz: que a cidade, para as mulheres, é menor do que para os homens. Porque as mulheres se sentem mais vulneráveis, correndo mais riscos. Por isso, é tão importante que haja mulheres governando as cidades. Nós ainda somos muito poucas mulheres que temos oportunidades, condições e a honra de exercer essa prerrogativa, mas eu não tenho dúvida de que o avanço da sociedade brasileira passa, definitivamente, por uma cidade mais feminina e, por isso mesmo, uma cidade mais universal.
Margarida Salomão (PT), de Juiz de Fora (MG)
O fato de liderar pesquisas em uma das 50 maiores cidades do país como mulher é um indicativo de progresso, mas também um lembrete dos desafios persistentes. Cada passo que dou é acompanhado pela convicção de que precisamos de mais representação feminina em todos os níveis de governo para realmente refletir e responder às necessidades da nossa sociedade. É fundamental promover a igualdade de oportunidades e aumentar o protagonismo feminino em todas as esferas de governo para garantir que as políticas públicas reflitam as necessidades de toda a população.
Mariana Carvalho (União), de Porto Velho
A gente, para ocupar o espaço que é predominantemente masculino, tem de colocar o pé na porta. Isso é uma disputa de espaço que é muito desigual. Porque o sistema eleitoral não favorece a ocupação desse espaço, depende muito de uma determinação, de uma insistência. Para ter uma representação mais feminina, temos que ter uma cultura mais democrática, de distribuição de recursos onde se privilegie uma participação das mulheres.
Marília Campos (PT), de Contagem (MG)
É muito importante que uma candidatura como a minha, que sou mulher, negra e de periferia, esteja no primeiro lugar das pesquisas em Uberlândia. Segundo o TSE, de um total de 14.948 candidaturas a prefeituras em todo o Brasil, apenas 0,0090%, ou 136 delas, é de mulheres negras. Os números evidenciam que a política institucional ainda é um espaço quase não ocupado por mulheres negras, e eu estou aqui para mudar esta realidade.
Dandara Tonantzin (PT), de Uberlândia (MG)
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