Extremo leste de São Paulo tem 'bairros-pêndulo' em eleições desde 2010

Quatro zonas eleitorais de São Paulo espelham o resultado das eleições municipais e presidenciais — seja a vitória da esquerda, do centro ou da direita, desde 2010. A zona leste abriga três delas, que funcionam como "bairros-pêndulo".

O que aconteceu

O resultado das urnas do Itaim Paulista, de Guaianases e do Jardim Helena foi o mesmo que o geral nas últimas sete eleições. Com essa característica e abrigando o maior colegiado eleitoral da cidade (um terço dos eleitores), a zona leste tem concentrado boa parte das agendas dos candidatos à prefeitura.

Além dessas zonas eleitorais, Perus, na zona norte, espelhou os resultados dos últimos 14 anos. Nos quatro "bairros-pêndulo", Haddad (PT) venceu em 2012, João Doria (então no PSDB), em 2016, e Bruno Covas (PSDB), em 2020. Já nas eleições presidenciais Dilma (PT) venceu em 2010 e 2014, Bolsonaro (PSL à época), em 2018, Lula (PT), em 2022. O UOL analisou os dados das eleições de 1998 até 2022.

"Bairros-pêndulo" da cidade repetem a lógica dos "swing states" americanos. Nas eleições dos EUA, os "swing states" (estados-pêndulo) são aqueles nos quais não há maioria democrata ou republicana estabelecida. Em razão dessa característica, eles costumam ser decisivos para o resultado da disputa presidencial.

Com 725 mil eleitores, os quantro "bairros-pêndulo" só divergiram do resultado eleitoral em 2008. Naquela disputa municipal, Marta Suplicy (PT) venceu nas quatro regiões — mas Gilberto Kassab (então Democratas) ganhou a corrida pela prefeitura. Desde então, a cidade mantém o mesmo número de zonas eleitorais: 57.

Outro grande distrito da zona leste, São Mateus só não acompanhou o resultado geral das eleições em 2020. Naquela eleição municipal, 50,8% dos votos válidos nessa zona eleitoral foram para Guilherme Boulos (PSOL) e 49,2% para Bruno Covas.

Para analisar quais bairros seriam considerados "pêndulos", a reportagem levou em consideração os pleitos a partir de 2008. Antes desse período, 15 zonas eleitorais que existem hoje ainda não haviam sido criadas.

Especialista destaca diferenças entre eleições municipal e presidencial. Segundo o cientista político Marco Antônio Teixeira, numa disputa pela prefeitura, todas as alianças se dão a nível municipal — o que não acontece na corrida pela Presidência. Por isso, ele considera que o ideal é não comparar os dois tipos de pleito.

O espelhamento do resultado geral das eleições nesses 'bairros-pêndulo' pode passar por fatores como a presença de obras públicas, de grupos organizados politicamente -- como os evangélicos -- ou mesmo por uma maior diversidade no tipo de eleitores nessas regiões. Até o tamanho da população influencia.
Paulo Ramirez, cientista político e professor da ESPM

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Dizem que quem ganha em Minas ganha no Brasil, por ser um estado que tem partes que parecem com Centro-Oeste, Nordeste, Rio e São Paulo. Esses 'bairros-pêndulo' de São Paulo são regiões muito pobres, o que surpreende. Mas, de alguma forma, eles espelham a cidade como um todo com as suas características.
Marco Antônio Teixeira, cientista político e professor na FGV

Como votam os bairros paulistanos

Historicamente, a zona leste é uma das áreas mais disputadas de São Paulo. Marta (PT) ganhou em todos os bairros da região em 2000 e Doria, em 2016. Em 2022, Lula venceu em 14 das 22 zonas eleitorais em disputa nessa zona da cidade. Dos 9 milhões de eleitores no município, 3 milhões de eleitores moram na região.

Esquerda venceu 7 das últimas 13 disputas na zona sul. A vitória de Lula em 2022 quebrou uma sequência de quatro eleições em que o candidato da direita foi o vencedor na região. Em Grajaú e Parelheiros, o PT ganhou em todas as eleições desde 2000. Hoje, cerca de 2 milhões de pessoas vivem nessa parte da cidade — o segundo maior colegiado eleitoral.

Direita venceu maioria das eleições no centro. Segundo a Justiça Eleitoral, o candidato mais conservador venceu quase todas as disputas na 1ª (Bela Vista) e 3ª (Santa Ifigênia) zonas eleitorais desde 1998. As exceções são Marta Suplicy (PT) em 2000 e Lula em 2022, assim como Haddad (PT) em 2012 na Santa Ifigênia.

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Zona oeste é mais conservadora. Só Marta em 2000 venceu em todos os bairros da região. Em 2022, Lula venceu em Perdizes, Pinheiros e Rio Pequeno; Bolsonaro, no Jardim Paulista, Lapa e Morumbi. Com exceção dessas vezes e das vitórias de Lula em 2002 e de Haddad em 2012 no Rio Pequeno, a região sempre votou à direita.

Candidatos na periferia

Zona leste atraiu 24% das atividades de rua dos candidatos desde o início da campanha. De 16 de agostp até 24 de setembro, os concorrentes fizeram 74 eventos ao todo na região — entre caminhadas, visitas, carreatas e outras atividades.

Única área com maior número de agendas foi a zona sul, que recebeu os candidatos por 82 vezes no período. Reportagem do UOL mostrou que região acabou tendo protagonismo neste ano, já que 3 dos 6 candidatos mais bem colocados nas pesquisas moram ou fizeram do local seu berço político.

Boulos esteve 31 vezes na zona leste da capital, e Nunes marcou presençana região em 20 oportunidades. O candidato do PSOL priorizou caminhadas nas ruas de Cidade Tiradentes, Itaquera, Itaim Paulista e São Miguel. O atual prefeito visitou os bairros de Guaianases, além de Mooca e Belém, que ficam mais próximos do centro expandido.

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Atual prefeito e deputado federal foram os que mais saíram às ruas durante a campanha. Nunes teve 114 atividades no período, considerando suas agendas de prefeito e de candidato à reeleição. Já Boulos registrou 96 passeios. Tabata Amaral, do PSB (49), Pablo Marçal, do PRTB (31) e José Luiz Datena, do PSDB (19) circularam menos.

Região com voto mais conservador é a mais visitada por Nunes até agora. A zona norte apareceu na agenda de campanha do candidato à reeleição 31 vezes — Boulos esteve 12 vezes na região.

Disputa de 2024 começou com a periferia em destaque. Um interlocutor de Nunes relembrou que, historicamente, a direita começa suas campanhas no centro expandido para, aos poucos, alcançar a periferia — enquanto a esquerda fez o caminho inverso das vezes em que foi vitoriosa.

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